Opinião

O ano em que todo mundo falou de política

Roger Pereira
26/12/2021 08:11
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A primeira coluna que publicamos neste espaço explicava por que uma revista que fala sobre inovação, saúde, arquitetura e decoração e gastronomia abriria espaço para uma coluna de política. Citamos diversas situações em que a política influenciou os rumos desses setores, que são as áreas temáticas da Pinó, reforçando que a política está muito além das discussões em palácios e gabinetes e que a participação do cidadão é muito maior do que, a cada dois anos, cumprir a obrigação de votar em algum candidato a nos governar. Pois 2021, um ano não eleitoral, chega ao fim evidenciando o quanto a política esteve presente em nossas vidas. Talvez, em anos sem eleições, foi o ano em que mais se falou de política.
Estamos, (assim se espera) saindo de uma das pandemias mais trágicas que já assolou o país, deixando mais de 600 mil mortos. E como o enfrentamento à Covid-19 foi politizado em nosso país. As formas de prevenção, as medidas de restrição, as possibilidades de tratamento, a eficácia da vacina, tudo isso deixou de ser uma questão técnica e passou a ser discutida politicamente. As posições e decisões deixaram de ser tomadas com base em informações e evidências científicas e passaram a ser tomadas com base no alinhamento político com determinado governante.
Sem entrarmos no mérito da eficácia ou da necessidade de cada medida de restrição adotada, foi nos gabinetes políticos que se decidiu, neste ano, quando podíamos ou não ir ao shopping, ao cinema, a bares e restaurantes. E a pressão política de setores mais organizados foi decisiva para que a reabertura em determinados segmentos tenha ocorrido antes de outros estabelecimentos.
O paranaense também fez política na discussão sobre o novo pedágio nas rodovias do estado. Foi a mobilização da sociedade civil e do setor produtivo que levou o estado a rechaçar a, já dada como certa, licitação por outorga, com limite de desconto, que o governo federal desenhou para as novas concessões rodoviárias no estado. Com participação recorde na audiência pública da Agência Nacional de Transporte Terrestres (foram cerca de 5 mil contribuições) e uma posição quase unânime nas 18 audiências organizadas pela Assembleia Legislativa, o cidadão paranaense deu força para que o Governo do Estado conseguisse a revisão da proposta. O leilão, em 2022, será pela menor tarifa, sem limite de desconto. E o valor de garantia que, no modelo de outorga, iria para os cofres da União, será integralmente reinvestido nos trechos rodoviários a serem concedidos.
Em Curitiba, a Comissão de Economia abriu o Orçamento da cidade para consulta pública, permitindo que a população indicasse as áreas e os projetos a receber investimentos da prefeitura no próximo ano. Foram recebidas 2688 indicações de cidadãos curitibanos. Além das sugestões poderem ser contempladas pelas emendas parlamentares – cada um dos 38 vereadores tem direito a R$ 1 milhão em emendas – pela primeira vez, a Comissão de Economia da Câmara tem R$ 3 milhões reservados do Orçamento para atender às indicações da população.
O ano está acabando, 2022 pede passagem, ano eleitoral, em que escolheremos presidente da República, governador, senador, deputados federais e estaduais. Que não esperemos até outubro para fazer política. Há muita busca de informação, fiscalização, mobilização da sociedade civil e participação popular a ser feita antes de irmos às urnas para transformar nossa sociedade em uma comunidade realmente política.