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Tiomkim: entusiasta da vida e da “música maravilhosa do cinema”
Osval Dias de Siqueira Filho era conhecido como Tiomkim, em homenagem a maestro ucraniano| Foto: Enéas Gomez / Divulgação

Como uma constante estreia, Tiomkim conduziu a própria vida dentro de uma sala de cinema. Conhecedor de extensas referências, chamava amigos e conhecidos por nomes de astros hollywoodianos, com base em semelhanças que ele identificava instantaneamente. Entrar em seu apartamento era mergulhar naquele universo não apenas pelo rico e raro acervo, mas porque o ambiente estava sempre harmonizado com uma trilha sonora cinematográfica escolhida com minúcia. No dia 17 de janeiro, os créditos começaram a subir na tela, pois Osval Dias de Siqueira Filho, o produtor audiovisual Tiomkim, faleceu aos 68 anos.

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“O mais interessante era o modo como ele trazia o cinema para a vida cotidiana, não era algo descolado da vida dele. Ele estava envolto praticamente o dia inteiro”, relata o cineasta e amigo Fernando Severo. Os amigos contam que ele jamais parava e tinham dúvidas se de fato dormia. A criatividade transbordava nas atividades de jornalista, produtor de cinema, vídeo e fotografia. Trabalhou por 24 anos no Museu da Imagem e do Som (MIS) e participou da criação da Associação de Vídeo e Cinema do Paraná (AVEC-PR), que, em conjunto com outras entidades, levantou a bandeira do fomento ao cinema paranaense por meio de leis de incentivo. Também participava do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado do Paraná (SATED-PR) e militava em todas as frentes artísticas possíveis de política cinematográfica.

A menção de seu nome era sempre seguida por reconhecimento geral. A popularidade de Tiomkim era tão extensa quanto sua generosidade em compartilhar conhecimento, pesquisas, histórias e ideias. A prova mais evidente disso é o programa “Cinemaskope, A Maravilhosa Música do Cinema” que ele apresentou por 25 anos na Rádio Educativa pelo puro prazer de entregar às pessoas pílulas semanais de sua paixão por trilhas sonoras clássicas e transformar qualquer motorista que dirige no domingo à noite em protagonista de uma jornada cinematográfica. Há também o Cinemaskope versão portal, um blog que ele alimentava com notícias e pensamentos.

Produziu inúmeros filmes e curtas-metragens. Seu cinema experimental era feito de forma simples e eficaz, e com ele ganhou prêmios especialmente na frutífera fase entre os anos 1980 e 1990. Em 1989, foi premiado duplamente: pelo Salão Curitiba Arte V e pelo destino, que o levou até Praga, antiga Tchecoslováquia, no momento de transformação da história decorrente da queda do Muro de Berlim. O filme “Cenas de um Sonho Selvagem” foi premiado em 1991 em Vitória (ES) e era para ele um dos reconhecimentos mais especiais. Em 1997, foi a vez de “Rainha de Papel”, com Efigênia Rolim e Estevan Silvera, ganhar o prêmio Organização Católica Internacional (OCIC).

Nascido no Rio Grande do Sul, nos anos 1980, adotou Curitiba como morada. A partir daí, como ele mesmo dizia, passou a existir de verdade. A música permeia todo esse trajeto. Filho de maestro de orquestras de baile, trocou o nome Osval por Tiomkim para homenagear o maestro ucraniano Dimitri Tiomkin. “Até mais do que o cinema, destaco o amor dele pela música. Ninguém no mundo tinha uma musicalidade como a dele, era a coisa mais valorosa”, conta o cineasta, amigo e companheiro de trabalhos Estevan Silvera.

É Silvera quem está dirigindo um documentário sobre a vida de Tiomkim. “Trilha Sonora para uma Vida Inquieta”, nome cunhado pelo próprio protagonista do filme, tinha previsão de lançamento para abril deste ano, mas com o falecimento de Tiom, receberá novas perspectivas e deve ser lançado no ano que vem.

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