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O papel da universidade é plural e diverso, pois é conformado no mundo social por diferentes grupos. Tal observação reafirma o pressuposto sociológico de que a universidade e outras instituições são artefatos sociais que devem ser compreendidos como produtos da história humana. Além disso, é preciso dizer que tal história humana é perpassada por confluências e conflitos entre os mais variados estratos sociais, demarcada por conjunturas, isto é, pela própria temporalidade. Ou seja, a universidade é uma produção social e histórica; sua função social não está dada por uma definição natural.

A história universitária origina-se entre o fim do século 12 e o século 13, na Europa. Sua trajetória caminha em direção a uma história milenar. Entretanto, ao longo desse tempo, a configuração da universidade ganhou sentidos e significados diversos, o que caracteriza a própria ação dos grupos envolvidos com tal instituição. Ela nasce das corporações de estudantes e professores e chega ao controle dos Estados nacionais e dos grandes conglomerados empresariais do século 20. Por tais metamorfoses já é possível postular a dificuldade para se chegar a uma definição uníssona do papel social da universidade.

No Brasil, a história da universidade é secular, pois as experiências universitárias tardaram a ganhar materialidade; apenas no fim da década de 1820 foram estabelecidas escolas de ensino superior. A tônica dessas experiências do século 19, no Brasil, consistiu na criação de escolas e faculdades isoladas e de formação profissional de médicos, engenheiros e bacharéis em Direito. No século 20, na história do ensino superior brasileiro, conformaram-se, propriamente, as experiências universitárias. A rigor, em princípio, tais experiências manifestaram a cultura de escolas ou faculdades, pois, por meio de decretos ou leis, foram reunidas instituições isoladas em torno do nome "universidade".

Por outro lado, é possível sustentar que ao longo do século 20 a história do ensino superior, incluindo a da UFPR, caminhou em direção ao processo de constituição de uma certa identidade de universidade, particularmente ao consolidar cursos de graduação em diversas áreas, assim como projetos e programas de extensão e pós-graduação, cuja expressão é a organização de uma política universitária fundada no ensino, na pesquisa e na extensão.

A comemoração dos 100 anos da UFPR, criada por um grupo de políticos e intelectuais em 19 de dezembro de 1912, deve instigar a todos a comemorar as ações empreendidas em defesa dessa instituição secular, mas deve também inspirar reflexão e discussão a respeito do papel social da universidade no século 21. Nesse sentido, é fundamental perguntar-se: que funções ela pretendia exercer e que funções ela exerceu? E que funções ela deve exercer no início de um novo milênio e de um novo século?

Em sentido rigoroso, as funções da universidade são plurais, mas é possível afirmar que a sua principal atribuição é pensar a si mesma, isto é, refletir sobre sua própria função social. Talvez isso caracterize a própria condição humana – pensar-se. E tal exercício deve ser permanente, pois, tal qual o destino de Sísifo, o pensar e o refletir precisam ser feitos e refeitos.

Névio de Campos, doutor em Educação pela UFPR, é professor do programa de pós-graduação em Educação e do mestrado em História da UEPG.

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