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A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) comemorou, na noite desta quinta-feira (2), seu centenário com o lançamento do livro “De olhos abertos e pés no chão” e a abertura da exposição interativa “Trem Melhor”, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. O evento, realizado no Auditório Ibirapuera, reuniu cerca de 600 convidados, entre empresários, intelectuais e convidados ligados à história da companhia.
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A programação de comemoração foi iniciada pelo discurso de Guilherme Afif Domingos, secretário extraordinário de Projetos Estratégicos do governo do estado de São Paulo e ex-secretário estadual de Agricultura e Abastecimento na década de 1980. Afif falou sobre como a história da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná está ligada ao desenvolvimento agrário na região norte do Paraná, que se assemelha ao estado de São Paulo.
"Conheço muito bem a raiz, a história e como foi implantada a estrutura no estado, através da iniciativa privada dos capitais ingleses e canadenses. Cem anos de uma empresa no Brasil não é fácil, é uma história digna de ser contada, de trabalho, de empreendedorismo e respeito ao próprio meio ambiente", declarou.
A cerimônia foi marcada pela conversa, mediada pelo publicitário Luiz Lara, entre os coautores do livro sobre os cem anos da empresa: Gastão de Souza Mesquita, mais conhecido como Tatão, presidente da CMNP e neto do fundador Gastão Mesquita Filho; e Jorge Caldeira, historiador e escritor membro da Academia Brasileira de Letras.
Eles falaram sobre a obra que conta como, em um século, a empresa que começou como plantadora de algodão se tornou uma construtora ferroviária, uma fábrica de pequenas propriedades, um conglomerado de indústrias de base e uma referência no uso da tecnologia no agronegócio.
A pesquisa feita com base em relatos e documentos durou seis anos e, além de parentes da família Mesquita, foram entrevistados integrantes da família Vidigal e funcionários da empresa, revelando histórias desconhecidas pelos próprios donos do negócio. "A gente já conhecia muito da história oral contada pela família, mas o Caldeira foi pesquisar o que estava acontecendo antes de os ingleses decidirem investir aqui no Brasil. Eles foram para a Escócia, para Londres, trouxeram muito material e histórias novas", disse Gastão Mesquita Filho, diretor da CMNP e filho de Gastão de Souza Mesquita.
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Exposição traz vagões sobre passado, presente e futuro
No encerramento da cerimônia, o público foi convidado a participar da sessão de autógrafos do livro e a embarcar em uma viagem simbólica de trem, na mostra "Trem Melhor". Dividida em três vagões interativos, a experiência conduz os visitantes por passado, presente e futuro da região norte do Paraná e da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.
No primeiro vagão, móveis, fotos e jornais do início do século XX apresentam os pioneiros que deram origem ao projeto privado de colonização considerado um dos maiores do mundo. O vagão seguinte destaca as transformações sociais e econômicas que levaram a região a responder hoje por 21,4% do PIB do Paraná. Já o terceiro vagão propõe um jogo interativo que estimula reflexões sobre desenvolvimento sustentável.

“O que mais me tocou foi a enorme consciência que a empresa tinha, desde o início, da importância histórica do que estava fazendo. Talvez porque eram pessoas indo para um lugar novo, distante, praticamente virgem. E talvez também pela cultura desses colonos, que entendiam que estavam promovendo uma mudança radical, algo muito grande: fundar", disse o curador Marcello Dantas.
"O ato de fundar, de lançar pedras fundamentais, com consciência histórica e registrando isso, permite que depois possamos contar a história. Foi por isso que escolhemos o trem como símbolo dessa narrativa, ele é um meio que carrega passado, presente e futuro ao mesmo tempo", complementou.
Reestruturar para deslanchar
A história da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná deu origem a 63 municípios no Paraná e teve como protagonistas quatro gerações de uma família que, ao lado de sócios e parceiros, precisou se reinventar diante de guerras, crises e mudanças legislativas.
À Gazeta do Povo, Gastão de Souza Mesquita, o Tatão, falou sobre um dos momentos mais marcantes em sua trajetória pessoal na empresa. Em maio de 1994, quando o país enfrentava uma hiperinflação que chegava a 4.900% no acumulado de 12 meses, houve uma cisão na qual os ativos industriais ficaram com a família Vidigal, sócia da famíilia Mesquita.
"Teve um momento que eu falei para o meu pai: o sócio saiu com o melhor negócio que nós tínhamos, e agora? Ele falou: faça o que tem que ser feito. Precisamos fazer uma reestruturação, um enxugamento um pouco antes do Plano Real. Foi difícil, complicado, pesado, duro, sofrido, mas foi o que permitiu estarmos aqui hoje. Acabamos com os nossos negócios em café, mas foi necessário. Reestruturou para deslanchar", disse Gastão de Souza Mesquita.
No momento, a empresa que tem como cultura reinvestir cerca de 75% do lucro todos os anos enfrenta novos obstáculos. "O ano do centenário é um ano desafiador. Estamos tendo de fazer uma ginástica muito grande para conseguir enfrentar esse momento, de trabalhar custos porque as margens estão muito mais apertadas. Estamos com preços de açúcar e etanol um pouco mais baixos e essa situação de juros e Custo Brasil tão altos trazem ainda uma dificuldade muito grande de empregar pessoas", disse Gastão Mesquita Filho.
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