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Rota da Fé, no interior do Paraná
Peregrinos percorrem os cerca de 100 quilômetros da Rota da Fé, no interior do Paraná.| Foto: Divulgação

O Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, é um dos destinos de turismo religioso mais procurados em todo o mundo. Há vários percursos, que vão desde o mais curto, Finisterre, com cerca de 90 quilômetros, até o mais longo, Norte, com mais de 820 quilômetros. Em qualquer um deles, os peregrinos seguem motivados por devoção, por voto ou por piedade pelo caminho das setas amarelas até a cidade de Compostela, colocando não só a fé à prova, mas também a preparação física e mental.

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E parte dessa preparação pode ser feita na Rota da Fé, um trecho de pouco mais de 100 quilômetros localizado no interior do Paraná. O caminho que liga as cidades de Campo Mourão e Fênix, no centro-oeste do estado, foi certificado como um trajeto de iniciação para o tradicional Caminho de Santiago de Compostela em novembro de 2022. Agora, no início de 2023, a Rota da Fé recebeu um reconhecimento internacional, o Prêmio Excelência Turística, durante a mais recente edição da Feira Internacional do Turismo (Fitur), realizada na Espanha.

Rota da Fé foi reconhecida pela sustentabilidade

Os 103 quilômetros pelo território paranaense podem ser percorridos entre quatro e cinco dias, passando por 27 pontos turísticos nas cidades de Campo Mourão, Corumbataí do Sul, Barbosa Ferraz e com término em Fênix, onde estão as ruínas da antiga Vila Rica de Espírito Santo, fundada em 1570 pelo governo espanhol. A escolha do trajeto ocorreu em função de a região ter abrigado um povoado jesuíta e indígena no século XV. A Diocese de Campo Mourão foi pioneira na implantação de caminhos religiosos.

“Somos o berço do turismo religioso e sustentável, que inclui o plantio de árvores e a soltura de peixes pelos peregrinos que percorrem a Rota da Fé. Temos esperança de que esse novo caminho possa trazer desenvolvimento para agricultores, artesãos e para toda a economia local. É um pequeno caminho, mas que abre um potencial enorme por ser perto de Foz do Iguaçu e de outros roteiros do turismo internacional”, ressaltou o padre Gaspar Gonçalves da Silva, assessor do Turismo Religioso e Sustentável da Diocese de Campo Mourão.

No final da rota, na cidade de Fênix, deve ser erigida uma réplica da antiga cidade jesuíta de Vila Rica do Espírito Santo, que havia no local. “As ruínas ainda não são abertas para a visitação, mas serão quando o Caminho de Santiago for consolidado. O convênio com a Espanha vai atrair recursos para a gente fazer esse investimento no local, com a construção de uma réplica da cidade e da igreja jesuíta”, explicou o prefeito de Fênix, Altair Molina.

O arquiteto argentino Rúben Moyano, idealizador da Rota da Fé, considerou que a sustentabilidade do projeto é um dos fatores que mais chamou a atenção dos avaliadores da Fitur. “A Rota da Fé começou a ser idealizada em 2006 e, desde então, realizamos 62 edições. Ela foi criada para ser feita por toda a família dentro de uma proposta que fosse economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente adequada”, apontou.

Rota da Fé tem potencial para impulsionar turismo em toda a região

Um caminho inicial de Santiago de Compostela no Paraná, avaliou Moyano, pode influenciar diretamente o turismo de toda a região, inclusive os países vizinhos. “Poder público local, regional e até nacional e a inciativa privada precisam trabalhar em conjunto porque o benefício não vai ser só para a região de Campo Mourão, mas para todo o Paraná, o Brasil e os países vizinhos. Um turista europeu que visitar a região vai passar 20 a 30 dias e, depois de fazer o iniciático, vai querer conhecer as Cataratas do Iguaçu, o Pantanal, Curitiba, Paraguai e Argentina, por exemplo”, comentou.

Para poder atender um número cada vez maior de peregrinos, motivados pela certificação como caminho iniciático de Santiago de Compostela, a Rota da Fé deve passar por mudanças e melhorias. Um plano diretor será criado com base na visita de uma consultoria europeia especializada, que visitará o percurso nas próximas semanas. São esperadas indicações de investimentos em infraestrutura de atendimento aos peregrinos, como a ampliação de ofertas de pousadas e banheiros, além de melhorias na sinalização e na segurança para os frequentadores.

Projeto paranaense pode inspirar outros caminhos iniciáticos pelo mundo

Este trabalho de revitalização e aplicação de benfeitorias tem previsão de quatro anos e deve envolver o poder público estadual, os municípios cortados pela Rota da Fé e também a iniciativa privada. “O trabalho feito pela organização da Rota da Fé foi essencial para que o caminho fora de Santiago de Compostela fosse implantado no Paraná. E já temos fila de espera de outros países”, explicou o presidente da Associação Internacional de Cooperação Turística (Asicotur) e chanceler da Ordem de Santiago de Compostela, Alejandro Carballo.

A criação de novos produtos turísticos oriundos do Caminho de Santiago é uma iniciativa da Asicotur com o objetivo de incentivar os peregrinos ao redor do mundo a percorrer a rota original. O projeto pioneiro no Paraná vai ajudar na implantação de trajetos parecidos em outros países, de acordo com Carballo. "Para nós será uma sorte que será feito aqui, um lugar que reúne características semelhantes com o caminho original nos aspectos espiritual, turístico e cultural. Vai servir de exemplo para outros países, que poderão ver como foi feito no Paraná", disse.

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