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O título de cidadania honorária para Euclides Scalco foi proposto por Rafael Greca em 1991.
O título de cidadania honorária para Euclides Scalco foi proposto por Rafael Greca em 1991.| Foto: Pedro Ribas/SMCS

Um dos nomes mais importantes da história política do estado, enfim, é cidadão do Paraná. O ex-ministro Euclides Scalco recebeu, nesta segunda-feira (16), o título de cidadania honorária, homenagem que foi aprovada pela Assembleia Legislativa em 1991, mas entregue somente agora, por causa da personalidade do homenageado, que sempre evitou holofotes e preferiu os bastidores.

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Agora, afastado da vida pública, Scalco concordou em receber a homenagem. Foi então que o deputado estadual Michele Caputo (PSDB) resgatou a proposição do então deputado Rafael Greca, hoje prefeito de Curitiba. Assim o título de cidadão honorário foi entregue em cerimônia realizada na prefeitura de Curitiba, com a participação de Greca.

“Na época, minha saída da política era muito recente e achei que não era o momento adequado. Depois o assunto caiu no esquecimento. Há uns meses atrás o deputado Michele ressuscitou a homenagem e achei que tinha chegado o momento", comentou o homenageado, justificando a “recusa” de 28 anos atrás. Sua aversão a holofotes fica clara até no momento em que é convidado a relembrar os fatos mais marcantes de sua carreira. Vereador, prefeito, deputado federal, deputado constituinte, ministro-chefe da Casa Civil, Scalco elegeu as ocasiões em que agiu nos bastidores como suas principais contribuições para a política: "A eleição de Tancredo (Neves), a transição de governo do Fernando Henrique para Lula e, no Paraná, a eleição de José Richa".

Gaúcho de Vista Alegre, distrito da cidade de Nova Prata, Euclides Girolamo Scalco é formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Chegou no Paraná em 1959, aos 27 anos, estabelecendo-se em Francisco Beltrão, onde iniciou a vida pública, sendo eleito vereador e prefeito da cidade.

Durante o regime militar, participou da fundação e estruturação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no Paraná, em 1966.

Foi deputado federal por três mandatos, participando, inclusive, da Assembleia Nacional Constituinte, que editou a Constituição de 1988. Defendeu a proteção das empresas nacionais, o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com países que desenvolvessem uma política de discriminação racial, medidas de proteção ao trabalhador, a nacionalização do subsolo, a proibição do comércio de sangue, o direito de sindicalização do servidor público, a defesa aos micro e pequenos empresários, a limitação do direito de propriedade privada, entre outras.

No mesmo ano, Scalco foi um dos principais articuladores da criação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Participou da coordenação da campanha de Fernando Henrique Cardoso à presidência da República e da equipe de transição, coordenando o grupo que estudou a organização do sistema de assistência social do novo governo, do qual resultou a iniciativa da criação do programa Comunidade Solidária.

Em 1995 assumiu a diretoria-geral brasileira da Itaipu Binacional, renegociou a dívida da hidrelétrica com a Eletrobrás e a viu bater o recorde mundial de produção de energia elétrica, em 1996. Coordenou a campanha de reeleição de Fernando Henrique, em 1998 e assumiu, posteriormente, o cargo de ministro-chefe da Casa Civil.

Com o término do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, Scalco retornou ao Paraná, onde continuou participando e influenciando a política local. Coordenou a campanha de Osmar Dias (PDT) em 2006 ao governo do estado e a de Beto Richa (PSDB), em 2008, à prefeitura de Curitiba.

Para Greca, Scalco é um dos construtores do Paraná moderno. O prefeito também enalteceu sua luta pela reforma agrária na região sudoeste do Estado e sua participação na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), fazendo justiça social. “Euclides Scalco veio aqui na prefeitura para receber seu título das minhas mãos. Estou com o coração gratificado e quero que o exemplo desse grande homem inspire jovens com seu nível de comprometimento e de amor pela terra e pela gente do Paraná”, apontou o prefeito.

Ao citar a trajetória do homenageado, o deputado Michele Caputo exaltou o papel de Scalco como um dos principais artífices do SUS e de sua luta pela reforma sanitária brasileira. “Euclides Scalco é uma referência política e na área de saúde. Sempre pautou suas ações pela lisura e honradez e foi um gestor de elevado espírito público”, disse. “A vida política brasileira precisa, mais do que nunca, de exemplos edificantes. Renovação e mudanças precisam ser construídas com novas e antigas práticas, com novas e antigas lideranças. Que o exemplo de Scalco continue semeando o solo fértil do Paraná”, completou Caputo.

O que pensa Euclides Scalco

Scalco aproveitou a ocasião da homenagem e fez um breve balanço, a pedido da Gazeta do Povo, sobre sua trajetória política, elencando os momentos mais marcantes de sua vida pública e avaliando os caminhos tomados pelos partidos que ajudou a construir e pela democracia brasileira.

Por que esperar 28 anos para receber a homenagem?

Na época minha saída da política era muito recente e achei que não era o momento adequado. Depois o assunto caiu no esquecimento. Há uns meses atrás o Deputado Michele ressuscitou a homenagem e achei que tinha chegado o momento. Agradeço ao prefeito Greca, que fez a proposição em 1991 e também ao Deputado Michele que proporcionou a entrega desse título que muito me honrou.

O senhor participou da fundação do MDB e do PSDB, qual a importância desses partidos na história da democracia brasileira?

O MDB foi importante num momento em que era necessário aglutinar as forças politicas na luta pelo restabelecimento da democracia no país. O PSDB, por outro lado já com o país no gozo da democracia, ainda que jovem, procurava aglutinar o pensamento social democrata trazendo novos ares para a política brasileira, que teve sua maior expressão nos governos do Fernando Henrique.

Como analisa os rumos que esses dois partidos tomaram da fundação até os dias de hoje?

Pelas derrotas das últimas eleições, os partidos passam por uma crise existencial e surgiram novas lideranças, como é normal. Toda crise subentende mudanças, e espero que as mudanças que virão resgatem os ideais que tínhamos quando das suas fundações.

Como vê o momento político atual do país?

Vejo com preocupação. A radicalização iniciada pelo PT, com o "nós contra eles", nos levou a uma situação em que a tolerância deixou de existir. A democracia é dependente da tolerância e amiga do diálogo. Na política existem adversários e não inimigos.

Conteúdo editado por:Katia Brembatti
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