Consumido por uma pequena parcela dos paranaenses, o gás natural (GN) entrou em um importante debate que terá efeitos na economia do estado pelas próximas décadas. É que o setor público, o setor produtivo e a sociedade devem discutir a partir da próxima semana como se dará a prorrogação da concessão dos serviços de distribuição de gás natural.
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Hoje, essa distribuição é feita pela Companhia Paranaense de Gás, a Compagas, uma sociedade mista cujo maior acionista é a estatal Copel. É plano do governo, no entanto, passá-la para a iniciativa privada, que tem maior capacidade de investimentos.
Mas, se o gás natural é “para poucos”, por que a privatização da Compagas importa tanto?
Para responder a esta questão, é ponto importante entender o que é esta commodity. Diferentemente do gás que você muito provavelmente usa em sua cozinha, o gás liquefeito de petróleo (GLP), chamado também de “gás de cozinha”, o gás natural não é armazenado em botijões. Ele chega aos locais de consumo via gasodutos.
É papel dessas tubulações levar o gás extraído naturalmente, de reservas como o Pré-Sal, para usinas que fazem uma espécie de limpeza e, de lá, para os clientes finais. Via de regra, esses usuários, são empresas de médio e grande porte, como as de cerâmica, papel e celulose, alimentícia, siderúrgica e química. Embora representem menos de 5% dos clientes da Compagas, elas respondem por 85% do gás distribuído pela empresa. Também pode ser usado por usinas termelétricas, como complemento à geração das hidrelétricas, e por consumidores “pequenos”, como o comércio e condomínios.
As indústrias usam em larga escala o gás natural por uma série de motivos. Ele tem menor perda residual, o que impacta diretamente na eficiência. Além disso, seu fornecimento é contínuo -- não é preciso parar a produção para realizar trocas de botijões. Outro ponto é que as empresas ganham em espaço, sem precisar de alas para os cilindros de gás; precisam apenas das entradas das tubulações.
Na teoria, essas vantagens poderiam agradar também clientes residenciais. Não é o que acontece por motivos de infraestrutura. O país tem poucas tubulações de gás natural, o que torna o custo o sistema todo mais custoso, valendo a pena apenas para quem consome grandes quantidades da molécula. Além disso, o sistema de contratação desse serviço exige a compra de um volume mínimo, que costuma ser muito além do consumo de uma residência e, eventualmente, até de condomínios. É uma conta que não fecha.
Curiosamente, a maior carteira de clientes da Compagas é de usuários residenciais. São mais de 50 mil, ante perto de mil entre indústrias e outros CNPJs. Parece um número grandioso, mas é apenas um traço perto dos usuários residenciais de GLP, como comparação.
Apesar disso, melhorar o sistema de distribuição de gás natural interessa a todos, mais do que às empresas clientes. É que, em mercados mais maduros, o uso da molécula pelas indústrias tende a baixar o custo de produção, resultando em economia mais forte e preços mais baixos dos produtos. Além disso, gasto menor com o GN pode resultar em preço menor do GLP, que é um dos produtos obtidos na “limpeza” do gás natural.
Bem por isso, muitos países investem pesado em seu sistema de gás canalizado. O Brasil tem hoje 10 mil quilômetros de malha [de gasodutos], localizada sobretudo nas cidades costeiras -- 848 km estão no Paraná. A Europa tem 200 mil quilômetros. Os Estados Unidos, por sua vez, passam dos 500 mil quilômetros.
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