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Pequenos produtores de feijão no interior do Paraná descobriram no cooperativismo a chave para crescer. Diante da dificuldade de competir sozinhos em um mercado dominado por grandes grupos, a associação às cooperativas garante a continuidade da produção.
Com apoio técnico, investimento em qualidade e logística planejada, a produção ganhou escala e valor. É desta forma que sacas de feijão colhidas em propriedades de poucos hectares cruzam fronteiras e abastecem países da América Latina.
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A força da organização coletiva aparece nos resultados. “Atendemos também o pequeno produtor, aquele com 20 ou 30 hectares. No ano passado, só com feijão preto, exportamos 25 mil sacas — o que equivale a 1,5 mil toneladas”, afirma Almir Sauthier, gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial Tradição.
Além da escala, o cooperativismo oferece segurança em um mercado volátil. “A união melhora o acesso a insumos, crédito e compradores. Com a cooperativa, ganhamos força e posição no mercado”, destaca o agricultor Silvio Hasse, produtor em Pato Branco, no sudoeste do Paraná, filiado na Cooperativa Agroindustrial Tradição.
Apesar do risco envolvido na produção do feijão, o produtor segue firme. “A lavoura de feijão é incerta. Pode chover demais, o preço pode cair. Se a produção está boa, o comprador aparece na lavoura, mas se está ruim, se há muita umidade, ninguém se interessa. Por isso sigo uma regra: cooperativa sempre. Ela me dá base para continuar plantando meus 30 hectares todos os anos”, diz Hasse.

Cooperativismo impulsiona exportação do feijão no Paraná
Com a exportação, a confiança no negócio se fortalece. “Levar nosso produto para fora do Brasil é um orgulho. Alimentamos nosso povo e outras nações. No caso do feijão preto, a exportação é essencial, já que o consumo interno é menor”, afirma o produtor Hasse.
O cooperativismo ajuda onde o produtor mais precisa: na venda da safra. “Comercializar é mais do que vender. É garantir mercado, preço justo e voz ativa ao agricultor. Quando feita pela cooperativa, a venda vira estratégia e proteção”, avalia o gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial Tradição
Também do sudoeste paranaense, Alisson Deliberalli planta feijão em uma área de 50 alqueires, no município de Renascença. O agricultor é mais um membro da Cooperativa Agroindustrial Tradição, há mais de 10 anos, e conta com a estrutura para a venda da produção.
"Os armazéns estão sempre cheios, colocam pouco valor na colheita da gente. Com a cooperativa, a gente sabe que será o justo do mercado. Como representa mais produtores, a cooperativa tem mais força para negociar os preços, e a gente só ganha com isso", diz Deliberalli.

Sudoeste responde por 40% da área de feijão do Paraná na 2ª safra
O Paraná sustenta a tradição de maior produtor de feijão do Brasil desde a década de 1990. O estado é responsável por abastecer mesas em todo o país e atender diversos paladares, com diferentes cultivares da leguminosa.
De acordo com o Boletim de Conjuntura Agropecuária do Departamento de Economia Rural (Deral), a produção em 2025 deve alcançar 865 mil toneladas, em uma área de 332,6 mil hectares. A região sudoeste do território paranaense é responsável por uma área de plantio que corresponde a 40% do que é produzido no estado, na segunda safra, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe).
As chuvas em excesso prejudicaram o desenvolvimento na região. Mesmo assim, especialista apontam para uma safra bastante expressiva. "A oferta expressiva já pressiona os preços. A exportação nesse mesmo período, no ano passado, passou de 15 mil toneladas por mês e agora caiu para 5 mil toneladas. Não temos uma exportação com muita sustentabilidade", pondera o agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho.
De acordo com ele, fenômenos climáticos em outros países no último ano contribuíram para que importassem do Brasil. "Mas a aceitação do nosso produto é uma construção. São mercados que ainda estão sendo abertos. Porém, mesmo com a queda na exportação, o volume é importante, em comparação com anos anteriores", avalia o agrônomo.
Mesmo com os desafios, de acordo com o Deral, o Paraná cultiva feijão em três safras ao longo do ano:
- A primeira, chamada “das águas”, vai de setembro a janeiro
- A segunda, “da seca”, de fevereiro a junho
- A terceira, “de inverno”, ocupa o período de de julho a setembro
Paraná busca crescimento na exportação
Nos últimos anos, o estado do Paraná ampliou participação no mercado externo. O Sindicato e Organizações das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) e o governo estadual firmaram estratégias para ampliar a exportação do grão.
Os resultados já aparecem. Em 2024, o Paraná exportou 71 mil toneladas de feijão, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O número é expressivo: mais de cinco vezes superior ao volume exportado em 2023, que foi de apenas 10 mil toneladas.
Dois países puxaram esse crescimento. A Venezuela comprou 25 mil toneladas, enquanto o México adquiriu outras 21 mil. A Índia também aparece como compradora, com 4 mil toneladas do feijão paranaense.
No entanto, o líder nacional em exportações é o Mato Grosso. Em 2024, o estado enviou 128 mil toneladas ao exterior, sendo mais da metade destinadas ao mercado indiano.
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