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Maria Oliveira faleceu em Curitiba, aos 91 anos, no dia 15 de janeiro de 2022
Maria Oliveira faleceu em Curitiba, aos 91 anos, no dia 15 de janeiro de 2022| Foto: Arquivo da família

“Se eu fosse cineasta, daria para fazer facilmente um roteiro sobre a vida da minha mãe”, comenta o jornalista e vereador de Curitiba Herivelto Oliveira sobre a mãe Maria Antonia da Silva Oliveira, falecida aos 91 anos no dia 15 de janeiro. Mineira criada por uma família adotiva desde a primeira infância, passou por inúmeros percalços, mas cumpriu a missão de conquistar condições dignas para a família e de tirar da vida o que há de melhor.

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Viveu sem saber a data exata de seu nascimento. Nascida no interior de Minas Gerais, no município de Angostura, atual distrito de Além Paraíba, não foi registrada de imediato. Apenas após a adoção por uma família de brancos – a mãe biológica era dada como “louca” e não tinha condições de criar os seis filhos, por isso cada um foi adotado por uma família diferente. Hoje, acredita-se que a mãe sofria com uma depressão severa. Com cerca de quatro anos de idade, foi atribuída a Maria uma data para aniversário, 15 de junho, que seguiu sendo comemorada por mais de nove décadas.

Vida no campo, numa família de 15 irmãos

A família adotiva vivia da agricultura em Santo Antônio da Platina (PR). Maria, como filha mais velha, ajudou a criar os outros 14 irmãos em uma educação, por parte dos pais, à base da chinelada. Em 1952, conhece o futuro marido, José Alves de Oliveira, com quem se casa, tem o primeiro filho e se muda em definitivo para Curitiba em busca de desenvolvimento. De 1953 a 1956, tem cinco filhos. Dois deles falecem precocemente e o primeiro – que assim como o pai, tinha epilepsia – é desenganado pelos médicos, que lhe dão no máximo um ano de vida. Ele viveu até os 57 anos, tendo a mãe como apoio constante e incondicional.

Os pais trabalhavam pesado para garantir educação aos filhos, uma prioridade. Ele como auxiliar administrativo, ela complementando a renda fazendo roupas de escola para a criançada da vizinhança. Maria Antonia levantava todos os dias antes do marido, que saía para o trabalho às cinco da manhã, para fazer sua marmita. Nas vacas magras, chegava a dividir um ovo cozido em quatro partes para que todos pudessem comer um pouco. Mais tarde, conforme a situação foi melhorando, tornou- se especialista em almoços de domingo com maionese, macarronada e carne.

Gosto pelo canto influenciou o filho, Herivelto Oliveira

Do raiar do sol até às cinco da tarde, quando pontualmente José aparecia no portão, sua rotina envolvia lavar a roupa, passar, cuidar da casa e dos filhos – muitas vezes aos gritos na rua, para que voltassem logo, pois escurecia – e fazer os mais variados e trabalhosos reparos em casa. “Por meu pai ser epilético, era ela a eletricista, a pedreira da casa. Quando a gente via, lá estava ela em cima de uma escada fazendo um conserto”, lembra Herivelto. A correria da vida no lar era acompanhada pela cantoria de Maria Antonia. O repertório ia da música popular aos hinos católicos, dependendo da “vibe”. Herivelto acredita que este gosto familiar o influenciou a ser, além de tudo, músico.

Independente das eventuais dificuldades, ela sempre mostrou que felicidade era muito melhor do que dinheiro. Mas não negava os presentinhos sagrados do marido no Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados. Eram sempre itens para a casa, como jogo de panelas, um estofado, cujas prestações ele pagava com orgulho e pontualidade. O primeiro lar da família em Curitiba foi o bairro Capanema, depois mudaram-se para o Ahú em uma casa dividida com outra família.

O primeiro sinal de melhoria na qualidade de vida foi quando conseguiram alugar a casa inteira, que ficava nos fundos na moradia da dona. Após mais alguns anos, mudaram-se para a casa da frente. Maria Antonia era amiga da vizinhança inteira, com quem compartilhava idas à igreja e à feira. Já idosa, mudou-se para o Tarumã.

Na velhice, o reencontro com os irmãos de sangue

Depois de mais de 60 anos separada da família biológica, com a ajuda de uma das irmãs adotivas conseguiu reencontrar os irmãos de sangue. Visitou três deles no Rio de Janeiro (RJ) e outro em Juiz de Fora (MG). Ao longo dos anos, eles retribuíram a visita vindo até Curitiba.

A mineira que falava “mansin” e suprimia o fim das palavras cultivava amigos por onde passava. Quando o filho tornou-se apresentador de telejornal, Maria dava conta de que todos soubessem que ela era sua mãe. Chegou a votar no filho na eleição para vereador, mas quando ele assumiu a vaga, a idade avançada não permitiu que ela assimilasse completamente a conquista. Morreu em paz, sem nenhum sinal de sofrimento, enquanto dormia no hospital.

Maria Antonia deixa dois filhos e um neto.

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