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O impacto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros foi o tema central do 5º Seminário de Negócios Internacionais, que teve início na terça-feira (12) em Curitiba (PR). Organizado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e pelo World Trade Center Curitiba (WTC), o evento reuniu, até esta quinta-feira (14), mais de 1,8 mil participantes de mais de 50 países, entre empresários, autoridades e especialistas.
As sobretaxas de até 50% anunciadas pelo governo norte-americano foram classificadas como um desafio imediato para a indústria nacional, especialmente para setores que dependem fortemente das exportações para o mercado dos EUA. No Paraná, a preocupação é ainda maior, já que o estado possui uma balança comercial diversificada, mas fortemente exposta aos Estados Unidos.
Lucas Ferraz, diretor do Centro de Negócios Globais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário de Comércio Exterior, alertou que a medida pode acelerar uma reconfiguração da geografia industrial na América Latina. “Perdurando essa taxação, uma alternativa é realocar a produção para a Argentina, pagando tarifa de 10% ao invés de 50%. E ainda manter as vendas no Brasil com tarifa zero, por causa da zona de livre comércio”, exemplificou o especialista.
O uruguaio Ignacio Del, diretor-geral do WTC Montevideo, apontou as zonas francas do país como opção estratégica. “Grandes empresas organizam centros de serviços compartilhados no Uruguai. Planejam logística e comércio usando as zonas francas como complemento à cadeia de valor, com isenção de impostos, desde que empreguem entre 50% e 75% de cidadãos uruguaios”, explicou.
Para o diretor da Fiep e coordenador do Conselho Temático de Negócios Internacionais, Paulo Pupo, substituir rapidamente o mercado norte-americano é inviável. “Quando o governo diz ‘vamos abrir novos mercados’, na prática isso é só 20% viável. Alguns produtos podem se adaptar, mas não temos como trocar de mercado rapidamente. O Paraná está 100% exposto na sua balança comercial”.
O presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, destacou que a vigência de acordos internacionais deve servir de alerta para a indústria nacional: “Competitividade mundial também se mede nas tentativas de acordo em blocos como Mercosul e União Europeia. Quando queremos vender lá, eles também querem vender aqui. E há empresas brasileiras que terão dificuldades para existir com a abertura de mercados, por isso o debate sobre competitividade é tão importante”.

Debates estratégicos e exemplos práticos são discutidos em seminário
O 5º Seminário de Negócios Internacionais, que também sedia a WTCA Latin America Conference, trouxe cinco painéis temáticos e uma palestra magna. A abertura ficou por conta do painel “Novo cenário de negócios internacionais”, que discutiu o reposicionamento do Brasil no comércio exterior em meio às mudanças geopolíticas.
Ao longo dos debates, executivos e líderes empresariais destacaram que a instabilidade global exige um novo perfil de liderança e maior integração regional. No painel “O papel dos líderes no atual cenário global”, o diretor-executivo da Electrolux para a América Latina, Leandro Jasiocha, ressaltou a importância da diversificação: “Precisamos reduzir o risco crescendo em outros mercados da América Latina, para que o Brasil não fique excessivamente relevante na nossa receita.”
No mesmo painel, representantes do setor financeiro e de gestão de investimentos destacaram que o cenário interno — com juros altos e baixo crescimento — agrava o desafio das exportações e exige alternativas de financiamento e proteção cambial para empresas expostas ao comércio internacional.
A programação incluiu ainda o “WTC Woman – Liderança feminina nos negócios internacionais”, com histórias de empresárias que expandiram suas operações para mercados como Estados Unidos, Dubai e Europa, e o painel “Exportando com sucesso – o potencial da indústria paranaense no mercado global”, que trouxe exemplos de empresas do estado que, com apoio de entidades como a Fiep e a Invest Paraná, conquistaram espaço em diferentes continentes.
Seminário de Negócios Internacionais aponta caminhos para exportações brasileiras
Além dos debates, a palestra magna do presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, abordou a inteligência artificial como ferramenta de crescimento. “As empresas não precisam de uma estratégia de IA, mas sim de uma estratégia de negócios impulsionada por IA”, abordou Coelho.
O evento também marcou o lançamento do Pacto-X, plataforma desenvolvida pela Fiep para monitorar comércio, tarifas e oportunidades externas. “Nela, os empresários poderão encontrar informações para apoiar a tomada de decisão, defender interesses e prospectar novos mercados”, explicou Sidartha Ruthes, gerente-executivo do Observatório da Indústria da Fiep.
Para Daniella Abreu, presidente do WTC Curitiba, a essência do seminário é promover conexões que se transformem em negócios concretos. “Nosso país está pagando um preço alto por não liderar negociações estratégicas. É hora de abrir portas, fronteiras e mercados para garantir um ambiente de negócios saudável”, alertou.
Com a participação de mais de 30 representantes de escritórios do WTC das Américas, a conferência paralela reforçou a importância da diplomacia empresarial. Como resumiu Crystal Edn, diretora-executiva da WTCA: “Acordos comerciais podem abrir portas, mas cabe a nós atravessá-las. O comércio global começa aqui, no diálogo e na visão compartilhada de sucesso.”
O consenso entre os participantes é claro: diante do tarifaço e das mudanças na ordem econômica global, a indústria brasileira precisa ser ágil, investir em inovação e fortalecer parcerias regionais para manter sua relevância nos mercados internacionais.
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