Floresta de livros
Detalhes mágicos se destacam no novo painel de Denise Roman no Portão Cultural
Pessoas e animais são personagens da floresta mágica criada por Denise. | Leo Flores
As obras da artista plástica Denise Roman retratam um mundo mágico, com personagens que parecem ter saído de um conto de fadas. E é esse universo lúdico criado pela curitibana que compõe o novo painel da Casa de Leitura Wilson Bueno, localizado dentro do Portão Cultural, em Curitiba. O mural, de 5 x 3 metros, homenageia o escritor que dá nome à biblioteca. Utilizando apenas giz de cera preto, a artista ilustrou uma floresta onde personagens leem livros de Bueno, cronista e poeta paranaense falecido em 2010 em Curitiba, cidade que adotou como casa desde o fim da década de 1970.
Entre as referências ao autor, há estandartes com algumas de suas frases e bandeiras com títulos de livros de sua autoria. Um menino acompanhado de caneta e caderno, na parte inferior da obra, representa Bueno como criança. A ilustração monocromática é contrastada pela tinta magenta usada sobre pétalas de flor de paineiras que foram aplicadas sobre o desenho. “Estava trabalhando na Casa de Leitura da Praça da Espanha, onde há muitas paineiras. Comecei a pegar flores e fiz vários trabalhos com as pétalas, que entinto como se fossem uma matriz e aplico sobre a parede”, explica a artista.
Denise levou cerca de quatro anos para finalizar o mural. O processo começou em 2016, durante uma atividade promovida na Casa da Leitura em comemoração ao aniversário do Bueno. A obra foi finalizada em março de 2020 e estava prestes a ser inaugurada quando foi decretada a pandemia. A inauguração aconteceu somente no último mês de março, junto com a abertura da exposição no Museu Municipal de Arte (MuMA), também localizado no Portão Cultural, que celebrou os 43 anos de carreira da artista plástica.
O convite para criar o mural emocionou Denise, que manteve uma longa parceria de trabalho e amizade com Bueno. A artista ilustrou muitas de suas crônicas, que eram publicadas semanalmente no extinto jornal O Estado do Paraná. “Ele contribuia com o Almanaque, que era o suplemento cultural. Ele sempre me trazia os textos da coluna e a gente batia um papo”, lembra. A artista também ilustrou alguns dos livros do escritor. “Quando ele faleceu, eu tinha acabado de ilustrar a obra ‘A Canoa’. O Wilson Bueno era uma pessoa incrível, que nos deixou precocemente”, recorda.
A artista
A arte faz parte da vida de Denise Roman desde a infância. Com 12 anos, ela começou a fazer aula de pintura, e o gosto pela criação de cenários sobre tela ou papel nunca a deixou. Hoje, com 64 anos — completa 65 no dia 9 setembro —, Denise é referência mundial em litografia. A artista curitibana, que formou-se pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1984, já participou de exposições nacionais e internacionais, coletivas e individuais, em países como Suíça, Japão, Estados Unidos, Espanha e França.
As obras de Denise, caracterizadas por linhas delicadas e detalhes requintados, revelam paisagens e personagens fantásticos. A temática onírica nasceu da união de diversas influências, da literatura à música. “Uma das minhas fontes de inspiração foi a saga 'O Senhor dos Anéis', que li no começo dos anos 1980”, diz Denise. Além dos livros de J. R. R. Tolkien, o realismo mágico de Gabriel García Márquez também a marcou.
“Em 1979 comecei a fazer litografia no ateliê do Parque São Lourenço. Depois, o ateliê mudou para o Solar do Barão, e naquela mesma época a Camerata Antiqua de Curitiba começou a ensaiar lá. Eu fazia meus trabalhos ouvindo o som de música antiga o dia todo, o que também foi uma fonte de inspiração para mim”, rememora. É nos traços inconfundíveis de Denise Roman que seres mitológicos se encontram, em um universo particular que parece retratar sonhos com pitadas de brasilidade.