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O evento que marcou os 15 anos do movimento “O Paraná que Queremos”, promovido pela Subseção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), nesta sexta-feira (14), foi marcado por discursos em defesa da transparência na gestão pública e da liberdade de expressão.
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O movimento foi encabeçado pela OAB-PR em 2010 após a divulgação da série de reportagens “Diários Secretos”, um trabalho jornalístico resultado da parceria entre o jornal Gazeta do Povo e a RPCTV.
Em sua participação durante a cerimônia, o presidente do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), Guilherme Döring Cunha Pereira, classificou o movimento como um “momento de heroísmo, desprendimento e civismo indiscutível”.
Ao homenagear os jornalistas que trabalharam na série de reportagens, ele afirmou ser inaceitável “a omissão sistemática dos homens de princípios” frente a “barbaridades”, como as reveladas pelos “Diários Secretos”.
“Esse é o verdadeiro problema. Vivemos hoje um momento de singular desordem institucional, de crises democráticas sem precedentes, em que os princípios mais elementares do devido processo legal, do Estado Democrático de Direito, da liberdade de expressão, são sistematicamente violados. Sob a capa de defesa da democracia, vilipendia-se a democracia de uma maneira inimaginável, pouco importa se de boa ou má-fé. E em que as reações são tímidas, quando existentes”, alertou.
"Reação da OAB-PR foi absolutamente necessária", disse ex-presidente da Ordem no estado
À Gazeta do Povo, o ex-presidente da OAB-PR e um dos responsáveis pela criação do movimento “O Paraná que Queremos”, José Lúcio Glomb, disse que a reação da entidade foi uma medida “absolutamente necessária” dada a gravidade das denúncias exibidas na série de reportagens.
O advogado ainda ressaltou que o combate à corrupção precisa existir a todo tempo e lugar, uma vez que “é algo que não é de hoje, e não existe só no Brasil”. “Nós, como sociedade, deveríamos ser mais rigorosos e termos ferramentas mais claras para não permitir artifícios que permitam a absolvição de pessoas que confessadamente praticaram o crime de corrupção”.
Em sua fala no evento, Glomb avaliou que a participação da OAB-PR na repercussão dos “Diários Secretos” deu uma dimensão maior às denúncias apuradas pelas reportagens. “O papel da Ordem foi importantíssimo, e eu digo que a união de todos nós é que fez acontecer aquele momento histórico”, declarou.
"Diários Secretos" escondiam casos de desmando e corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná
Em março de 2010, a Gazeta do Povo e a RPCTV deram início à publicação de uma série de reportagens que revelaram vários casos de desmando e corrupção na alta cúpula da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Os desvios sistemáticos de recursos públicos descobertos pelo jornal em parceria com a TV eram acobertados pelos “Diários Secretos”. As denúncias completam 15 anos neste mês e são apontadas como um marco no combate à corrupção no Paraná pela seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no estado (OAB-PR).
Nos atos oficiais “escondidos” pelo Legislativo estavam mais da metade das ordens de demissões e contratações emitidas pela Alep entre os anos de 2006 e 2009. As nomeações e exonerações de funcionários comissionados - que em muitos casos nem sequer sabiam dos valores depositados em contas abertas em seus nomes - foram impressas em edições avulsas do Diário Oficial da Alep, as quais nunca haviam se tornado públicas até a divulgação das reportagens.
Em outros casos, os “funcionários fantasmas” concordaram em participar do esquema fraudulento em troca do recebimento de apenas uma parte dos salários. Denúncias de novos casos também chegaram a ser descobertas anos após a publicação das primeiras reportagens. A estimativa de desvios em salários de funcionários que nunca trabalharam na Alep chegou a R$ 30,7 milhões em cifras da época, o equivalente a quase R$ 90,5 milhões em valores corrigidos.
Em resposta à indignação popular motivada pelos casos de corrupção, a seccional Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) encabeçou o movimento “O Paraná que Queremos”, que agregou centenas de entidades em defesa da transparência na gestão pública. O ato símbolo da mobilização ocorreu em junho daquele ano, reunindo milhares de pessoas na Boca Maldita, em Curitiba.
O trabalho dos jornalistas da Gazeta do Povo e da RPCTV na série de reportagens "Diários Secretos recebeu honrarias como o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Tim Lopes da Embratel, em 2010. No ano seguinte, conquistou o prêmio de Melhor Reportagem Investigativa Latinoamericana, no Equador, e o “Global Shining Light Award”, na Ucrânia.
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