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BR-163: duplicação de 74 km consome R$ 592 milhões e segue travada há oito anos
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A rodovia BR-163, que atravessa o Brasil de Norte a Sul, é considerada como prioritária para o escoamento da produção de grãos. É no Paraná que a BR-163 concentra um trecho complicado, de 74 quilômetros entre as regiões oeste e sudoeste do estado, que acumula promessas de duplicação, mas segue inacabado. Apesar de não ser tão longo, o percurso é suficiente para travar a logística e somar prejuízos. Enquanto isso, o leito antigo da rodovia, para onde o tráfego é canalizado, está sem conservação e deteriorado.

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O consultor em Infraestrutura e Logística da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), João Arthur Möhr, lembra que se trata de uma obra que deveria estar pronta há muito tempo e que tanto a paralisação da duplicação quanto as más condições do trecho em uso da BR-163, no leito antigo, são tratados com preocupação pelo setor produtivo.

“Esse é o pior trecho de rodovia federal do Paraná, o que vai de Cascavel a Realeza e se trata de uma importante rodovia para o estado com obras que se arrastam há tantos anos. É um importante canal ligando, inclusive, Paraná com Santa Catarina, onde estão dois grandes produtores nacionais”, destacou Möhr. Ele defende um movimento político para a retomada e conclusão da obra.

As más condições e a não conclusão da duplicação da BR-163 têm sido tema frequente em reuniões de líderes políticos regionais, como os prefeitos na Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop). Apesar de uma comitiva dos chefes do Executivo regional, na área da Amop, estarem em Brasília nesta semana, o assunto não deverá entrar em pauta neste momento. Um grupo de gestores do oeste do Paraná se organiza para ainda neste mês, junto ao governo federal, reforçar o pedido para retomada dos trabalhos.

A Associação dos Municípios do Paraná (AMP) também tem tido a rodovia nas pautas frequentes de logística. O presidente da associação, o prefeito de Jesuítas Junior Weller (MDB), e comitiva estiveram na capital federal, em fevereiro, pedindo apoio ao deputado Sergio Souza (MDB) para a retomada dos trabalhos.

Idas e vindas

A BR-163 começou a ser duplicada em 2015, no trecho do Paraná com fluxo intenso por onde trafegam, em média, nove mil veículos por dia, segundo levantamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ainda segundo o Dnit, 70% são caminhões.

De responsabilidade do governo federal, por meio do Dnit, a promessa de conclusão dos trabalhos era para três anos depois. Desde então, passou pelos governos de Dilma Rousseff, de Michel Temer, de Jair Bolsonaro e agora Luiz Inácio Lula da Silva.

A expectativa é que a BR-163 tenha os canteiros de obras retomados, conforme anunciado pelo atual governo. A rodovia entrou para a lista das obras prioritárias no plano dos 100 primeiros dias de governo, mas ainda há dúvidas sobre a sequência dos trabalhos.

Em um trajeto de cerca de 30 quilômetros, não sequenciais, a pista duplicada foi liberada para o tráfego. Eles estão na altura dos municípios de Cascavel, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Santa Lúcia e Capitão Leônidas Marques. Em outros 20 quilômetros, passando pelos mesmos municípios, a duplicação foi feita, mas segue interditada por falta do chamado agulhamento, sinalização sem a qual a BR-163 não pode ser utilizada.

Em outros 23 quilômetros - quase um terço do inicial previsto para a duplicação - houve pouco avanço. O percurso mais longo sem obras está entre os municípios de Capitão Leônidas Marques e Realeza. Ainda é preciso destinar orçamento e uma nova licitação para só então reiniciar os trabalhos. A Superintendência do Dnit não informou à reportagem os valores calculados. O setor produtivo regional calculava ao menos R$ 130 milhões, em levantamento prévio considerando o reajuste de contrato e o percentual de obras a serem concluídas.

Leito antigo destruído

Ruim com o trecho já duplicado, pior no leito antigo da rodovia. Buracos, ondulações gigantescas, deformidades e falta de sinalização custam caro para a manutenção. A situação piora no percurso em que o tráfego se afunila em pista simples. O tráfego de caminhões carregados e a falta de manutenção tornam a rodovia um desafio logístico.

A situação crítica tem levado uma parcela dos motoristas a se arriscarem e seguirem viagem no trecho duplicado não liberado para passagem. Onde o fluxo segue lentamente, caminhões, veículos de passeio e ônibus se aventuram em um trajeto mal conservado, com muitos buracos.

