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Fim dos acidentes

Governo do Paraná faz pressão para desativar ferrovia em Curitiba

Fererovia Curitiba
Ferrovia tem 45 quilômetros entre Rio Branco do Sul e Curitiba. (Foto: Levy Ferreira/Prefeitura de Curitiba)

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O governo do Paraná deu o primeiro passo para desativar o mais rápido possível a linha férrea que atravessa Curitiba. No fim de agosto, a Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL) redigiu um ofício no qual solicita às partes envolvidas a desativação permanente do ramal ferroviário que se estende até Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana da capital paranaense.

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O ofício foi enviado para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), para a Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário (SNTF), para a Rumo, empresa que administra a ferrovia, e para a Votorantim, companhia que utiliza os trilhos para transportar parte de sua produção entre Rio Branco do Sul e o interior do estado. O documento não tem poder de imposição, mas o governo estadual acredita que é possível resolver a questão na conversa.

O principal argumento para o pedido é a quantidade de acidentes e mortes nos últimos anos. De acordo com a ANTT, entre 2021 e 2024, foram registrados 152 acidentes com trens em Curitiba, deixando mais de 60 feridos e 27 mortos. Neste ano, até maio, foram 13 sinistros com duas mortes. Esses números mantêm a capital paranaense na liderança de acidentes com trens.

No ofício, o governo do Paraná diz entender que "há interesse público na desativação definitiva do tráfego ferroviário no trecho" e que ele deve se sobrepor ao interesse privado. O fechamento da linha também atenderia aos “anseios da coletividade que há tempos lutam pela desativação definitiva do trecho ferroviário” que “ceifa vidas da comunidade local.”

O movimento do governo estadual segue as demandas da prefeitura de Curitiba, que há anos vem buscando uma solução para a ferrovia. O prefeito Eduardo Pimentel (PSD) chegou a viajar neste ano para Brasília para tentar sensibilizar o governo federal a buscar uma solução. “Tenho trabalhado muito por isso. E não descansarei”, disse no fim de julho após um acidente entre um trem e um ônibus que deixou 11 feridos.

O governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba têm alguns planos de aproveitamento da faixa de domínio hoje destinada à operação ferroviária caso a desativação seja concretizada:

  • Regularização fundiária;
  • Ampliação e qualificação do transporte público coletivo;
  • Requalificação urbana e ambiental;
  • Requalificação e adequação dos sistemas de drenagem de águas pluviais;
  • Implantação de parques lineares.

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Votorantim é a única usuária da ferrovia que corta Curitiba

De um lado está o interesse da população, defendido pelo poder público, e de outro o interesse da Votorantim, empresa que opera nesse ramal para transportar parte da produção entre a sua planta de cimento em Rio Branco do Sul e cidades do Oeste e Norte do Paraná, como Londrina, Maringá e Cascavel. Em 2024, cerca de 460 toneladas de cimento embarcaram no terminal ferroviário na unidade da empresa. Um volume que, segundo o governo do Paraná, não justifica a existência da linha férrea.

“Não queremos gerar prejuízo para a empresa, mas não podemos ficar na zona de conforto. Acreditamos que dá para substituir esse ramal e realocar a carga de outra maneira”, disse à Gazeta do Povo o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex. “O volume, acreditamos, não é grande. E desativar [a ferrovia] não gera um custo logístico tão alto”, defendeu.

O governo estadual estima que 7% da produção da unidade da Votorantim em Rio Branco do Sul saia de trem. Esse número, porém, não é confirmado pela empresa. Após contato da reportagem, a Votorantim informou que não comentaria o assunto.

No ofício, o governo notificou a Votorantim a interromper o tráfego ferroviário em 45 dias — o prazo termina em 12 de outubro — “sob pena da adoção das medidas administrativas e judiciais cabíveis”. Sandro Alex, porém, espera não precisar usar esses instrumentos. E para resolver a questão, tem uma reunião marcada com a diretoria da empresa para tratar do assunto.

A proposta para que a empresa deixe de usar a linha férrea que atravessa Curitiba é transportar a produção de caminhão até Ponta Grossa e, então, por ferrovia seguir para o interior, uma rota já utilizada pela companhia.

Em nota, a Rumo, empresa que administra a ferrovia que faz parte da Malha Sul, informou que “seguirá eventual diretriz determinada pelo poder concedente (Ministério dos Transportes e ANTT)”. Até a publicação desta reportagem, o Ministério dos Transportes e a ANTT não haviam retornado os questionamentos da Gazeta do Povo. O espaço segue aberto para manifestação.

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Linha férrea tem 80 passagens em nível em quatro cidades

O ramal ferroviário de Rio Branco do Sul tem aproximadamente 45 quilômetros de extensão e passa não só pela cidade de origem e Curitiba, mas também por Itaperuçu e Almirante Tamandaré, em áreas densamente povoadas e com grande circulação de veículos. Ao longo da ferrovia há 80 passagens em nível, assim distribuídas:

  • Almirante Tamandaré - 40 passagens em nível
  • Curitiba - 34
  • Rio Branco do Sul - 4
  • Itaperuçu - 2

Para tentar reduzir os acidentes nessas passagens em nível, a Rumo desenvolveu uma tecnologia com sensores de inteligência artificial para detectar a aproximação dos trens e acionar semáforos para impedir a travessia de veículos. Em Curitiba, o projeto segue em fase piloto em algumas passagens no bairro Cajuru. Além disso, a empresa produziu vídeos educativos em parceria com a prefeitura municipal.

Essa iniciativa é paliativa, visto que não resolveria completamente o risco de acidentes. Uma solução discutida há anos é a criação de um contorno ferroviário que seguiria até Balsa Nova, onde se encontraria com a linha que segue para Paranaguá. A complexidade da obra, o alto custo e os desafios ambientais são, hoje, impeditivos para que o projeto saia do papel.

A Rumo, que tem contrato de administração da Malha Sul até 2027, não tem obrigação de realizar a obra. Uma opção é que ela apareça na nova concessão que está sendo discutida no Ministério dos Transportes — um grupo de trabalho criado para apontar soluções para o novo contrato deve apresentar um relatório nos próximos dias. O alto custo deve fazer com que o contorno fique de fora das negociações.

“Imaginávamos que iríamos esperar até 2027, pensando na renovação da Malha Sul, mas se ficarmos nisso, vamos ficar esperando e nada vai acontecer. E se acontecer, pode demorar muito tempo”, reiterou o secretário Sandro Alex.

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Correção

O conteúdo original dizia que a carga de trem da Votorantim seguia para Paranaguá, no entanto o cimento embarcado nos trens vai para o interior do Paraná.

Corrigido em 17/09/2025 às 12:48

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