Quem mora em Curitiba e tem um olhar mais atento deve ter percebido que a cidade vem servindo como cenário para campanhas publicitárias de grandes marcas como Renner, Sadia e XP. Na capital paranaense também foi gravada a primeira campanha do Instagram no Brasil. Bons profissionais, deslocamento mais simples e rápido e cartões-postais atraentes são alguns dos motivos que fazem da cidade um dos grandes polos publicitários do país. Nos bastidores da produção audiovisual, um nome é onipresente e responsável por muito do que é filmado por aqui: a produtora Nani Matias.

No mercado de publicidade e propaganda há pouco mais de 20 anos, Nani tem formação em Rádio e TV e, por anos, foi radialista, focada em programas de música brasileira e notícias. "Eu era apaixonada pelo rádio", relembra. Um dia, uma amiga começou a namorar um produtor de cinema que precisou de ajuda com as locações, e indicou Nani para o trabalho por ela conhecer bem a cidade. "Ele gostou da minha proatividade e me chamou para fazer outro trabalho", conta.  Até chegar o momento em que conciliar as duas profissões ficou impossível, e ela migrou de vez para a publicidade.

Diretora de Produção e fundadora da Marmotas Produções, Nani atua no setor de production service, que é quem executa o projeto. Na rodagem de um filme publicitário, essa é a área responsável por toda a parte de montagem de equipe, equipe técnica, pesquisa e aluguel de locações, contratação de elenco, figurino, catering e equipamentos de locação. "Nada numa produção acontece sem que o diretor de produção saiba. Ele é o coração do projeto", diz Nani.

O esquema de filmagem das propagandas se assemelha muito ao cinema, mas em um período mais curto, com cerca de três a quatro semanas de produção e de um a cinco dias para as filmagens. O ritmo de trabalho de Nani e equipe é intenso, com uma média de seis filmes por mês. Os equipamentos são os mesmos usados em longas-metragens, e conta com funções como as de diretor, diretor de cena, assistente de câmera, entre outros. "Se vamos filmar em uma casa de campo, mas o diretor muda de ideia e quer uma praia, quem dá essa palavra se é viável ou não é o diretor de produção", explica Nani.

A cada filme, são mobilizadas, em média, 180 pessoas diretamente. Indiretamente, a filmagem de uma propaganda chega a envolver até mil pessoas. "Somos uma indústria geradora de renda", fala Nani. Segundo ela, a produção audiovisual de Curitiba só não vive um boom ainda maior pela falta de apoio do poder público. "A comunicação social já está mais aberta, mas aqui preciso lutar para filmar num parque. E não queremos fazer isso sem dar uma contrapartida social, para que a gente devolva algo para a sociedade e a cidade", frisa.

Olhar para a sustentabilidade e inclusão é outra preocupação da produtora: no set dos filmes que produz, todo o lixo é separado e reciclado, sendo que o orgânico é encaminhado para compostagem e devolvido em mudas de plantas e adubo, que são distribuídos para a comunidade. Nani também busca abrir espaço para outras mulheres em um mercado que ainda é extremamente masculino. "Procuro sempre colocar muita mulher no mercado de trabalho, pessoas trans, pretas. Busco formar uma equipe bem diversa. A publicidade precisa ser algo que una e aproxime as pessoas, e não que aumente as diferenças", acredita Nani.

Um dos principais cartões-postais de Curitiba e ícone da arquitetura modernista no Paraná, o Teatro Guaíra foi cenário para uma campanha lançada pela Rico, empresa do Grupo Xp Inc., em novembro, que propõe que as pessoas "furem a bolha" de seus investimentos, e que teve como protagonista a apresentadora da Globo e ex-BBB Ana Clara Lima. "Recebemos o roteiro que falava sobre pessoas dentro de bolhas e a necessidade de ser um espaço urbano. Solicitamos as autorizações e filmamos duas diárias no Guaíra", conta Nani sobre o trâmite da filmagem.

Prédios e pontos turísticos como o Guaíra são alguns dos fatores que vêm atraindo os diretores de publicidade Brasil e aquecendo o mercado de produção audiovisual de Curitiba. A diversidade de paisagens próximas da cidade, a exemplo de áreas rurais como a Colônia Witmarsum, que fica a 60 km de distância da capital, ou do litoral, também ajudam. "Se em um mesmo filme precisamos dessas cenas rurais e urbanas, Curitiba tem. E isso atrai muito os clientes", diz a produtora.

Na avaliação de Nani, o mercado de produção audiovisual deve continuar crescendo na cidade nos próximos anos, seja para filmes publicitários ou para produção de conteúdo. "A Netflix estava rodando um longa-metragem aqui recentemente e temos vários orçamentos. Além da publicidade, teremos muita coisa de conteúdo, como séries e longas, sendo feitos por aqui", aposta Nani.