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O Morro do Escalvado pode retomar seu papel de destaque no turismo do litoral do Paraná com o novo teleférico de Matinhos. Localizado a 500 metros do centro do município, no Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, o local atraía visitantes nos anos 1990 até que a estrutura anterior do teleférico foi desativada após uma tragédia que resultou na morte de três pessoas.
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Agora, um acordo entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) abre caminho para implementação do uso público do parque, com novas atrações e um projeto estruturado de ecoturismo.
A proposta prevê centro de visitantes, mirantes e a requalificação de trilhas. "Através de planejamentos específicos, alinhados ao Plano de Manejo do parque, será possível o ordenamento do atrativo turístico, compatibilizando o uso com segurança, melhorando a experiência do visitante e a proteção dos recursos naturais que o parque visa proteger", explica Márcio Ricardo Ferla, biólogo e chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio Matinhos.
A trilha até o topo do Morro do Escalvado tem 800 metros, considerada de dificuldade média e leva até 40 minutos de subida. O percurso é irregular, com risco de escorregões. Parte da antiga estrutura metálica do teleférico ainda resiste, mas está sem condições de uso.
Nesse sentido, o ICMBio aprovou o novo traçado com base em estudo técnico contratado pela autarquia e contratará uma empresa para implantá-lo. A nova trilha tem perspectiva de estar disponível ao público no primeiro semestre de 2026.
Volta do teleférico de Matinhos depende de regularização fundiária
Ferla explica que a área do Morro do Escalvado foi considerada zona de infraestrutura, no plano de manejo do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, aprovado há um ano. Isso possibilita a implementação dos projetos, já que prevê a possibilidade de construções e acesso de pessoas na área.
"É a área com o uso mais intensivo e com maior concentração de intervenção humana, em contraste com zonas de uso mais restrito, que visam a conservação de áreas mais sensíveis", afirma. Segundo o biólogo, o processo precisa passar por regularização fundiária.

“A maior parte da área do parque, composta por áreas públicas e privadas, está sem regularização fundiária. Somente com a regularização podemos colocar os projetos em prática", afirmou. Ferla explicou que a parceria com o Incra prevê o georreferenciamento da área e o mapeamento realizados pelo ICMBio, enquanto o restante da documentação e estudos ficarão a cargo do Instituto.
O superintendente do Incra, Nilton Bezerra Guedes, confirmou a prioridade. “Esse é um processo sem volta. Estamos comprometidos a realizar esse projeto da melhor forma, mesmo que seja uma novidade para nós do Incra”. De acordo com o superintendente, será necessário regularizar 5 mil hectares dentro do parque.
Parque Nacional no litoral paranaense é marco da conservação
O Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange foi a primeira Unidade de Conservação criada por lei no Brasil. A Lei nº 10.227 oficializou sua criação em 23 de maio de 2001. O parque está localizado no litoral do Paraná, a 100 quilômetros de Curitiba e a 40 quilômetros do porto de Paranaguá. São 24 mil hectares que abrangem quatro municípios.
O nome homenageia duas figuras ligadas à ciência e ao meio ambiente. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que percorreu parte do Brasil na década de 1820, e do biólogo e ambientalista paranaense Roberto Ribas Lange, que teve atuação na região até sua morte, em 1993.
O NGI ICMBio Matinhos, criado pela Portaria nº 110/2020, organiza a gestão do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange e o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais. "As tratativas para a instalação do novo teleférico avançam desde o fim de janeiro. Demos todo o apoio ao ICMBio, inclusive na limpeza da trilha para o início dos estudos", afirma a secretária de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Matinhos, Kassia Novochadlo.

Em 1995, perícia identificou falta de manutenção
Três pessoas morreram e sete ficaram feridas no acidente com o teleférico de Matinhos em janeiro de 1995. O acidente ocorreu após o rompimento de um cabo de aço que provocou o descarrilamento das cadeiras do teleférico. As vítimas caíram de uma altura entre sete e dez metros.
A perícia concluiu que a falha decorreu da falta de manutenção nos freios do teleférico. A empresa responsável havia instalado o equipamento dois anos antes do acidente.
O acidente fatal foi antecedido por outro episódio. Uma semana antes, o freio partiu ao meio, causando o descarrilamento de cadeiras do teleférico. Quatro crianças ficaram feridas.
Em decorrência do incidente, o proprietário da empresa Teleférico Matinhos S/A foi preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo, lesões corporais e omissão de socorro. Ele pagou fiança e respondeu à acusação em liberdade. Entre os recursos apresentados, houve prescrição do processo. Ele faleceu em 26 de novembro de 2013 e não chegou a ser condenado.
O engenheiro civil responsável pelo projeto do teleférico é o outro réu da ação movida por familiares das vítimas. A perícia apontou falha no projeto. Segundo a defesa dos familiares das vítimas, a indenização pedida é de R$ 5 milhões. Em abril deste ano, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) reconheceu a fraude à execução, pela transferência dos bens do devedor para parentes e manteve a condenação.
Embora o processo judicial já estivesse finalizado, a implementação da sentença ainda estava em andamento. O TJ-PR reconheceu fraude à execução do devedor. A família do réu entrou com recurso, e a definição final ainda não ocorreu. Em decorrência do estado de saúde do réu, ele solicitou que a sua defesa não se manifestasse.
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