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O agricultor Laercio Della Vecchia comemora os bons resultados da lavoura de feijão.
O agricultor Laercio Della Vecchia comemora os bons resultados da lavoura de feijão.| Foto: Acervo pessoal

Uma plantação de feijão com alto potencial de rendimento e adaptação ao solo, finalizada com a oferta de um produto que apresenta caldo consistente, sabor agradável e elevado porcentual de grãos inteiros após o preparo. Essa é a síntese de resultados que são alvo de um o grupo de melhoramento genético do feijão, em desenvolvimento no Paraná. E não para por aí: a estratégia inclui avançar na categoria de feijões especiais, que são os grãos vermelhos, desenvolvidos para exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas.

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Maior produtor de feijão do Brasil, o Paraná colhe cerca de 27% de toda a produção nacional. E é de lá que vem, junto com o destaque na produção, a busca pela excelência na produtividade da lavoura e qualidade do grão. Enquanto uma variedade comum rende entre 1,7 mil e 2 mil quilos por hectare, as cultivares desenvolvidas pelo órgão oficial de pesquisa agronômica do estado, Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR), chegam a render 4,2 mil quilos na mesma área.

De 41 novas variedades de feijão desenvolvidas pelo órgão de pesquisa, 11 têm sementes disponíveis no mercado e estão sendo cultivadas em todas as regiões produtoras do Brasil. São cultivares melhoradas geneticamente ao longo das últimas décadas nos laboratórios do antigo Iapar, que tem sede em Londrina, cidade no norte do Paraná.

“O processo de melhoramento genético permite que sejam inseridas características que a planta não tem e, com isso, conseguimos cultivares com atributos como alta produtividade e maior resistência a pragas e doenças”, explica a pesquisadora Vânia Moda Cirino, especialista em melhoramento genético de feijão e diretora de pesquisa do instituto.

O melhoramento genético também resulta em grãos com alto potencial de rendimento e adaptação ao solo, garantindo mais estabilidade de produção. As plantas crescem com porte ereto, o que as torna mais apropriadas para a colheita mecânica. Tudo isso, segundo a pesquisadora, contribui para uma produção sustentável.

Boa safra começa com boa semente

As características das variedades melhoradas geneticamente têm determinado a preferência do agricultor pelo produto. Na safra 2022, 63% dos campos de multiplicação de sementes de feijão preto e 14% de carioca no Brasil eram de cultivares desenvolvidas pelo instituto paranaense de pesquisa.

Um desses produtores de feijão que fez a opção pela cultivar melhorada é Laercio Della Vecchia, de Mangueirinha, no sudoeste paranaense. Depois de plantar por muito tempo variedades comuns, ele optou por uma desenvolvida pelo Iapar, a IPR Sabiá. Segundo ele, a variedade tem se desenvolvido bem no campo. “No primeiro ano, produziu 70 sacas por hectare e nosso custo foi de apenas R$ 4 mil por hectare”, conta. Considerando que a saca é vendida entre R$ 350 e R$ 400, cada hectare garantiu um ganho de aproximadamente R$ 20 mil.

“Quando se tem uma genética que dá tolerância à planta, não tem necessidade de fazer tantas aplicações de fungicidas”, observa o agricultor. "Além do ganho para o produtor, o consumidor é beneficiado porque tem um alimento mais saudável e nutritivo", diz. Ele conta que está conseguindo produzir sem usar inseticidas e com um nível de produtividade que nunca havia conseguido. “Uma boa safra começa com sementes de qualidade”, atesta.

Resistência ao mosaico dourado  

Uma das maiores conquistas do programa de melhoramento genético do feijão foi o desenvolvimento de cinco cultivares com resistência ao mosaico dourado, doença das mais prejudiciais dessa lavoura no Brasil, sendo um constante desafio à pesquisa nacional. São quatro variedades do tipo carioca — IPR Celeiro (2016), IPR Eldorado (lançada em 2006), IAPAR 72 (1994) e IAPAR 57 (1992) — e, ainda, IAPAR 65, do grupo preto, de 1993.

Na categoria de grãos do tipo carioca, a vitória mais recente da pesquisa é a cultivar IPR Águia, que se destaca pela resistência ao escurecimento dos grãos. Em condições adequadas de armazenamento, grãos de IPR Águia levam cerca de nove meses para começar a escurecer, um atributo importante para os agricultores.

“Os consumidores não compram um feijão com pigmento escurecido porque o associam a um feijão velho, que não cozinha”, explica a pesquisadora. De acordo com ela, é por essa razão que os agricultores costumam colher e imediatamente vender, para não perder valor. A nova cultivar, ao contrário, pode permanecer armazenada sem que a qualidade seja comprometida.

Feijão é prioridade

A pesquisadora e diretora de pesquisa do IDR informa que a cultura do feijão é uma das prioridades do instituto, porque tem grande relevância econômica e social para o estado. “É predominantemente produzida por pequenos produtores, constituindo a principal fonte de renda desses agricultores familiares”, destaca Vânia Cirino.

Ela explica que o desenvolvimento de uma nova cultivar é um trabalho de longo prazo. “Desde o planejamento dos cruzamentos, que visam à combinação dos genes para obter as características pretendidas para a planta até o lançamento das sementes para multiplicação, são de 10 a 12 anos de estudos”.

O melhoramento genético agrega diversas características à planta, como ciclos de cultivo mais curtos, tolerância a diferentes condições de clima e de solo, arquitetura de planta que facilita a colheita mecânica e até mesmo a qualidade culinária do grão. “Não adianta ser uma variedade boa de campo e ruim de panela”, enfatiza.

Próximo passo: feijão gourmet

Cozimento rápido, caldo consistente, sabor agradável e elevado porcentual de grãos inteiros após o preparo. Essas são as principais características culinárias das variedades melhoradas, de acordo com a pesquisadora.

O grupo de melhoramento genético de feijão do IDR-Paraná também busca avanços na categoria de feijões especiais (grãos do tipo gourmet). O IDR-Paraná vai lançar este ano a cultivar IPR-Cardeal, de grãos vermelhos, desenvolvida para o segmento de exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas.

“Estamos sempre em busca de boas características agrícolas, culinárias e nutricionais. Queremos um feijão com mais proteína, mais ferro, mais zinco, um alimento que possa realmente nutrir a população”, destaca a diretora de pesquisa.

Estados produtores e produtividade

De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Paraná, o feijão é a terceira lavoura em importância em relação a volume de produção e valor para o estado. Fica atrás da soja e do milho.

“O Paraná é o maior produtor nacional: entre 25% e 27% do que é colhido em todo o Brasil”, afirma Methódio Gorxko, técnico do Deral. Segundo ele, no ano agrícola 2022-2023, a primeira safra de feijão no estado ocupou 115 mil hectares e rendeu 197 mil toneladas.

A segunda safra, que começa a ser colhida agora, deve render 592 mil toneladas em 296 mil hectares cultivados. “Parte do feijão produzido no Paraná abastece outros estados brasileiros e um pouco é exportado para os países do Mercosul”, informa o técnico do Deral.

Outros estados produtores são Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia. Enquanto a produtividade é, na média nacional, de 1,5 mil quilos por hectare, no Paraná a primeira safra deste ano rendeu 1.717 quilos por hectare e a segunda, que está começando a ser colhida, deve ter produtividade em torno de 1.990 quilos por hectare. Essas são produtividades médias de todas as áreas plantadas no estado, mas os cultivos feitos a partir de variedades melhoradas rendem mais que 4 mil quilos por hectare.

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