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Curitibana cria projeto para encorajar presença de mulheres no motociclismo

Stephanie D'Ornelas, especial para a Pinó
15/12/2020 21:09
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Empresária, produtora e pilota, Bruna Wladyka é destaque brasileiro do motociclismo feminino. | B Side of the Road/Divulgação

Não há limite de velocidade que impeça Bruna Wladyka de acelerar rumo ao objetivo de reunir mulheres apaixonadas pelo universo do motociclismo. A curitibana é idealizadora do Elas Pilotam, projeto que busca encorajar e visibilizar a presença feminina no universo duas rodas. “O movimento surgiu como uma ferramenta livre e aberta para todas as mulheres que amam motociclismo, seja pilotando ou na garupa”, explica.
A conexão de Bruna com as motos surgiu meio que por acaso, em 2013. Designer gráfica por formação, a empresária trabalhava na área de criação da Agência 302, que desenvolveu naquele ano a primeira edição do que se tornou um dos maiores eventos de motociclismo do Brasil, o BMS Motorcycle. “Eu criei todo o conceito do evento, fiz uma pesquisa muito grande para isso. Nesse período eu tive o real contato com o mundo duas rodas e fiquei fascinada por todo esse estilo de vida”, lembra.
Entre muito trabalho para a realização do evento nos anos seguintes e depois de andar muito na garupa, Bruna finalmente conseguiu tempo para tirar sua carteira de moto em 2018. Naquele mesmo ano, ela decidiu criar um espaço exclusivo para mulheres dentro do BMS. “O público feminino é muito expressivo em eventos de motociclistas, só que elas ficam em segundo plano para as marcas. Muitas ações são voltadas apenas para os homens. O Elas Pilotam surgiu dessa necessidade de destacar as mulheres nessa área”.
 O movimento de mulheres no motociclismo tomou as redes. No Instagram, já são mais de 42 mil publicações com a hashtag #ElasPilotam.
O movimento de mulheres no motociclismo tomou as redes. No Instagram, já são mais de 42 mil publicações com a hashtag #ElasPilotam.
A partir de então, o movimento ganhou o mundo — literalmente. No Instagram, já são mais de 42 mil publicações com a hashtag #ElasPilotam, postadas por pilotas por todo o Brasil e em estradas ao redor do planeta.
O movimento vem atraindo também outros segmentos, como grupos de caminhoneiras, pilotas de carro e até de avião e helicóptero. “Não importa o veículo que você pilota: para mim, o importante é mostrar que as mulheres podem e devem pilotar suas próprias vidas. O nosso objetivo é incluir, informar, educar, promover, transformar e, é claro, empoderar as mulheres nesse cenário”.
Além do perfil do projeto no Instagram, que soma mais de 14 mil seguidoras, Bruna criou o portal elaspilotam.com, que é alimentado com conteúdo produzido por nove mulheres apaixonadas por motociclismo. Enquanto a pandemia não arrefece, o movimento feminino segue forte pela internet, mas Bruna espera poder voltar a organizar eventos presenciais em 2021, incluindo o Elas Pilotam Camp, um acampamento só para mulheres que seria realizado no início deste ano, mas que teve que ser adiado em decorrência do novo coronavírus.

Desafios

Há cada vez mais mulheres sobre duas rodas: o número de portadoras de CNH da categoria A passou de cerca de 4 milhões em 2011 para mais de 7,5 milhões em 2019, o que representa um crescimento de 89% em oito anos, de acordo com dados de 2019 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Apesar disso, elas ainda enfrentam preconceitos neste segmento majoritariamente masculino. Bruna recebe relatos dessas situações diariamente em suas redes sociais. “Muitas mulheres têm medo de andar sozinhas por causa do assédio. Também há muitos casos de mulheres que demoraram para começar a pilotar porque o marido delas não deixavam, outras que vão em concessionárias e são menosprezadas por funcionários que acham que elas não são capazes de pilotar motos grandes”.
Mas, em meio a isso, também existem muitas histórias inspiradoras. “Recebi uma mensagem de uma mulher que tirou carteira com quase 50 anos, falando sobre como ela se sentiu livre após todas essas décadas. No Elas Pilotam vemos mulheres de todas as idades e estilos. O mundo duas rodas é muito segmentado, mas conseguimos unir todas por um propósito único”, afirma.
Bruna vem servindo de inspiração para essas mulheres pelo seu pioneirismo: neste ano, ela se tornou a primeira brasileira escalada para pilotar no Flat Out Friday, realizada no último mês de março nos Estados Unidos.
 Bruna se tornou a primeira brasileira a participar de um dos principais eventos mundiais de Flat Track, modalidade de corrida em torno de uma pista oval de terra.
Bruna se tornou a primeira brasileira a participar de um dos principais eventos mundiais de Flat Track, modalidade de corrida em torno de uma pista oval de terra.
O evento é um dos maiores do mundo voltados ao Flat Track, modalidade de corrida de moto em torno de uma pista oval de terra. “Eu brinco que depois dos 30 anos eu decidi virar atleta. No começo deste ano, recebi o convite da Royal Enfield para participar deste evento mundial. Eles desejavam incluir mulheres não necessariamente profissionais, mas que queiram fazer a diferença. Eu aceitei para mostrar que nós também podemos fazer parte disso”.