Floresta de livros

Detalhes mágicos se destacam no novo painel de Denise Roman no Portão Cultural

Stephanie D’Ornelas, especial para Pinó
18/07/2022 18:11
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Pessoas e animais são personagens da floresta mágica criada por Denise. | Leo Flores

As obras da artista plástica Denise Roman retratam um mundo mágico, com personagens que parecem ter saído de um conto de fadas. E é esse universo lúdico criado pela curitibana que compõe o novo painel da Casa de Leitura Wilson Bueno, localizado dentro do Portão Cultural, em Curitiba. O mural, de 5 x 3 metros, homenageia o escritor que dá nome à biblioteca. Utilizando apenas giz de cera preto, a artista ilustrou uma floresta onde personagens leem livros de Bueno, cronista e poeta paranaense falecido em 2010 em Curitiba, cidade que adotou como casa desde o fim da década de 1970.
Entre as referências ao autor, há estandartes com algumas de suas frases e bandeiras com títulos de livros de sua autoria. Um menino acompanhado de caneta e caderno, na parte inferior da obra, representa Bueno como criança. A ilustração monocromática é contrastada pela tinta magenta usada sobre pétalas de flor de paineiras que foram aplicadas sobre o desenho. “Estava trabalhando na Casa de Leitura da Praça da Espanha, onde há muitas paineiras. Comecei a pegar flores e fiz vários trabalhos com as pétalas, que entinto como se fossem uma matriz e aplico sobre a parede”, explica a artista.
Ao todo, Denise usou três caixas de giz de cera preto para concluir a obra.
Ao todo, Denise usou três caixas de giz de cera preto para concluir a obra.
Denise levou cerca de quatro anos para finalizar o mural. O processo começou em 2016, durante uma atividade promovida na Casa da Leitura em comemoração ao aniversário do Bueno. A obra foi finalizada em março de 2020 e estava prestes a ser inaugurada quando foi decretada a pandemia. A inauguração aconteceu somente no último mês de março, junto com a abertura da exposição no Museu Municipal de Arte (MuMA), também localizado no Portão Cultural, que celebrou os 43 anos de carreira da artista plástica.
Painel inaugurado neste ano foi feito em uma das paredes da Casa de Leitura Wilson Bueno, no Portão Cultural.
Painel inaugurado neste ano foi feito em uma das paredes da Casa de Leitura Wilson Bueno, no Portão Cultural.
O convite para criar o mural emocionou Denise, que manteve uma longa parceria de trabalho e amizade com Bueno. A artista ilustrou muitas de suas crônicas, que eram publicadas semanalmente no extinto jornal O Estado do Paraná. “Ele contribuia com o Almanaque, que era o suplemento cultural. Ele sempre me trazia os textos da coluna e a gente batia um papo”, lembra. A artista também ilustrou alguns dos livros do escritor. “Quando ele faleceu, eu tinha acabado de ilustrar a obra ‘A Canoa’. O Wilson Bueno era uma pessoa incrível, que nos deixou precocemente”, recorda.

A artista

A arte faz parte da vida de Denise Roman desde a infância. Com 12 anos, ela começou a fazer aula de pintura, e o gosto pela criação de cenários sobre tela ou papel nunca a deixou. Hoje, com 64 anos — completa 65 no dia 9 setembro —, Denise é referência mundial em litografia. A artista curitibana, que formou-se pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1984, já participou de exposições nacionais e internacionais, coletivas e individuais, em países como Suíça, Japão, Estados Unidos, Espanha e França.
A ilustração faz várias referências às obras publicadas por Bueno.
A ilustração faz várias referências às obras publicadas por Bueno.
As obras de Denise, caracterizadas por linhas delicadas e detalhes requintados, revelam paisagens e personagens fantásticos. A temática onírica nasceu da união de diversas influências, da literatura à música. “Uma das minhas fontes de inspiração foi a saga 'O Senhor dos Anéis', que li no começo dos anos 1980”, diz Denise. Além dos livros de J. R. R. Tolkien, o realismo mágico de Gabriel García Márquez também a marcou.
A pintura monocromática é contrastada pela tinta magenta.
A pintura monocromática é contrastada pela tinta magenta.
“Em 1979 comecei a fazer litografia no ateliê do Parque São Lourenço. Depois, o ateliê mudou para o Solar do Barão, e naquela mesma época a Camerata Antiqua de Curitiba começou a ensaiar lá. Eu fazia meus trabalhos ouvindo o som de música antiga o dia todo, o que também foi uma fonte de inspiração para mim”, rememora. É nos traços inconfundíveis de Denise Roman que seres mitológicos se encontram, em um universo particular que parece retratar sonhos com pitadas de brasilidade.