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Quanto vale um diploma? Quanto vale uma formação superior? Muitos diriam que um diploma não tem preço; outros, que o documento é o que importa. Para os jornalistas, um diploma é mais que um documento que representa uma titulação: é sinal de uma luta de anos pelo reconhecimento de uma profissão tão necessária para a democracia brasileira e para o desenvolvimento do país como o Direito, a Medicina ou as licenciaturas.

O ofício do jornalismo vai além da mera redação; estende-se para a produção da informação e o registro de um real só acessível a muitos de nós pelas páginas e sites de jornais. No entanto, há uma desvalorização histórica do fazer do jornalista que aos poucos parece estar sendo revertida. Vladimir Herzog foi morto durante a ditadura e tornou-se símbolo do jornalismo que vai até as últimas consequências em nome de um ideal. Talvez por isso a categoria não tenha esmorecido diante da queda da obrigatoriedade do diploma, decidida em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal.

De um lado, entendo os argumentos do STF, pois não é o diploma que faz o profissional; mas isso independe de profissão. No entanto, o jornalismo demanda muito mais que conhecimentos práticos – que são, ressalto, cruciais –; há saberes que só podem ser obtidos nos bancos escolares. Na rotina da redação, cada vez mais enxuta, raros são os momentos para discutir problemas socioeconômicos, pensar o cenário do digital e compreender a sociedade que se representa. Muitas vezes, as tendências jornalísticas implantadas por meio de projetos gráficos, de linguagem e textuais nada mais são que reflexos de dados coletados e produzidos por pesquisadores da área que, na academia, pensam o jornalismo e podem contribuir para que novos jornalistas tenham condições não de reproduzir práticas, mas de produzir conhecimento e informação de pertinência social.

A aprovação pelo Senado da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/2009, que torna obrigatório o diploma para o exercício do jornalismo, é um avanço no amadurecimento do país em termos de liberdade de imprensa. Pelo texto da PEC, colaboradores e comentaristas sem vínculo empregatício poderão continuar atuando, mas a reportagem, a pauta, a produção da notícia em essência, estas tarefas caberão ao profissional capacitado, com traquejo para ser "os olhos da nação", como já defendia Rui Barbosa.

Sinto-me feliz com a possibilidade de reversão da medida tomada pelo STF por dois motivos: primeiro, porque um curso de Jornalismo é um aprendizado sobre a sociedade, o nosso laboratório cotidiano: ruas, cidades, estados e, essencialmente, pessoas que abrem suas vidas. Segundo, porque desde 2009 em nenhum momento senti que minha formação havia sido em vão ou inócua, ainda que muitos preferissem perguntar para que serviria um diploma de Jornalismo. Acostumei-me a responder que um diploma, seja de Jornalismo, seja de Administração, não determina o homem, mas ajuda a construir suas bases.

Em um país que luta por democracia e igualdade de direitos, calar os jornalistas por meio do descrédito de sua profissão é o mesmo que optar pela volta da ditadura, em versão não física, mas a canetadas. Esperamos que os deputados tenham a mesma lucidez do Senado e apoiem a PEC, pois quem ganha é o ensino, é o jornalismo, mas, acima de tudo, é o cidadão.

Ana Paula da Rosa, jornalista, é coordenadora do curso de Jornalismo na Universidade Tuiuti do Paraná.

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