A frente ampla de esquerda prometida para as eleições municipais de Curitiba (PR), em oposição a adversários políticos da direita paranaense, corre o risco de não sair do papel com parte da militância petista em defesa de uma candidatura própria. Historicamente, o PT costuma tomar o protagonismo das chapas de esquerda, o que pode inviabilizar a coligação encabeçada pelo ex-prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), deputado federal aliado do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
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O racha ficou evidente no encontro do diretório municipal do PT, realizado no último dia 2, para deliberação sobre as eleições na capital. A militância petista foi consultada sobre a participação do PT em uma aliança partidária ou a construção de uma candidatura própria. A proposta que defende a coligação política teve 24 votos, enquanto a proposta de uma chapa encabeçada pelo PT teve a preferência de 19 integrantes do diretório.
Um novo encontro está agendado para o dia 7 de abril, após a eleição de delegados para definição sobre o posicionamento petista no pleito na capital do estado. Porém, esse encontro pode nem acontecer dependendo do que for decidido na reunião da executiva nacional do partido, marcada para o próximo dia 26 de março, em Brasília.
Uma resolução interna no PT define que a homologação das chapas nas capitais brasileiras deve fazer parte da estratégia nacional do partido.
De acordo com o presidente estadual do PT, deputado estadual Arilson Chiorato, nacionalmente há uma indefinição sobre se o PT deve lançar candidato próprio ou fechar uma coligação. Essa indefinição nacional, segundo Chiorato, se reflete em outras capitais além de Curitiba, como Recife (PE), João Pessoa (PB) e Rio de Janeiro (RJ). Nessas cidades, disse o deputado em entrevista à Gazeta do Povo, o PT nacional puxou para si a responsabilidade sobre as definições das chapas para a eleições de outubro.
"Vamos dizer que a decisão nacional é de que nós teremos que dialogar para compor uma aliança. Se isso acontecer, essa reunião do dia 7, que era para definir se vamos de chapa própria ou de aliança, deixa de fazer sentido", disse.
Localmente, uma ala petista defende a frente ampla sob o argumento de que a coligação pode levar a chapa de esquerda para o segundo turno. A coalizão teria a Federação PT-PV-PCdoB, Rede, Psol, além da participação do PSB e PDT, que possuem pré-candidatos considerados com mais chances de chegar ao segundo turno, se levado em consideração o histórico eleitoral na capital.
O principal nome seria do ex-prefeito Ducci, que sofre resistência de uma parte da militância do PT. “Depois que o [Geraldo] Alckmin se tornou vice do Lula, a gente viu que a luta contra um inimigo maior precisa de alguns esforços e é necessário deixar para trás mágoas do passado eleitoral”, declarou Chiorato.
Ele defende a participação do partido em uma frente ampla de esquerda em Curitiba, que dê “amplitude” para a reeleição do presidente Lula, em 2026, com alianças políticas a partir das eleições municipais. “A regra é que quem tiver compromisso contra o Bolsonaro (PL), contra a Lava Jato e contra o Ratinho (Junior, governador do Paraná, PSD), além de defender a educação pública de qualidade, a sustentabilidade ambiental e investimentos em programas sociais, seja bem-vindo e merece o nosso apoio”, ressaltou.
Na avaliação de Chiorato, o PT deve definir um dos nomes postos como pré-candidatos do partido, entre eles os deputados federais Zeca Dirceu e Carol Dartora, para avaliação da frente ampla com outros nomes indicados pelos partidos. “A apreciação deve levar em conta a viabilidade eleitoral de cada pré-candidato e que os compromissos com os programas e com o presidente Lula, em 2026, sejam mantidos. Sendo assim, o nome com mais chance eleitoral de vencer deve ser o candidato”, defendeu.
Apesar das pré-candidaturas, Ducci afirmou que os partidos trabalham nos bastidores para articulação de uma “candidatura única” para corrida eleitoral em Curitiba. “Respeitamos todas as pré-candidaturas colocadas dentro dessa frente e esperamos chegar em um consenso por uma chapa que possa representar todos os partidos”, disse à Gazeta do Povo.
