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Tornar o Paraná a "Arábia Saudita do biogás" virou uma fala recorrente do governador Ratinho Junior (PSD) que evidencia o foco da gestão estadual com o segmento. E esse caminho de desenvolvimento regional passa pela produção de biometano.
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A proposta foi reafirmada como um dos destaques do governo paranaense na última edição da feira de negócios do agro Show Rural, na semana passada, quando foi assinada uma série de protocolos para o desenvolvimento da cadeia de combustíveis renováveis. A liderança nacional do estado na produção de proteína animal, apontada por Ratinho Junior, é vista de forma conjugada com a oportunidade para o crescimento no setor de biogás.
“O Paraná produz 12 milhões de cabeças de porcos por ano. São quilos de estrume que podem virar biogás. Sobra para o produtor o biofertilizante, que pode ser vendido ou jogado no próprio pasto”, defede o governador do Paraná.
O biogás é um produto gerado a partir da degradação de matéria orgânica, na ausência de oxigênio. Já o biometano é produto da purificação do biogás, com a retirada de umidade, gás carbônico e sulfeto de hidrogênio. O resultado é um gás com maior poder de combustão e equivalente ao gás natural, quando usado como combustível automotivo. O biometano é um combustível de emissão quase neutra de carbono. A redução pode chegar a 90% em relação ao diesel, que tem emissão média de 2,6 quilos de CO2 por litro queimado.
Entre os compromissos assinados pelo governador e representantes de entidades do agronegócio está a ampliação do uso do biometano como combustível complementar, no abastecimento da frota rodoviária ligada ao campo. O projeto é chamado de “Corredores Rodoviários Sustentáveis do Paraná”.
O benefício está na retirada dos dejetos animais, resíduos agrícolas, lixo orgânico e resíduos industriais da natureza, transformando essa matéria em energia que vai favorecer a economia circular. "O biometano pode ser considerado o combustível do futuro, uma forma de transformar um passivo ambiental em renda e energia”, apresenta o coordenador do programa estadual Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR), Herlon Goetzer.
Proposta prevê abastecer postos de combustível com biometano
A proposta do projeto “Corredores Rodoviários Sustentáveis do Paraná” é estimular a introdução de biogás e biometano no transporte de cargas. A previsão é de fornecimento em postos de combustível localizados ao longo de 4.586 quilômetros de estradas, cruzando 147 municípios e abrangendo outras 159 cidades, em um raio de até 20 quilômetros.
“São as rodovias estaduais e federais com maior trânsito de transporte pesado no Paraná. A perspectiva é alcançar a meta até 2035, 2040. Isso depende muito da demanda e da conversão de veículos da inciativa privada. Quanto mais veículos a gás entrarem em circulação, mais rápido será o processo”, pontua Goetzer.
O estado conta com um corredor rodoviário sustentável que entrou em operação no ano passado, conectando os municípios de Paranaguá e Londrina, interligando as regiões leste e norte paranaenses. Em um percurso de 320 quilômetros, são 11 postos em funcionamento para o abastecimento de veículos leves e pesados, movidos a gás.
A rota permite a autonomia dos veículos, no trajeto do interior até o porto de Paranaguá, facilitando o escoamento da safra, além de integrar o Paraná às rotas de São Paulo e Santa Catarina. Até o final de 2025, a rota Maringá-Paranaguá deve entrar em operação - e o restante do estado deve ser atendido nos anos seguintes.
"Somos o primeiro estado que está fazendo a implantação de algo desse tipo, conectando o interior com o litoral”, afirma Rafael Lamastra, diretor da Compagas, concessionária da distribuição de gás canalizado no Paraná que auxilia no processo.
Mais da metade da produção do biogás na região Sul é feita pelo Paraná
Segundo um levantamento do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), o Paraná é líder em número de usinas de produção de biogás na região Sul do país, com 426 unidades instaladas, 348 delas a partir da agropecuária. Em Santa Catarina são 126 plantas e, no Rio Grande do Sul, apenas 84.
O Paraná foi responsável por 53% do volume de geração de biogás na região, no ano passado, com 461 milhões de Nm³ - unidade de medida metro cúbico normal, utilizada para medir a vazão de gases. Já as usinas de produção do biometano, autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) totalizam apenas 11 unidades, seis no estado de São Paulo, duas no estado do Rio de Janeiro, uma no Mato Grosso, uma no Ceará e uma no Paraná, instalada em Tamboara, com 41.200 Nm³/d.
O setor de transporte consome 33% do total de energia do Brasil. São 186 milhões de litros de diesel vendidos diariamente para o setor, dos quais 23% são importados, ou seja, cerca de 42 milhões de litros por dia.
“O biometano é muito competitivo economicamente com o diesel. O payback (tempo para recuperar o investimento na troca do motor ou caminhão, através dos lucros gerados) é de dois a três anos. Os veículos pesados correspondem a 6% de toda a frota brasileira, mas são responsáveis por mais da metade da emissão de carbono, com esse volume pequeno”, considera Renata Isfer, presidente executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás).
De acordo com ela, a transição energética do diesel para o biogás é uma tendência, em andamento acelerado. “Produtores de biometano e grandes indústrias estão nessa substituição. O próximo passo é que os produtores rurais, agricultores e pecuaristas façam a mudança, levando uma logística verde, uma mobilidade de baixo carbono. Um dos grandes desafios é o estimulo à demanda e o Paraná está contribuindo nisso”, explica.
Incentivos fiscais incentivam biogás e biometano
O Paraná possui a menor carga tributária sobre biogás e biometano no Brasil. O estado aplica uma alíquota de ICMS de 12% nas operações internas com os combustíveis, a partir da Lei nº 11.580/1996 que garantiu a redução na base de cálculo.
Além disso, o estado oferece incentivos fiscais adicionais, como o diferimento do ICMS em determinadas operações e crédito presumido para distribuidoras de gás que adquirem biogás e biometano de produtores locais.
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