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A região Sul do Brasil, responsável por mais de 16% do PIB nacional, cresce a taxas de 8% ao ano, mas enfrenta o desafio urgente de transformar planejamento logístico em execução. O alerta foi dado durante o seminário "Logística no Brasil", realizado nesta terça-feira (26) em Curitiba (PR), que reuniu autoridades, empresários e especialistas para debater entraves e soluções para a infraestrutura da região estratégica para o agronegócio e a indústria.
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O evento foi promovido pelo Valor Econômico em parceria com a Editora Globo e órgãos do governo federal. O coordenador-geral de Política de Planejamento do Ministério dos Transportes, Rodrigo Ferreira, defendeu que o Plano Nacional de Logística (PNL) busca ser mais do que um documento técnico. “O planejamento é um processo, não apenas um relatório. É preciso que converse com as demandas da sociedade e dê previsibilidade para o setor privado”, afirmou.
Marcelo Vinaud Prado, diretor de Mercado e Inovação da Infra S.A., órgão vinculado ao governo federal, ressaltou a importância dos planos estaduais de logística no Sul, elaborados em conjunto por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Para ele, a região tem “imensos desafios e oportunidades”, com destaque para a modernização da malha ferroviária e a ampliação da infraestrutura portuária. “Há uma cultura de acreditar no planejamento. O desafio é garantir sua execução, com projetos sustentáveis e resilientes”, disse.
Expansão dos portos tem potencial de auxiliar na solução de problemas da logística no Sul do país
O diretor de operações da empresa Portos do Paraná, Gabriel Vieira, lembrou que o leilão de concessão do canal de acesso em Paranaguá deve atrair investimentos bilionários e ampliar a competitividade frente a vizinhos. “Com dragagens e aprofundamento, vamos receber navios maiores e reduzir custos logísticos”, afirmou.
A expansão da capacidade também foi defendida pelo gerente institucional do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Rafael Stein. O terminal de contêineres, maior empregador de Paranaguá, movimentou 1,5 milhão de TEUs - medida equivalente a contêineres de 20 pés de comprimento - em 2024 e prevê novos aportes de R$ 400 milhões. “No setor portuário não existe estagnação. Ou você investe, ou perde espaço para concorrentes”, pontuou.
Já as estradas — como principal modal para escoamento da produção — voltaram a ser elencadas como ponto de atenção pelo presidente da Federação Empresas Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), coronel Sérgio Malucelli. Para ele, os gargalos rodoviários ameaçam o crescimento do setor produtivo.
Ele cobrou a duplicação da BR-277 e a criação de novos acessos ao litoral. “Temos só uma estrada chegando a Paranaguá. Se não resolvermos, em poucos anos o escoamento estará colapsado”, disse.
O seminário mostrou que, apesar da eficiência crescente dos portos e avanços em planejamento, a Região Sul ainda enfrenta estrangulamentos em rodovias, ferrovias e na diversificação da matriz logística. A mensagem foi clara: sem execução consistente, o Brasil continuará acumulando planos enquanto perde competitividade global.
O setor produtivo também manifestou preocupação com a competitividade internacional. A consultora Andrea Cordeiro pontuou que gargalos logísticos encarecem as exportações e que o Brasil precisa abrir novos mercados diante de barreiras tarifárias recentes impostas pelos Estados Unidos.
A necessidade de continuidade nos investimentos para o avanço da logística no Sul do país foi consenso. Ex-governador do Paraná e atual presidente do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul), Orlando Pessuti afirmou que obras estruturais não podem ser interrompidas a cada troca de gestão. “Falta visão de longo prazo. Precisamos pensar como país e não apenas em mandatos”, disse.
Já o superintendente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), João Arthur Mohr, reforçou que a indústria regional cresce a taxas de 8% ao ano, mas depende de infraestrutura para manter a competitividade. “Não adianta apenas planejar. Ou executamos os projetos ou teremos que pedir para nossa indústria parar de crescer, porque não haverá como escoar a produção”, alertou.
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