As convenções partidárias serão realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto, conforme o calendário eleitoral deste ano, período para confirmação oficial das chapas e coligações. “É uma eleição difícil com vários componentes. Então, estar com um grupo organizado e forte que possa fazer uma boa campanha é fundamental, pois não tem como disputar uma eleição majoritária para uma capital de forma isolada”, avaliou Ducci.
Outro nome que pode compor a coalizão de esquerda no pleito é o deputado estadual Goura (PDT), segundo colocado na última eleição para prefeitura de Curitiba, com mais de 110 mil votos em 2020, quando Rafael Greca (PSD) foi reeleito. Em evento no último dia 7, o PDT confirmou a pré-candidatura de Goura, que voltou a destacar a possibilidade de uma composição entre os partidos que fazem parte do governo Lula.
“O PDT tem pré-candidato a prefeito. Isso quer dizer que a gente não pode compor? Não. Isso quer dizer que o PDT tem projeto para Curitiba e que estamos trabalhando para construir uma cidade inclusiva, justa e acessível para todas as pessoas e que o PDT vai, sim, trabalhar para ter uma candidatura organizada, forte e com relevância para a cidade”, afirmou Goura.
Pré-candidato do PT, Zeca Dirceu afirma que perspectiva mudou em Curitiba
Pré-candidato à prefeitura de Curitiba, Zeca Dirceu (PT) afirmou que não existe oposição aos nomes confirmados pelo PSB e PDT, mas a discussão interna ocorre porque parte da militância petista não vê motivos para abrir mão do direito de lançar uma candidatura própria. “Acho precipitado a maneira que soltam essas notícias. Não há nenhuma decisão formal no diretório municipal, estadual ou nacional sobre a eleição em Curitiba. Tudo que saiu na imprensa, dando como certo e resolvido, foi um atropelo desnecessário de quem falou”, respondeu em entrevista à Gazeta do Povo.
Em um vídeo postado nas redes sociais, Zeca Dirceu disse que acha um "desrespeito com os pré-candidatos" o fato de a executiva nacional do PT assumir a responsabilidade pela definição de chapas municipais, como o que pode ocorrer em Curitiba. "Quero reafirmar que esta possível decisão em nada muda a minha determinação de continuar defendendo a candidatura própria em Curitiba", falou.
Filho do ex-ministro petista José Dirceu, Zeca foi prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR) entre 2005 e 2010, quando deixou o cargo e foi eleito deputado federal. Na avaliação dele, independente de existir maioria pelo apoio do partido a outro candidato, o diretório do PT em Curitiba não pode “ignorar” a opinião da militância, dos filiados e do conjunto de deputados e vereadores que defendem a candidatura própria.
“A perspectiva está mudando. Quem achava que o PT iria abrir mão por uma determinada candidatura de outro partido não mediu bem como o PT funciona, as regras internas e o peso da força de cada liderança de Curitiba e do estado”, afirma Zeca Dirceu, que aposta na continuidade da coalizão de esquerda com a candidatura petista. “A frente seria preservada, se não com todos, com a maioria dos partidos dispostos ao diálogo”, completou ele.
O deputado federal também criticou o uso de pesquisas para definição da chapa durante o período de pré-candidaturas. “A pesquisa é importante, mas não neste momento, quando os mais conhecidos são lembrados e, não necessariamente, quem tem mais votos ou viabilidade política. Considerar a pesquisa como fator relevante para decidir qual a melhor candidatura é um grande erro e outras eleições provaram isso”, argumentou.
A deputada Carol Dartora também é pré-candidata do PT à prefeitura de Curitiba e disse que o cenário precisa ser “avaliado com cuidado” pela direção partidária, considerando os impactos políticos e eleitorais. “Com as possibilidades que estão sendo cogitadas, as eleições na capital ficariam sem oposição, na mesmice e sem novidade”, afirmou.
Dartora considera que uma grande coligação pode ser uma estratégia para ampliar o espectro de apoio e fortalecimento da candidatura reunindo diferentes forças políticas em torno de um projeto comum para a cidade. “No entanto, é preciso garantir que essa coligação esteja alinhada com os valores e princípios do PT e que as propostas do partido não sejam diluídas ou comprometidas, em detrimento de outras agendas ou de políticos que tiveram, historicamente, no lado oposto.”
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