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Madeira e peixes

Setores estratégicos da economia do PR começam a sentir efeitos do tarifaço de Trump

Tarifaço Paraná
Setor madeireiro reduz produção no Paraná após anúncio de tarifaço de Trump. (Foto: Rodrigo Felix Leal/Arquivo AEN)

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O tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump às importações brasileiras atinge em cheio setores estratégicos da economia do Paraná, que posicionam suas exportações quase exclusivamente para os Estados Unidos. E mesmo antes de valer o aumento da taxa para 50%, marcado para começar em 1º de agosto, os efeitos já são sentidos, com redução na produção e liberação de férias coletivas para a manutenção de empregos.

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O setor madeireiro, por exemplo, exportou no primeiro semestre deste ano um total de US$ 288,5 milhões para os EUA, de acordo com dados oficiais do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Além do montante em si, alguns segmentos dependem totalmente do país norte-americano, chegando a uma participação de 98,35%, no caso da madeira de coníferas perfiladas:

  1. Madeira de coníferas perfilada - 98,35% (US$ 102,6 milhões)
  2. Portas e respectivos caixilhos, alizares e soleiras - 96,43% (US$ 34,7 milhões)
  3. Painéis para soalhos montados - 94,35% (US$ 4,9 milhões)
  4. Madeira de espécies não coníferas perfilada - 73,95% (US$ 4,4 milhões)
  5. Outras marcenarias e carpintarias de madeira - 73,20% (US$ 3,1 milhões)
  6. Outras madeiras compensadas - 34,10% (US$ 105 milhões)
  7. Madeira de coníferas - 33,38% (US$ 26,6 milhões)
  8. Móveis de madeira - 25,31% (US$ 7 milhões)

A reação do setor madeireiro foi imediata. A BrasPine, que trabalha nos segmentos de molduras, pellets e florestal, anunciou que concederá férias coletivas para 700 funcionários na fábrica de Jaguariaíva (PR) — a unidade tem 1,1 mil colaboradores. A sobretaxa de Trump impacta principalmente a produção de molduras, que é destinada em sua maioria para os EUA.

Em nota, a empresa informou que está “colocando em prática um conjunto de ações previamente planejadas, com foco na adequação da capacidade produtiva e na sustentabilidade do negócio". Além disso, confirmou a concessão das férias coletivas e o "reforço nas práticas de controle orçamentário, com priorização de investimentos essenciais e atenção rigorosa à gestão financeira”. A BrasPine tem outra unidade em Telêmaco Borba (PR), na qual a equipe também está de férias coletivas.

A Millpar, com sede em Guarapuava (PR), também reduziu a força de trabalho temporariamente. Com aproximadamente 93% da produção destinada para os EUA, a empresa decidiu dar férias coletivas por 15 dias, inicialmente, a 640 funcionários, o que representa cerca de 60% da força de trabalho. No Paraná, cerca de 400 mil pessoas trabalham direta ou indiretamente no setor madeireiro, incluindo os trabalhadores florestais e profissionais dentro das indústrias do segmento.

A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre Florestas), que representa aproximadamente metade da área total de plantios comerciais no estado, comunicou que o impacto pode ser profundo, colocando em risco empregos, arrecadação e investimentos em uma cadeia que é vital para a economia nacional. O presidente da Apre Florestas, Fabio Brun, destacou o fato de que essa nova tarifa pegou o setor despreparado. “O que torna essa decisão ainda mais complicada é o fator surpresa. Não esperávamos que isso fosse anunciado agora”, falou.

O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), disse na última sexta-feira (18) que o tarifaço “cria um certo desconforto para alguns setores”, citando na sequência o setor madeireiro. “Mas como sabemos que os Estados Unidos dependem muito disso para sua economia, acredito que o governo norte-americano vai ter bom senso e o governo brasileiro terá bom senso de poder buscar uma solução que seja boa para todos”, opinou.

A declaração, que foi a primeira sobre o assunto, foi dada nove dias após o anúncio de Trump —  o governador estava de férias, mas mesmo assim comentou outros assuntos do Paraná nas redes sociais durante o recesso.

Para além do Paraná, o setor madeireiro já sofre os efeitos em âmbito nacional. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) afirmou que "a maioria dos contratos estão sendo cancelados pelos importadores norte-americanos e muitos embarques foram suspensos". A entidade também informou que há cerca de 1,4 mil contêineres já embarcados e em trânsito para os EUA, além de 1,1 mil contêineres posicionados em portos aguardando embarque. "Nesse momento, nosso grande desafio é lutar pela manutenção dos empregos e continuidade das atividades industriais", completou a Abimci.

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Setor de peixes no Paraná também é afetado pelo tarifaço

O Paraná é o estado brasileiro que mais exporta tilápia, representando cerca de 70% de tudo o que sai do país. Entre os 27 países que compram o produto do Paraná, os Estados Unidos são o principal destino: em 2024, foram enviadas para lá 7,4 mil toneladas de tilápia, um aumento de 40,5% na comparação com o ano anterior.

A produção de tilápia mexe diretamente com a economia de algumas pequenas cidades do Paraná. Nova Aurora, por exemplo, produziu 19,5 mil toneladas de tilápia no ano passado, rendendo R$ 179,5 milhões. Palotina e Assis Chateaubriand também são destaques na produção.

Como resultado, os filés de peixe, fresco ou refrigerado, compõem o item paranaense com maior proporção de exportação para os EUA — entre setores que exportaram mais de US$ 1 milhão. Nos primeiros seis meses de 2025, foram exportados US$ 11 milhões, o que representa 98,88% do total.

No caso dos peixes congelados, o mercado norte-americano responde por 96,33% das exportações, totalizando US$ 5,2 milhões. Abaixo, os setores mais impactados no Paraná com a tarifa de 50% de Donald Trump sobre produtos brasileiros:

  1. Filés e outras carnes peixe, fresco ou congelado: 98,88%
  2. Madeira de coníferas perfilada: 98,35%
  3. Gorduras de animais das espécies bovina, ovina ou caprina: 97,97%
  4. Veleiros, não infláveis, com ou sem motor auxiliar: 97,45%
  5. Portas e respectivos caixilhos, alizares e soleiras: 96,43%
  6. Outros peixes congelados (exceto fígados e ovas): 96,33%
  7. Painéis para soalhos montados: 94,35%
  8. Gorduras, óleos e respectivas frações, animal ou vegetal: 89,41%
  9. Transformadores de dielétrico líquido: 88,56%
  10. Peças de máquinas de energia elétrica: 82,46%

A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), que representa dezenas de produtores de peixes do Paraná, afirmou que a sobretaxa “representa uma ameaça concreta à continuidade de contratos comerciais e, sobretudo, à manutenção de postos de trabalho em território nacional” e espera uma “atuação urgente do governo brasileiro” para minimizar os efeitos.

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Atualização

Esta reportagem foi atualizada com o posicionamento da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) e com a informação de que funcionários da unidade da BrasPine em Telêmaco Borba também estão em férias coletivas.

Atualizado em 23/07/2025 às 17:15

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