Estes quase 74 quilômetros estão entre os municípios de Cascavel (oeste) e Realeza (sudoeste do Paraná). Juntas, as duas regiões são as maiores produtoras agropecuárias do estado, com escoamento para o Brasil e para o exterior. “Está cada vez mais difícil, a gente não faz uma viagem sem quebrar alguma coisa, estourar um pneu”, contou o caminhoneiro Sandro Santos que está há 40 anos no trecho. “Eu rodo o Brasil inteiro, mas essa é uma das regiões em que a BR-163 está em pior condição”, completou.

Trajeto percorrido pela BR-163

A duplicação da BR-163 entre Cascavel e Realeza tinha orçamento inicial previsto em R$ 549 milhões, mas já consumiu R$ 592 milhões. A reportagem da Gazeta do Povo questionou sobre o valor final ao Dnit, mas não obteve retorno até esta publicação.

O projeto havia sido anunciado como inovador, com asfalto de concreto que propiciaria melhores condições de trafegabilidade. A realidade é que já é possível encontrar deformidades, inclusive na pista recente construída. O trecho entre os quilômetros 197 (Cascavel) e 123 (Realeza), totalizando 74 quilômetros, foi integralmente percorrido pela reportagem da Gazeta do Povo. Foram necessárias quase duas horas de viagem.

Pelo caminho foram encontradas filas intermináveis e veículos com defeito às margens da rodovia. A insegurança também chama atenção. No sentido oeste/sudoeste não há terceiras faixas e, apesar de ser uma estrada com pontos sinuosos, falta sinalização, tanto horizontal quanto vertical.

16% da obra na BR-163 inacabada

O consórcio que estava responsável pelos serviços concluiu 84% da duplicação e, para os 16% restantes na BR-163, a Superintendência do Dnit no Paraná afirma que terá de haver uma nova licitação. As equipes técnicas vão avaliar o que será preciso na obra que entrou para o plano emergencial dos 100 primeiros dias do governo federal.

Não há previsão de quando a licitação deverá ocorrer. “Sabemos, portanto, tratar-se de obra prioritária para o atual governo. A Superintendência do Dnit no Estado do Paraná discute, neste momento, possíveis linhas de ação a serem tomadas, as quais necessitam de levantamentos de campo, atualização de projeto e de orçamento dos segmentos remanescentes, para a subsequente contratação de novas empresas e retomada das obras, obviamente condicionada ao devido e indispensável amparo orçamentário-anual”, alertou a Superintendência em nota.

“Com os agulhamentos previstos no Contrato 09 489/2022, planeja-se concluir 9 novos segmentos, perfazendo a extensão total de 23,020 quilômetros de novas pistas duplicadas”, completou o Dnit. Desses segmentos, o órgão destacou que nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2022 foram liberados ao tráfego 12,5 quilômetros de novas pistas.

Ponte inoperante de R$ 20 mi

Há outro impasse: a obra da ponte sobre o Rio Iguaçu, no município de Capitão Leônidas Marques, no oeste do Paraná. A estrutura passa sobre um dos rios mais importantes do país, que deságua nas Cataratas do Iguaçu, no município de Foz do Iguaçu.

Apesar de aparentemente pronta, a ponte sobre o Rio Iguaçu ainda não está liberada pela passagem. Custou aos cofres públicos, à época, quase R$ 20 milhões. “A ponte deve ser liberada em breve, assim que concluídos os serviços de recomposição do greide [inclinação do eixo da estrada] originalmente projetado, no encontro da ponte com o aterro”, informou o Dnit, sem estipular data.

Após uma série de questionamentos enviados pela reportagem, o Dnit limitou-se a informar que mais detalhes sobre a rodovia são aqueles “amplamente divulgados pelo sítio eletrônico do Ministério dos Transportes, bem como a apresentação do Plano de 100 dias”, indicando o link para acesso das obras previstas. Nele não há, no entanto, detalhamentos para destinação por obra: informa que todas as listadas como prioritárias contarão com aporte de R$ 1,7 bilhão, até abril deste ano.

O Dnit também não informou se a pista em uso, no leito mais antigo da rodovia, passará por melhorias de maior porte nos próximos meses. No dia que a reportagem percorreu o trecho, encontrou uma equipe de manutenção fazendo serviços pontuais.

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