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Ovídio Gasparetto: um "diplomata" da produção sustentável de madeira no país
Ovídio Gasparetto, falecido em 22 de janeiro de 2021| Foto: Divulgação / ACIPG

O adolescente que teve a coragem de discursar para todo o Colégio Arquidiocesano de São Paulo em comemoração ao 7 de Setembro mal sabia que aquele seria apenas o primeiro dos muitos discursos importantes que faria na vida. Como representante de órgãos de produção de madeira brasileiros, falou para públicos ao redor do mundo durante a carreira. Ovídio Gasparetto faleceu no dia 22 de janeiro, aos 92 anos, vítima de Covid-19.

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Nascido no Rio de Janeiro, viveu com os avós nos Campos Gerais, no Paraná, até os seis anos de idade. Voltou ao Rio de Janeiro, onde completou o primário, depois foi transferido para estudar em São Paulo e por fim concluiu o ginásio no internato do Colégio Paranaense. Neste último, foi o leitor oficial do colégio, aquele que todos os dias subia ao púlpito para ler livros escolhidos pela direção ao silencioso público de estudantes. Essa experiência lhe deu impulso para, ao ser transferido para o Arquidiocesano de São Paulo, aceitar a missão de discursar pela primeira vez com um texto autoral. A facilidade em se comunicar também o colocou no teatro do colégio, como ator.

No tempo em que estudou Direito na Universidade de São Paulo (USP) aproveitou para fazer cursos extracurriculares a fim de adquirir novas habilidades úteis para o futuro, pois desejava, na época, seguir carreira diplomática. Todos os dias da semana tinha uma atividade diferente, especialmente o aprendizado de línguas. Ao longo da vida, se tornou fluente em inglês, espanhol, italiano e francês. Depois de formado, voltou aos Campos Gerais a pedido dos pais para dirigir a empresa de madeira da família em Ponta Grossa.

Atuou na organização de 1951 a 1966. Além da sede em Ponta Grossa, constituiu uma moderna indústria em Curitiba, no bairro Atuba, onde eram manufaturadas as peças em madeira, como portas, molduras e peças para mobiliário. Dentro desse período também foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG) por dois mandatos, inaugurando o departamento jurídico da instituição. Antes dos 30 anos, candidatou-se a prefeito de Ponta Grossa e a deputado estadual, sem vencer nenhuma das disputas eleitorais.

No início dos anos 1970 passou a viver em Belém (PA), onde fundou uma empresa pioneira na produção e exportação de produtos madeireiros voltados a mercados internacionais, seguindo os moldes de inovação que havia aplicado na companhia da família. Foi uma das primeiras empresas a praticar e defender o reflorestamento. Dos 33 anos em que morou na Amazônia, relatava ter aprendido “muito sobre a Amazônia, sobre o Brasil e sobre o mundo”. Articulista em diferentes veículos da imprensa, publicou o livro “Brasil com Amazônia ou Amazônia sem Brasil?”.

Ocupou os cargos de vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), presidente do Sindicato dos Produtores de Madeira do Pará, além de outros cargos de representação da classe empresarial dos produtores de madeira. Participou de um grupo de trabalho organizado pelo Banco Mundial para estudar o desenvolvimento sustentável de florestas tropicais. Atuou como assessor do Itamaraty na The International Tropical Timber Organization (ITTO), com a qual viajou por uma década participando de reuniões pelo mundo. O jovem que se arriscou ao aceitar fazer um discurso no 7 de Setembro mais tarde palestraria para audiências qualificadas sobre sustentabilidade e comércio em Nova York, Bonn, Roma, Cambridge e tantos outros locais mundo afora.

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