Há duas semanas, o Paraná vem adotando uma política mais ampla de testagem para o coronavírus. A média diária de novos testes registrados no boletim epidemiológico do estado dobrou desde então, assim como dobrou, também a média diária de novos casos de Covid-19. Como os testes, agora, não são apenas nos casos suspeitos graves da doença, o número indica a incidência de pacientes leves da doença, os principais vetores de contaminação. Nesta sexta-feira (5) a Secretaria Estadual de Saúde anunciou a realização de mais 1.506 testes e a confirmação de 527 novos casos da doença, o que indica que a cada três testes um teve resultado positivo. O número surpreende, pelo fato de que, quando se amplia a testagem, a tendência ser de diminuição na proporção de positivos, uma vez que não se está testando mais apenas os casos suspeitos graves.
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Com o aumento da capacidade laboratorial para processar os exames e a aquisição de mais testes, o estado deixou de restringir a testagem pública (farmácias e laboratórios já disponibilizam testes rápidos a qualquer interessado) a paciente hospitalizados, passando a recomendar, também, o teste em pessoas com sintomas leves pertencentes a grupos como profissionais de saúde e de segurança pública, pessoas do convívio destes profissionais, moradores e funcionários de instituições de longa permanência de idosos, pacientes considerados do grupo de risco (idosos ou portadores de doenças crônicas), trabalhadores em serviços essenciais e residentes em locais com alta incidência do vírus. Testando pacientes com qualquer sintoma de gripe nestes grupos, a expectativa era de um índice maior de testes negativos. O que não aconteceu.
Desde o dia 25 de maio, o estado registrou a realização de 1.214 novos testes por dia. A média da semana anterior foi de 656 novos testes. O primeiro efeito do aumento da testagem foi, como previsto, o crescimento no número de novos casos diários, com o recorde sendo registrado no último dia 3. Nestas duas semanas, Paraná confirmou, em média 261 novos casos da doença por dia. A média da semana anterior era de 121 confirmações diárias.
Na semana anterior à ampliação da testagem um a cada 5,3 testes tinha resultado positivo. Nas duas últimas semanas essa média baixou para 4,88. A proporção entre o total de testes e o número de casos confirmados vem caindo consideravelmente: em 4 de maio, era de um teste positivo para cada 9,8 testes; em 4 de junho, chegou a um caso confirmado para cada 6,4 testes.
Se o aumento do número de casos com a realização de mais testes já era esperado, a manutenção da proporcionalidade surpreende, uma vez que, anteriormente, com os testes realizados apenas em casos graves a probabilidade de um resultado positivo era considerada maior. “A gente só vinha investigando os casos graves, que representam, aproximadamente 15% do total dos casos. A gente não estava investigando os outros 85%, que são casos leves ou assintomáticos. O número de casos por testes, então, nos dava as informações sobre casos graves. Passamos, agora, a ter informações sobre o subgrupo casos leves. E, de forma até surpreendente, passamos a ter uma maior positividade neste subgrupo”, avalia o médico infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, do serviço de epidemiologia do Hospital de Clínicas de Curitiba. A manutenção nos mesmos patamares (316 e 314) no número de pacientes internados entre os boletins da última quinta-feira e o desta sexta-feira indica que a maioria dos 523 novos casos confirmados é de pacientes leves ou, até, já recuperados.
Para o infectologista, o aumento da testagem no estado é fundamental para a compreensão da situação da pandemia no Paraná e para o balizamento de políticas públicas. “Não podemos negligenciar a importância dos casos leves. A positividade se mantém, pelo menos, tão alta quanto a dos casos graves. E são justamente os casos leves que são os principais responsáveis pela transmissão da doença, pois são as pessoas que continuam trabalhando, circulando pela cidade”, diz. Para ele, o principal objetivo de se testar casos leves é identificá-los para que se possa adotar as medidas de isolamento adequadas. E, também, identificar os contatos deste paciente, que têm maior chance de desenvolver a doença.
O médico também explicou como o aumento dos testes moleculares (que detectam a presença do vírus no momento em que o paciente manifesta os sintomas) pode ser utilizado em paralelo com os testes rápidos (sorológicos) para o monitoramento da pandemia. “O PC-R [teste molecular] consegue detectar a doença no momento e o teste sorológicos consegue identificar o contato prévio com a doença, que pode ter ocorrido até meses antes. Isso ajuda muito nas políticas públicas, porque consegue detectar os casos em que não se pegou na fase aguda e os casos assintomáticos, que também são uma parcela importante. Os testes rápidos são fundamentais para compreender a velocidade da evolução da doença”, conclui.
O diretor geral da Secretária de Estado da Saúde (Sesa), Nestor Werner Júnior, explica que a política de ampliação de testes ainda está sendo implantada no estado e que, por isso, não há ainda uma avaliação da secretaria sobre os resultados obtidos até o momento. “Ainda não conseguimos analisar, é uma dinâmica muito rápida, vamos internalizar isso na secretaria para entender o que está acontecendo. A estratégia de intensificação dos testes ainda está sendo colocada a campo e o aumento do número de casos é natural. Nos dias anteriores, no entanto, a gente tinha outros fatores que poderiam estar causando o aumento no número de casos, principalmente á maior movimentação das pessoas nas últimas semanas, com a reabertura do comércio, o dia das mães. Agora, nesta última semana, estamos vendo, sim um aumento considerável nos testes diários. Temos que colocar isso no mapa, ver de onde está vindo, analisar os sinais e sintomas”, disse.
Werner Júnior destaca a importância de se passar a testar casos leves, para se ter um diagnóstico mais próximo do momento atual da pandemia. “Testando apenas os casos graves, a gente tinha um retrato do que ocorreu há 15 dias, o tempo entre essa pessoa se contaminar, agravar o quadro, fazer o teste e termos o resultado. Agora, poderemos saber onde a doença está no momento, já que os testes podem identificar casos no início dos sintomas, pacientes ativos, que podem estar transmitindo o vírus”, diz. “Agora a gente passa a ter o que a gente sempre queria ter, mais ferramentas diagnósticas para compreender o tamanho da epidemia”, acrescenta.
O diretor da Sesa reforçou que ainda não há um perfil dos casos positivos diagnosticados pela nova política de testes, mas reconheceu que a estabilidade no número de internados indica que tratam-se de casos leves. “Com a testagem dos casos leves, vamos ter elementos para analisar a necessidade de retomar medidas mais severas de isolamento, pois vamos saber onde está havendo contaminação, se é questão localizada, que precisa de intervenção pontual, se é uma situação controlada, ou se é algo mais amplo, que necessite de uma medida mais generalizada”, concluiu.
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