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O agricultor e feirante Dario Delgado Gracia comercializava apenas produtos que fossem bons e saudáveis o suficiente para que servisse à própria família. Esse era um dos principais motivos pelos quais ele optou pelo cultivo de verduras, frutas e legumes orgânicos. Foi um dos primeiros vendedores de orgânicos na Feira do Passeio Público, no início dos anos 2000, e ajudou a fundar o circuito de comercialização da Rede Ecovida em 2006, que organiza famílias e entidades produtoras e garante que os agricultores estejam seguindo os meios agroecológicos de produção. Dario faleceu no dia 10 de novembro, devido a uma úlcera no estômago, aos 59 anos.
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Apesar do pai ter trabalhado no campo na Espanha antes de imigrar para o Brasil com a esposa, Dario, nascido e criado em Curitiba, só passou a ter contato de fato com a terra quando decidiu cursar Agronomia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Paralelamente, tocava clarinete e cursou Música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), mas acabou formando-se agrônomo. Ele compreendia e respeitava os processos da terra, algo essencial para quem trabalha com agroecologia, um sistema de produção que não utiliza agrotóxicos e preza pelo cultivo aliado ao equilíbrio ambiental, à sustentabilidade e à viabilidade econômica e social.
Há pouco mais de 20 anos, decidiu que deveria fornecer à comunidade alimentos de alto valor nutritivo e livres de químicos nocivos, por isso comprou uma chácara em Bocaiúva do Sul, perto de Curitiba, e passou a dedicar-se totalmente ao plantio de orgânicos. O foco da produção sempre foram as hortaliças, como alface, cenoura, brócolis, entre outras, mas a propriedade passou por diferentes fases, agregando outros alimentos. Durante um período, por exemplo, a chácara foi a maior produtora de tomate orgânico da região de Curitiba. Também experimentou o cultivo do morango e, mais recentemente, do milho, que ainda vai ser colhido.
Dario Gracia levava o estilo de "vida orgânica" a tudo
“Ele não tinha medo de arriscar e fazer experiências, porque entendia muito do solo”, conta a esposa Angela Kikumoto Gracia. Com uma energia que deixava os mais jovens embasbacados, estava sempre inserido em novos projetos e fazendo planos. Alguns dos mais recentes envolviam a criação de abelhas e galinhas, mas eram tantos e desenvolvidos com tanta agilidade que a família nem sempre conseguia se manter a par. Acordava de madrugada todos os dias para trabalhar bem-humorado e em um ritmo surpreendente. Amava caminhar, e sempre que tinha tempo resolvia as burocracias da vida cotidiana, como ir ao banco, sem utilizar carro.
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Participou do crescimento do setor de orgânicos em Curitiba ao fazer parte de organizações de produtores como a Cooperativa de Orgânicos COAOPA, a Associação Paranaense de Agroecologia (AOPA) e a própria rede Ecovida. Devido a uma luta constante e conjunta, hoje os alimentos produzidos no Paraná integram o circuito de comercialização nacional. Quando começou a trabalhar nas feiras, não havia tanta produção de orgânicos e era necessário - ainda mais do que atualmente - explicar aos consumidores do que se tratava a produção sem agrotóxicos.
Além da Feira Orgânica do Passeio Público, o Vale do Encanto Produtos Orgânicos, de Dario, participa das feiras da Praça do Japão e do Cristo Rei, entrega e fornece alimentos a estabelecimentos. “Para ele [a feira] era muito mais do que trabalho. Ele ia lá para conversar com as pessoas, para se relacionar com o público”, lembra o filho Denis Delgado Kikumoto Gracia. Carismático, transmitia alegria e construía uma relação com os clientes e com as pessoas que trabalhavam ali. Praticava a solidariedade ao doar alimentos a entidades que distribuíam refeições e a comunidades indígenas. Quando as organizações não tinham como buscar, ele mesmo entregava as doações.
A raiz espanhola se manifestava ao servir paella aos amigos em casa e ao produzir embutidos espanhois como o chorizo. Dario, que amava viajar, planejava percorrer a América Latina com um motorhome depois de aposentado, repetindo uma viagem inesquecível feita em família no final dos anos 1990. Em cinco pessoas, incluindo os dois filhos pequenos, Denis e Henrique, passearam sem roteiro pré-planejado por destinos como Ushuaia e Mendoza, na Argentina. Em outras oportunidades, visitaram Chile e Uruguai.



