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Economia paranaense
No agronegócio, produção de proteína animal e de grãos registra ganhos com exportações.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo Gazeta do Povo

A economia paranaense está retomando gradualmente o seu nível de atividade, liderada pelo agronegócio e pelo comércio. Mas, um dos principais desafios é o de lidar com dificuldades no suprimento de insumos e matérias-primas, aponta o Boletim de Conjuntura Econômica do Paraná, produzido pelo Estúdio de Economia e Finanças da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

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Puxada pela crise gerada pela pandemia da Covid-19, o PIB paranaense encolheu 2,45% no primeiro semestre, comparativamente a igual período de 2019. Mas, de lá para cá, a atividade econômica vem se recuperando: em agosto, a indústria já estava produzindo em um ritmo superior ao do início do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E as vendas no comércio seguiram essa tendência.

“A retomada, no Paraná e no país, impacta em problemas de desabastecimento de suprimentos para a indústria e comércio, decorrente do desalinhamento das cadeias produtivas, quando os estoques intermediários foram consumidos e a produção de artigos finais para abastecer o mercado fica limitada pelas dificuldades de suprimentos”, afirma o professor Wilhelm Meiners, coordenador do estúdio.

Problemas chegaram a acontecer na indústria moveleira, com a dificuldade no recebimento de chapas de madeira; na indústria metalúrgica, com a falta de chapas metálicas; na construção civil, com problemas na entrega de cimento e materiais; e no comércio atacadista e indústria em geral, com dificuldades no suprimento de embalagens de plástico e papelão.

A decorrência disto, segundo o professor da PUC-PR, é o encarecimento dos preços aos produtores, o que acaba gerando tensões inflacionárias.

Os alimentos puxam a indústria

Um dos setores que vem puxando a retomada da economia paranaense é a indústria. Nos nove primeiros meses do ano, o setor criou 12,5 mil oportunidades de trabalho, dos quais 75% nas fabricantes de alimentos, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged).

A indústria alimentícia vem registrando uma forte demanda. Um dos maiores compradores é a China, um dos poucos países no mundo que deve crescer neste ano – 1,85% segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) – e que vem sentindo os reflexos de uma epidemia de peste suína, que dizimou rebanhos no ano passado.

As vendas de carne suína para o país asiático e Hong Kong cresceram 13,9% nos dez primeiros meses do ano, atingindo US$ 75,9 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. As exportações de carnes de aves tiveram um aumento maior: 14,5%, chegando a US$ 659,3 milhões.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a indústria alimentícia é uma das poucas que vem crescendo com vigor: entre janeiro e agosto, a produção aumentou 8,3% comparativamente a igual período de 2019.

Outro setor de forte tradição no estado, o automotivo, só deve ganhar um impulso com a retomada mais consistente da atividade econômica. Até agosto, a produção tinha caído 42,8%, segundo o IBGE.

Só com a redução do desemprego e a melhoria na capacidade de endividamento é que esse setor vai reagir”, afirma Meiners.

A expectativa das principais entidades desse segmento, como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é de que a área retome os níveis pré-crise em 2025.

Economia paranaense tem bom desempenho no campo

Por trás desse bom desempenho da indústria de alimentos, está outro setor: a agropecuária. A safra paranaense de grãos 2019/2020 foi 11,3% maior do que anterior, com um ganho de produtividade de 9,5%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“O resultado no campo foi beneficiado por melhores tecnologias de plantio, pela seleção criteriosa de variedades, por exemplo”, diz o professor.

Não bastasse isso, o mercado interno se expandiu. O consumo interno de milho no último ciclo agrícola, encerrado em setembro, foi 5,7% maior do que no anterior, segundo a Conab. E o preço médio dos alimentos aumentou 6% nos 12 meses encerrados em outubro, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.

O comércio está reagindo

Outro setor que vem mostrando uma retomada consistente, segundo Meiners, do Estúdio de Economia e Finanças da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), é o comércio. “O auxílio emergencial deu um bom impulso à atividade.”

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o volume de vendas no varejo já supera os de antes do início da pandemia. Há quatro meses, elas crescem em relação ao mês anterior. Hipermercados e supermercados e móveis são os segmentos que registram maior expansão.

O consumidor também está mais otimista, A intenção de consumo das famílias paranaenses cresceu, em outubro, pelo terceiro mês consecutivo, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio-PR).

Mas para o final de ano, as expectativas não são de crescimento. “O desemprego ainda está elevado, há a compressão da renda das famílias e o valor do auxílio emergencial está diminuindo. Tudo isso vai impactar no Natal”, diz Meiners.

Serviços à espera da vacina

Enquanto a indústria, o campo e comércio mostram sinais de aquecimento, o setor de serviços segue mais lento, por causa do distanciamento social e o receio da muitas pessoas em se aglomerarem.

O professor estima que uma retomada consistente dos serviços só aconteça quando houver uma vacina contra a Covid-19. No ano, o volume de serviços prestados na economia paranaense mostra uma queda de 10,4% em relação a igual período de 2019, segundo o IBGE.

Investimento vai continuar retraído

Mesmo com as menores taxas históricas de juro para as empresas – 0,9% ao mês em setembro, de acordo com o Banco Central -, não há clima para a retomada dos investimentos na economia paranaense, aponta Meiners. A justificativa são as expectativas de retorno mais demoradas.

“Não vão acontecer investimentos importantes em setores com grande capacidade ociosa.” Os que devem receber são setores onde a demanda é forte – como o de alimentos e de papel, que se beneficia do gradual reaquecimento da economia – ou com forte ligação ao agronegócio, como o de defensivos e fertilizantes.

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