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Nossos netos não saberão de onde veio o dinheiro de Bill Gates. É mais provável que conheçam o megaprogramador pela revolução que iniciou nesta semana. Sua fundação desafiou acadêmicos do mundo inteiro a reinventar o vaso sanitário. Na terça-feira foi anunciado o vencedor (o CalTech), com um projeto de vaso sanitário tocado a energia solar que produz hidrogênio e esterco. A próxima etapa é implantar um piloto dentro de dois anos.

A priori, parece simples. Inventemos um jeito menos poluente de nos livrarmos das fezes e da urina e o problema estará resolvido. Ou não?

Apesar de a intenção de Gates ser a melhor – e também a maior – do mundo, ainda não será este complexo modelo de vaso sanitário que irá substituir nosso tão querido companheiro, aprimorado nos últimos 5 mil anos. Meu blog (http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com.br) tem um link interessante para conhecer os detalhes desta história milenar.

O sanitário nerd do CalTech, aliás, lembra um tanto a famosa criação de seu benfeitor. Tem uma célula solar, um tanque eletrostático, válvulas a serem acionadas. Até imagino, vez ou outra, o usuário tendo de reiniciar o sistema. Este sanitário enfoca na parte líquida do resíduo, esquecendo que o lodo também pode transmitir doenças. O tanque que eles usaram para decantação, de uns 100 litros, não aguentará uso real. Para decantar bem a coisa, ele precisaria ser umas dez vezes maior.

Os 40% da população mundial que não dispõem adequadamente suas fezes e sua urina são muito variados em seus perfis. Há desde aqueles moradores que vivem em uma cidade organizada, pagam sua taxa de esgoto, mas a empresa coletora termina por lançar estes resíduos in natura, até os usuários de "sanitários voadores" – nome eufemístico dos sacos plásticos jogados por todos os lados em algumas favelas africanas, haitianas e nordestinas. Também coloquei em meu blog um vídeo interessante de uma dupla de africanos contando esta história, em um misto de desgraça e riso tão comum para nós, brasileiros.

Para resolver um problema tão variado, precisamos sentar com estas pessoas e desenvolver soluções adaptadas. Os moradores da cidade não quererão pagar por uma reforma complicada para instalar este sistema, enquanto os realmente despossuídos terão dificuldade em operá-lo.

Apesar das críticas, daqui por diante ficarei mais calmo com as falhas do meu computador. Ao menos parte do meu dinheiro está sendo gasto para pensarmos no pior e mais desprezado problema de todos.

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