Israel é um Estado ocupante. Mesmo na Cisjordânia, que deveria ser território exclusivo dos palestinos, mantém mais de 250 colônias de judeus, na sua maioria ortodoxos, onde vivem mais de 700 mil pessoas. Não há perspectivas de desocupação pelo contrário: a colonização prossegue, construções de casas de luxo para judeus em meio às terras palestinas. Não há paz possível com essas atitudes.Mas, não bastasse isso, há os massacres. O mais recente, na Faixa de Gaza, matou em oito dias 162 palestinos, dos quais 37 crianças; deixou mil feridos e centenas de casas e prédios públicos destruídos. Foram precisos oito dias de ataques sanguinários para o mundo despertar e só assim ser assinada o que chamo de uma trégua e a mídia chama de um cessar-fogo. Israel, mais uma vez, sai derrotado. Neste caso, não só moralmente, mas agora militarmente, pois se viu atingido por mísseis que jamais sonhava que os palestinos tivessem.Não vejo outra saída para o conflito senão a troca de terras pela paz. Foi assim em toda a história dos conflitos da humanidade. Os povos que lutam pela sua terra só aceitam a paz quando conquistam seus objetivos. Por que seria diferente com os palestinos? Esse sofrido povo já perdeu demais. Hoje, são mais de 5 mil presos políticos. E 20% de todos os jovens já foram presos pelo menos uma vez na vida. A questão da Palestina, que já ultrapassa seis décadas, é o caso emblemático da tensa situação política que vigora hoje em todo o Oriente Médio. Desde que a ONU aprovou a partilha da Palestina histórica, destinando aos judeus que para lá imigraram 54% daquelas terras e aos palestinos, que lá moram há milhares de anos sem ter saído jamais, apenas 46%, a tensão só fez elevar-se.O Estado de Israel foi proclamado em 15 de maio de 1948, quando a Inglaterra encerrou o chamado Mandato Britânico sobre a Palestina. No entanto, o Estado da Palestina nunca foi estruturado. De lá para cá, as coisas só pioraram nesses 64 anos. A Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, fez ampliar as terras sob controle dos israelenses. Hoje, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, se viessem a constituir-se como território de um eventual Estado da Palestina, significariam apenas 20% de toda a terra palestina. Mas nem isso tem sido possível.A mesma ONU, que em 29 de novembro de 1947 partilhou a Palestina e determinou a criação de dois Estados, um árabe e outro judeu, recusa-se a cumprir sua própria decisão. Os palestinos, desde a Assembleia Geral de 2011, pediram a sua admissão como Estado membro, que teria o número 194. Mas, por pressão dos EUA e de Israel, que se recusa a aceitar essa solução, isso não tem ocorrido.Nesta semana mesmo, quando a Assembleia Geral da ONU deve votar até o dia 29 a admissão da Palestina como Estado observador do sistema das Nações Unidas, milhares de pessoas acorrem a Porto Alegre, onde abriremos o 1.º Fórum Social Mundial Palestina Livre. Mais de 50 países fizeram suas inscrições. Virão prestar sua solidariedade a um povo que busca a sua paz, só quer justiça e o seu sagrado e inalienável direito de retorno e autodeterminação. A história está com os palestinos; seu Estado nacional, mais dia menos dia, deverá triunfar na Palestina com sua própria bandeira. Mesmo a contragosto dos Estados Unidos e de Israel. Lejeune Mirhan, sociólogo, é escritor, professor e arabista.
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