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Em Curitiba

Vereadora do PSOL enfrenta pedido de cassação por defender material sobre crack, LSD e cogumelos

Evento promovido pela PSOL na CMC teve distribuição de cartilha chamada "Apologia ao cuidado"
Evento promovido pelo PSOL na Câmara de Vereadores de Curitiba teve distribuição de cartilha chamada "Apologia ao cuidado" (Foto: Carlos Costa/CMC)

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Uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) na última semana provocou reações de repúdio entre parlamentares locais. O evento foi organizado pela vereadora Professora Angela (PSOL) com a proposta de debater "estratégias e ações de segurança pública no combate ao tráfico de drogas e à violência urbana", mas acabou causando controvérsia após a distribuição de uma cartilha que, segundo parlamentares contrários à iniciativa, faz apologia ao uso de substâncias ilícitas.

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O material em questão orientava sobre o uso de drogas como LSD, crack e cogumelos alucinógenos, com sugestões do que chamava de “uso seguro”. Dez vereadores se manifestaram publicamente contra o conteúdo, que foi classificado por alguns como crime e afronta ao Legislativo local.

Durante a audiência, a vereadora Professora Angela defendeu a iniciativa. “A nossa cartilha tá linda, tá? E vou dizer que tem que ter bastante coragem para colocar ela aqui dentro também”, afirmou. Segundo a parlamentar, a proposta era ampliar o debate sobre a política de drogas, tratando o tema como uma questão de saúde, direitos e autonomia, e não apenas como uma pauta policial. 

Muitos parlamentares, no entanto, criticaram o material. O vereador Da Costa (União) classificou a cartilha como “gravíssima e deplorável” e afirmou ter protocolado um pedido de cassação do mandato de Professora Angela, além de ter encaminhado o caso ao Ministério Público do Paraná. Ele leu um trecho da cartilha durante a sessão plenária: “conheça a substância e inicie em pequenas quantidades”, em referência ao LSD. “Se isso não é apologia, então eu não sei mais o que é”, afirmou.

Veradores repudiam cartilha e afirmam que ela faz apologia ao uso de drogasVeradores de Curitiba (PR) repudiam cartilha e afirmam que material faz apologia ao uso de drogas. (Foto: Carlos Costa/Câmara Municipal de Curitiba)

Na representação por quebra de decoro parlamentar, o vereador do União alega que a Câmara foi usada indevidamente para a "promoção ideológica de legalização de drogas" com a distribuição pública de material em apologia ao uso de substâncias ilícitas. Além disso, ele acusa a parlamentar do Psol de manipulação do "processo legislativo mediante ocultação da real natureza do evento", que teve a audiência aprovada pelos vereadores da Casa.

"O que se viu foi um evento de promoção de pautas antiproibicionistas e de apologia à legalização do uso de drogas ilícitas. Nesse sentido, não existiu combate ao tráfico de drogas, mas a defesa de teses permissivas ao consumo de drogas, o que afronta a decisão do plenário referente a aprovação da audiência pública", protocolou o vereador Da Costa.

A vereadora Delegada Tathiana Guzella (União) disse que houve um “crime ocorrido dentro da Casa” e alertou para possíveis violações a tratados internacionais aos quais o Brasil é signatário. Já o vereador Sidnei Toaldo (PRD), presidente da Comissão de Saúde e Bem-Estar Social na Casa, afirmou ter recebido diversas mensagens de cidadãos revoltados e alertou para riscos à saúde pública.

Outros vereadores, como Carlise Kwiatkowski (PL), Fernando Klinger (PL), Meri Martins (Republicanos), Guilherme Kilter (Novo) e Eder Borges (PL), também se manifestaram contra o material. Kwiatkowski destacou o impacto da dependência química nas famílias e Klinger afirmou que o conteúdo distribuído representava uma “falta de responsabilidade”.

Bastante enfático em seu posicionamento também foi o vereador Kilter: “Curitiba contra as drogas. Lugar de maconheiro não é na Câmara de Curitiba”. Borges, por sua vez, defendeu que a chamada "redução de danos" deve priorizar a retirada do usuário das drogas, e não a orientação sobre o consumo.

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Defensores da legalização da maconha e de mudanças na política sobre drogas participaram da audiência

A audiência contou com a participação de convidados que defendem a legalização da maconha e mudanças na política de drogas. A indígena Kixirrá Jammadi, militante da Marcha da Maconha, afirmou que a planta tem sido utilizada há séculos por suas alegadas propriedades medicinais. Para ela, a criminalização tem raízes “racistas e colonialistas”. 

Também participaram do evento o sociólogo Henri Francis, do Movimento Policiais Antifascismo, e o advogado André Feiges, da Comissão de Política sobre Drogas, ambos com discursos favoráveis a uma abordagem “mais humanista” e crítica ao modelo atual de repressão.  A psicóloga Kássia Gonzáles, mobilizadora da Associação Brasileira de Redução de Danos, defendeu o acolhimento de usuários de drogas.

Segundo ela, é necessário oferecer cuidado e assistência, considerando principalmente o impacto das substâncias na saúde mental. “Foi um encontro riquíssimo que contou com especialistas, ativistas e movimentos sociais da cidade que discutem os problemas gerados pelo proibicionismo”, explicou a vereadora Professora Angela.

Diante da repercussão negativa, o presidente da Câmara, Tico Kuzma (PSD), reiterou que a audiência foi um instrumento legítimo de participação popular, mas que os parlamentares não endossam excessos cometidos durante o evento. Ele também destacou que os posicionamentos apresentados não refletem a posição institucional da Câmara Municipal de Curitiba.

A presidência da Câmara divulgou um posicionamento afirmando que a instituição “não compactua com qualquer tipo de excesso, distorção ou eventual desvio de conduta que possa configurar apologia ao uso de drogas”. O líder do governo municipal na Casa, vereador Serginho do Posto (PSD), afirmou que a prefeitura de Curitiba não teve qualquer participação na audiência, nem por meio de financiamento nem por presença de servidores, e que o Executivo municipal não compactua com o conteúdo apresentado.

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