A professora do departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Janice Cristine Thiél era uma unanimidade. Entre alunos e colegas, é impossível encontrar qualquer lembrança de desentendimento ou reclamação envolvendo-a. Seu trato paciente, a disposição para ajudar, a dedicação ao estudo e ao trabalho, a inteligência brilhante, a elegância natural e a doçura cotidiana a transformaram em símbolo do curso e em exemplo a ser seguido. Também por isso, era apresentada como diva ou lady das Letras. Faleceu no dia 9 de janeiro, aos 59 anos, por causa de um câncer no intestino.
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A temática em que mais se destacou foi o estudo da literatura indígena, tanto a brasileira quanto a dos demais povos originários das Américas. O pioneirismo e a excelência na pesquisa fizeram dela uma autoridade. “Acredito que hoje era a maior referência em literatura indígena no Brasil”, conta Josélia Ribeiro, coordenadora do curso de Letras da PUC-PR.
Tomou contato com o tema durante o doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), de onde nasceria o livro “Pele silenciosa, pele sonora: a literatura indígena em destaque”. Um de seus objetos de estudo era o wampum, técnica sagrada utilizada por etnias indígenas norte-americanas para “tecer” tratados e acordos não com letras, mas com contas e conchas de moluscos.
Quando criança, a brincadeira da curitibana era dar aula para a meninada do bairro. Ler tudo o que pudesse, incluindo pesadas enciclopédias, era seu hobby infantil. Incentivada pela mãe, que fornecia livros e jogos educativos, seguiu de aluna nota A para acadêmica prolífica. Docente da PUC durante praticamente toda a carreira, dava aulas de língua inglesa, literatura, prática de língua inglesa, além de tradução e estudos de tradução. Sua atuação era ampla e além da literatura indígena, era especialista nas literaturas brasileira e inglesa.
Fazia parte do Núcleo Docente Estruturante da instituição, ajudando a pensar no futuro do curso, e dava aula em inglês de intercultural communication, exercitando um dos temas que mais a moviam profissional e pessoalmente: a multiculturalidade e a comunicação intercultural.
Nas orientações, na iniciação científica e em palestras, incentivou um sem número de estudantes e estudiosos a prosseguir no caminho das Letras. “Sempre muito delicada, respeitosa e prezando pela gentileza, ela passava mensagens de alento aos alunos, indicava caminhos e abria portas para que entendessem outras culturas”, conta a irmã e também professora da PUC-PR, Grace Thiel.
A avidez por conhecimento a acompanhou durante toda a vida, adentrando em áreas por pura curiosidade ou pelo prazer de mergulhar em novos assuntos. Fez especialização em História Contemporânea e Relações Internacionais e um curso de extensão em Astronomia Básica. Durante a pandemia, teve aulas de grego. Anteriormente havia começado também a aprender turco com uma amiga.
Para ela, tudo se relacionava ao conhecimento, quase como se seu lazer na vida fosse aprender e ensinar. “Tudo o que ela aprendia, agregava aos outros, nada ficava só para ela. Tinha essa missão de aprender, ensinar e compartilhar, trabalhou a vida toda neste caminho”, resume Grace.
Seu momento de relaxamento era a montagem de quebra-cabeças. Tinha vários, montou todos, mas só emoldurou um, uma única vez. Capaz de finalizar um de mil peças sozinha em um único dia, via graça em montar e desmontar. Além dos planos, tradicionais, tinha modelos em 3D, vintage e mais recentemente começou a se aventurar na montagem de Legos de carros, casas e cenários de séries. Ela e a irmã amavam cinema e publicaram juntas o livro “Movie Takes: A Magia do Cinema na Sala de Aula”, com atividades para utilização de filmes no ambiente de ensino.
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