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Vemos diariamente, de forma inequívoca, docentes abandonando a carreira de professor. Quais seriam as razões para isso? Como vamos transformar o Brasil em uma potência mundial sem bons professores? As razões são conhecidas: salários aquém das necessidades mínimas, péssimas condições de trabalho, falta de reconhecimento da profissão e de planos de carreira que sejam atraentes para alguém dedicar 35 anos de sua vida a esse trabalho.

O governo federal vem contratando médicos estrangeiros por R$ 10 mil mensais (sem pagar Imposto de Renda, tendo auxílio-moradia e alimentação) para o programa Mais Médicos, mas o médico-professor, para trabalhar, precisa ter, além da graduação, residência (pelos menos dois anos), mestrado (três anos) e doutorado (cinco anos). E quanto ganha esse médico-professor? Um salário aviltante de menos de R$ 9 mil mensais, sem as benesses que recebe o médico estrangeiro. Não sou contra o médico (mesmo estrangeiro) receber R$ 10 mil mensais para cuidar da saúde da população. Ao contrário: merece mais, desde que quem o forme durante sua trajetória acadêmica – da pré-escola ao doutorado – também seja remunerado adequadamente.

Salário é um item importante, mas não é o único. E as condições de trabalho para os professores, como estão? Desde a pré-escola até os programas de doutorado, as falhas e as deficiências são inúmeras, gritantes, e se agravam com o passar do tempo. Que providências os governos federal, estadual e municipal têm tomado para reverter essa situação e criar condições e incentivos concretos que resultem em melhorias das condições de trabalho? O que vemos é a imprensa noticiando que os nossos "nobres" governadores querem diminuir o piso nacional de salário dos professores. Ora, por que não diminuir os salários dos senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores, que, salvo exceções, deveriam ter o seu salário reduzido pelo pouco que produzem e fazem pela sociedade?

O governo alega que tem investido na educação. Investir em educação é muito mais que o que foi feito no Reuni para o ensino superior. Fazer prédios ou aumentar vagas é necessário, mas insuficiente; é a parte mais fácil de ser feita, pois obras físicas rendem pomposas inaugurações para os políticos se locupletarem.

Os governantes continuam a pensar e agir como se formação e salário dos professores fossem despesa e não investimento. Muitas famílias descarregam seus filhos na escola como se ela fosse um depósito de alunos e para que a escola eduque e cuide de seus filhos, tarefa que é de pai e mãe. Parte dos jovens acha que não tem nada para aprender na escola e que os professores não são exemplo para nada, e por isso não há motivo para segui-los ou estudar de verdade. O professor, ao ver que nada vai mudar, busca a solução na porta de saída da escola. No mercado haverá melhor remuneração, maior reconhecimento, satisfação profissional, oportunidade de crescimento e respeito pessoal.

Sabe-se que os professores precisam melhorar e aperfeiçoar-se sempre. Aprender é uma tarefa do professor e da sociedade. O governo que não ignore os pleitos básicos e não trate a categoria como gente "que só reclama de barriga cheia". De bolso cheio podem estar os políticos, não os docentes. O governo deve dar condições de fato para que o ensino e a pesquisa mudem a vida das pessoas e da sociedade. O professor quer dar sua contribuição à sociedade. Basta ter as condições necessárias.

Moisés Farah Jr., economista, é professor do Mestrado Profissional em Planejamento e Governança Pública da UTFPR.

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