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Paraná mantém taxa de reprodução do coronavírus sob controle. O que significa isso?
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O Paraná conseguiu reduzir e vem mantendo próximo ao nível desejável de 1,0 a taxa de reprodução (fator R) do coronavírus no estado. O índice, que mede quantas pessoas estão sendo contaminadas por cada cidadão infectado pelo vírus, é um dos principais fatores de análise da evolução da pandemia em todo o mundo. Estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostra que esse índice vem caindo no estado desde 28 de abril, o que indica uma velocidade menor de propagação da doença. Confira a evolução de casos no estado.

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Conduzido pelos professores do departamento de estatística da UFPR Wagner Hugo Bonat e Paulo Justiniano Ribeiro Junior, em parceria com o setor de epidemiologia do Hospital de Clínicas de Curitiba, o monitoramento da taxa de reprodução do vírus no Paraná mostra que, após um pico de 3,45 em 7 de abril, o número vem caindo. Chegou ao seu menor índice em 21 de abril (0,85) e, em 6 de maio, último dia registrado até agora no sistema, que observa um intervalo de cinco dias para o registro de casos e óbitos, apresentava taxa de 0,89.

O índice paranaense é inferior ao de 1,49 medido para o Brasil pelo Imperial College London, que, com base nesta taxa, projeta que o país poderá registrar até 4.670 novas mortes nesta semana, ante as 2.734 registradas na semana anterior.

O fator R, ou Rt, é a taxa de transmissão de determinada doença em determinada região. O índice de 1,49 do país, por exemplo, indica que 100 pessoas infectadas contaminarão outras 149 pessoas, fazendo aumentar o número de novos casos. Com o índice de 0,89 do Paraná, 100 pessoas com o vírus estariam infectando outras 89, o que faria diminuir o número de novos casos.

“Mantendo-se esse índice abaixo de 1,0, significa que uma pessoa doente está contaminando menos que uma outra pessoa, o que indica o número de novos casos por dia tende a diminuir. O Paraná tem navegado perto do 1,0, mas não podemos nos iludir nem descuidar, se o índice estiver em 1,1 já significa um crescimento de novos casos a ponto de, um dia, levar ao colapso do sistema de saúde”, explica Ribeiro Junior. No dia 5 de maio, penúltimo dia analisado pela equipe da UFPR, o índice paranaense era de 1,1.

O professor salienta que os dados mais confiáveis para analisar a o potencial de contágio da doença são os de números de óbito, pela inexistência de dados confiáveis sobre número de casos. “Nós não temos o número de casos desta doença. O que se divulga é o número de testes positivos. Mas estamos testando apenas os casos suspeitos graves. Para não deixarmos o cálculo vulnerável a essa subnotificação e a uma eventual mudança na política de testes, com a chegada dos testes rápidos, por exemplo, estamos mais concentrados no número de óbitos, mesmo tendo um problema que queremos seguir tendo, que é o de ter dificuldade para regionalizar o cálculo onde os números ainda são baixos”, explica.

O estatístico conta que o Rt do Paraná é calculado a partir dos dados oficiais de óbitos, projetando valores conhecidos da literatura ou do histórico recente de outros países, como a o Rt inicial do vírus (potencial de contaminação em uma situação normal, sem medidas de prevenção ou distanciamento), o período médio que um paciente leva entre contrair o vírus e chegar ao óbito, o período que ele está em estágio de transmissor da doença e o tempo geracional, que é o número de dias em que uma pessoa que teve contato com alguém infectado pode levar para desenvolver a doença.

Médico infectologista que também trabalha no projeto, Bernardo Montesanti Machado de Almeida lembra que o R0 do coronavírus é 2,5. “O que significa que, sem medidas de prevenção, um contaminado tende a infectar mais de duas pessoas. O R0 do vírus influenza A H1N1pdm, que causou a pandemia de 2009 era de 1,7, por exemplo. Apesar de, aparentemente, ser pouca diferença, quando se coloca em uma perspectiva de várias gerações de transmissões, a diferença torna-se muito grande, devido ao caráter exponencial da curva”.

A médica intensivista Mirella Oliveira explicou, em entrevista ao podcast Pequeno Expediente, da Gazeta do Povo, que é a análise desta taxa de contaminação que embasa as decisões das autoridades de saúde de afrouxar ou apertar as medidas de isolamento social. “Quando essa taxa baixa, pode-se liberar um pouco mais a circulação de pessoas, quando sobe, precisa restringir mais. É natural, assim será nos próximos meses”, diz, “O relaxamento, no Paraná ocorreu antes da taxa estar abaixo de 1,0, então, há chances de aumento de casos nas próximas semanas”, comenta.

Paulo Ribeiro Junior lembra que entre uma pessoa ter contato com alguém contaminado, e manifestar os primeiros sintomas da doença, pode levar alguns dias, para a situação dela se agravar a ponto de fazer um teste, mais alguns dias, para sair o resultado do teste, mais 48 horas. “Assim, a liberação de circulação ou a restrição maior, não se reflete imediatamente, mas até duas semanas depois. Então, muito mais do que um número preciso, esse monitoramento da taxa de reprodução do vírus serve para se identificar tendências de crescimento ou queda para embasar decisões. É atenção constante a vários indicadores que vai nos ajudar a passar por essa pandemia”, conclui.

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