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O desemprego é um problema econômico sério e está entre os mais graves problemas sociais, razão por que os governantes procuram monitorar constantemente sua variação a fim de combatê-lo rapidamente. É também uma das variáveis econômicas mais difíceis em termos de obtenção de informações e indicadores precisos. No Brasil, os dados sobre o número de trabalhadores ocupados e as taxas de desocupação são especialmente problemáticos, em razão do elevado número de pessoas que atuam no mercado informal, sem carteira profissional e sem registro. As estatísticas ainda são prejudicadas por outros problemas, como o número de pessoas trabalhando em tempo parcial e os que trabalham para si próprios.

Em termos econômicos, alguém é considerado empregado sempre que esteja exercendo atividade produtiva, da qual resultem bens e/ou serviços para consumo próprio ou para oferta no mercado. Apesar dos problemas estatísticos, os órgãos oficiais responsáveis pelas informações sobre emprego e desemprego usam metodologias aprovadas por instituições internacionais e, mesmo que apresentem eventuais defeitos, a comparação entre períodos reflete o desempenho da economia com razoável grau de veracidade. O órgão principal de informação sobre o mercado de trabalho é o IBGE, cujas funções sempre foram desempenhadas com independência dos poderes constituídos e sob bases técnicas e científicas.

No ano passado, no entanto, a estatística sobre o desemprego foi objeto de polêmica, resultante da tentativa do governo de adotar algumas manipulações, a exemplo do que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinha fazendo com as contas fiscais. O IBGE é responsável pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) anual e, segundo foi noticiado, os senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Armando Monteiro (PTB-PE) pediram à presidente do órgão, Wasmália Bivar, mudanças no calendário de divulgação da pesquisa. Wasmália comunicou que a metodologia da pesquisa seria revisada de forma a levar em conta os questionamentos dos parlamentares. Foi o estopim de uma boa confusão.

A partir deste ano, o IBGE adotará periodicidade trimestral em pesquisa que abranja todo o território nacional, em lugar da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que cobria somente seis regiões metropolitanas. O que nem os senadores nem o governo contavam era com a reação dos técnicos do IBGE, que ameaçaram debandar em massa e levaram a presidente do órgão a recuar. Não é difícil entender a motivação (negativa) dos parlamentares apoiadores do governo em sua tentativa de interferir nos trabalhos do IBGE. A presidente Dilma Rousseff repetiu várias vezes que, apesar da crise e do pífio desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), seu governo conseguira segurar o desemprego brasileiro como um dos mais baixos do mundo.

O governo resolveu bater palmas a si mesmo em um assunto fartamente documentado na história econômica mundial: quando a economia entra em crise, com estagnação do PIB, o desemprego é o último pilar a ruir, mas é certo que também ruirá. A taxa de ocupação dos trabalhadores é função direta do nível de atividade econômica e não é difícil entender que, quando a produção cai, o número de trabalhadores ocupados cairá mais cedo ou mais tarde.

O IBGE divulgou, no início deste mês, que a taxa de desemprego ficou em 6,8% na média de 2014, e seria o menor índice desde 2012 (quando atingiu 7,4% no ano) e também abaixo dos 7,1% registrados em 2013. Esses dados geraram dúvidas no mercado, pois o PIB ficou parado em 2014, enquanto a população seguiu aumentando. Embora nos anos anteriores a taxa de crescimento do PIB também tenha sido baixa, as dúvidas ficam por conta de eventuais ajustes na metodologia de cálculo. O fato é que, embora o IBGE sempre tenha gozado de credibilidade, a interferência do governo sobre a presidência do órgão, a reação dos técnicos e de alguns dirigentes e as polêmicas envolvendo o assunto acabaram por lançar uma nuvem de dúvida sobre os indicadores anunciados.

Pode ser que os dados oficiais estejam corretos e, portanto, não deveria caber dúvidas sobre eles. Porém, as confusões armadas pelo governo, a interferência de parlamentares da base aliada e as maquinações costumeiras das autoridades econômicas fazem que, mesmo quando o governo está certo, os agentes econômicos fiquem desconfiados.

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