• Carregando...

O único caminho que temos para provar algo é pelo método científico, conforme proposto por Galileu Galilei no século 16, o qual tem quatro etapas. Primeira: observar um fato concreto. Segunda: fazer uma pergunta sobre ele. Terceira: elaborar uma hipótese, ou seja, uma resposta à pergunta. Quarta: fazer uma experiência controlada e válida para confirmar ou negar a hipótese.

Há palavras que a população começa a usar em contexto diferente do científico, e assim seu significado popular acaba sendo modificado. Uma dessas palavras é "pesquisa". Hoje, qualquer um que faça perguntas ao público sobre um tema diz que está fazendo uma pesquisa. Se eu consulto três lojas para decidir onde comprar um produto, chamo isso de pesquisa. Um restaurante que consulta um punhado de clientes para descobrir seus gostos também diz estar fazendo pesquisa.

Em geral, esses casos se classificam como consulta, enquete ou sondagem, não uma pesquisa, no sentido científico do termo. Se perguntar a 100 pessoas de seu ambiente de trabalho em qual candidato irão votar, você estará fazendo uma consulta aleatória, cujo resultado não corresponderá ao conjunto dos eleitores do país. E por quê? Porque sua consulta não satisfaz o método científico.

Uma pesquisa somente pode ser considerada científica se a amostra for grande o suficiente em relação ao conjunto e se representar as características do todo. No caso de uma pesquisa eleitoral para saber qual candidato a presidente ganharia se a eleição fosse hoje, a amostra deve representar todas as regiões do país, todas as classes de renda, todas as faixas etárias dos eleitores, todas as diferenças de nível educacional e por aí vai. Além disso, o porcentual de cada característica da amostra deve corresponder ao mesmo porcentual que a característica tem no conjunto.

Exemplo: se 20% dos eleitores forem pobres, 20% dos eleitores da amostra pesquisada devem ser pobres. Se 30% são evangélicos, 30% da amostra devem ser evangélicos. E assim por diante. É exatamente nesse ponto que reside o problema: como muitas pesquisas eleitorais são feitas para efeitos de propaganda e não para descobrir a verdade, elas são "ajeitadas" para transmitir a informação que o pesquisador quer. Isso não tem nada de científico. Trabalhei oito anos no setor público e vi candidatos encomendarem uma pesquisa para uso próprio e outra para divulgar na mídia.

Galileu observou um fato concreto (o Sol nasce em um ponto da Terra e se põe em outro); fez uma pergunta sobre o fato (é o Sol ou a Terra que se move?); formulou uma hipótese (é a Terra que se move em torno do Sol); e fez vários experimentos científicos controlados para negar ou confirmar a hipótese. E veio a confirmação: é a Terra que se move em torno do Sol.

A Igreja não gostou e só não queimou o homem na fogueira porque ele retirou o que disse. A Igreja tinha uma opinião, uma crença, não uma verdade científica. O fato é que Galileu nos humilhou, pois nos tirou do centro do universo e provou que a Terra não era o centro do universo. E a humanidade teve de ceder às evidências científicas, inclusive a Igreja.

A maioria do que está por aí, no mundo da política e do marketing empresarial, pode ser classificado como sondagem, consulta ou enquete, mas não pesquisa. Mesmo não fazendo uso do método científico, as sondagens, consultas e enquetes são úteis, é claro. Elas orientam importantes decisões empresariais. Nada há de errado nisso. Mas saber distinguir uma pesquisa científica daquilo que não se classifica como tal é útil para evitar erros de avaliação e evitar tomar o falso como verdadeiro.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]