Refazendo caminhos

Emocionante cavalgada comemora os 70 anos de fundação da Colônia Witmarsum

Thaís Cunha, especial para Pinó
15/07/2022 15:06
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No grupo composto por 16 pessoas, 11 estavam a cavalo, e as outras seguiram de carro, como uma equipe de apoio. | Divulgação

Em 1951, os menonitas que habitavam a região de Ibirama, em Santa Catarina, migraram para os campos gerais do Paraná em busca de uma vida melhor. O grupo comprou a fazenda Cancela, a 60 km de Curitiba, e fundou a colônia agrícola Witmarsum. Para conduzir o gado até a nova terra, os colonos fizeram então uma travessia de cerca de 300 quilômetros, que levou mais de um mês.
No mês de junho, um grupo de descendentes dos primeiros colonos refez o caminho de seus antepassados, em comemoração aos 70 anos da fundação de Witmarsum. A Cavalgada da Migração, adiada em um ano por conta da pandemia, é a segunda feita pelo grupo, que já havia empreitado na mesma aventura quando a Colônia comemorou 50 anos.
Fritz Kliewer estava entre os que cavalgaram de Santa Catarina até o Paraná naquela data. Mais duas décadas se passaram, e foi o próprio Kliewer quem organizou a segunda cavalgada, realizada entre os dias 6 e 13 de junho e que contou com a participação de 16 pessoas, do começo ao fim do trajeto.

Do planejamento ao galope

Experiente em cavalgadas, Kliewer começou a planejar a viagem cerca de três meses antes da data marcada para a saída. A primeira dificuldade foi levantar a trilha. Para isso, precisou localizar pessoas que participaram da cavalgada anterior e que poderiam colaborar com as lembranças. “Peguei o carro e fui a Rio Negrinho procurar, mas eu sabia só o apelido deles”, explica ele que conseguiu localizar três pessoas para ajudar nesta etapa.
O produtor rural Fritz Kliewer contou com ajuda da namorada, a chef Rosane Radecki, e do amigo Arthur para planejar e conduzir a cavalgada.
O produtor rural Fritz Kliewer contou com ajuda da namorada, a chef Rosane Radecki, e do amigo Arthur para planejar e conduzir a cavalgada.
Conhecida a trilha, ele refez o trajeto de carro para identificar pontos estratégicos de parada para as refeições, higiene e para dormir. “Na primeira cavalgada dormimos em qualquer lugar, de qualquer jeito. Mas 21 anos se passaram e havia pessoas de mais idade no grupo, por isso fomos atrás de algum conforto”, conta. Foi também pensando nisso que a viagem foi estendida para oito dias, três a mais do que o gasto na primeira.
A quilometragem também aumentou. Os 280 km percorridos em 2001 se tornaram 307,5 quilômetros em 2022, já que  a infraestrutura hoje é diferente da que recebeu a migração original. Muitas estradas foram asfaltadas e agora o GPS do evita qualquer erro de rota que possa render um desvio de destino. Estima-se que o grupo percorreu cerca de 40 quilômetros por dia, começando em um ritmo mais lento nos primeiros e apertando o passo - ou a galope - ao final do trajeto.
O grupo enfrentou tempo nublado e garoa na primeira metade da viagem, mas superou sem maiores dificuldades.
O grupo enfrentou tempo nublado e garoa na primeira metade da viagem, mas superou sem maiores dificuldades.

Honrando o passado e semeando o futuro

Rosane Radeck, chef de cozinha e namorada de Kliewer, ajudou a acrescentar aroma e sabor a essas memórias. Os dois prepararam juntos o cardápio de refeições da viagem, que contou com pratos típicos e práticos para serem feitos na estrada, como o pão no bafo. “Esse foi nosso primeiro almoço, a receita é típica de Palmeira e é um prato de origem russo-alemã”, conta Rosane.
O cardápio da viagem foi elaborado pela chef de cozinha Rosane Radeck, que levou os ingredientes cortados e temperados para facilitar o preparo.
O cardápio da viagem foi elaborado pela chef de cozinha Rosane Radeck, que levou os ingredientes cortados e temperados para facilitar o preparo.
Galinhada, entrevero, carreteiro e vaca atolada também estaviveram entre as refeições.“A gente tentou tornar as paradas bem agradáveis, principalmente na hora de se alimentar”, diz a chef. O momento também era reservado para conversar sobre as histórias do passado e recordar as tradições. “O foco principal era fazermos a cavalgada conversando sobre como foi para os nossos antepassados”, destaca Kliewer.
“Foi bem marcante ver que uma das pessoas que cavalgou é um senhor de setenta anos”, conta Rosane. O senhor a que ela se refere mora hoje em outra colônia menonita, na Bahia, mas estava entre as crianças que vieram de Santa Catarina para o Paraná em 1951. “Ele tinha muita história para contar e dava para ver que estava esperando por aquele momento. Cavalgou até o último dia”, completa Kliewer.
A cavalgada comemora os 70 anos de fundação da colônia Witmarsum.
A cavalgada comemora os 70 anos de fundação da colônia Witmarsum.
O trajeto seguiu sem grandes imprevistos, passando por oito municípios entre a Witmarsum catarinense e a colônia paranaense. A viagem marcou o começo da comemoração de 70 anos de fundação de Witmarsum que entre os dias 29 e 31 junho festejou seu aniversário com eventos culturais e gastronômicos abertos ao público de todas as idades.