Dia da mulher

Conheça a Ladies Ensemble, orquestra formada apenas por mulheres em Curitiba

Flávia Schiochet, especial para a Pinó
07/03/2022 21:51
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A orquestra Ladies Ensemble ao final de uma das apresentações do Concerto das Rosas, entre 2017 e 2018. À época, o maestro era Alessandro Sangiorgi, mas nos últimos anos as instrumentistas têm se apresentado sob a batuta das regentes Ingrid Stein e Priscila Bomfim | Divulgação

"Eu tirava as notas mais altas, mas nunca era solista", recorda Fabiola Bach Akel, violista de 50 anos, ao falar de seu período de estudos em violino e viola na adolescência e início da vida adulta. Com 40 anos dedicados à música, há mais de uma década Fabiola tem mudado o que tanto a incomodou desde o início de sua carreira. "O protagonismo feminino na música erudita é difícil", conclui. Em 2009, ela montou uma orquestra apenas de mulheres: a Ladies Ensemble.
Desde então, a Ladies Ensemble se mantém como a primeira e única orquestra profissional no Brasil em atuação contínua que conta apenas com mulheres em sua formação. Atualmente, são 20 musicistas no palco, com violino, violoncelo, viola, contrabaixo, piano, percussão e qanun, um instrumento de origem persa tocado por Myria Tokmaji, musicista síria que chegou como refugiada em Curitiba em 2013. Composto de 81 cordas, é uma espécie de harpa tocada na horizontal e cuja escala musical é diferente da que se usa no Ocidente. "Fiz uma pesquisa que rendeu muitos dias de trabalho para montar um repertório que unisse as duas culturas. Hoje Myria toca todo o nosso repertório. Abrimos a mente para esse mundo oriental, que é inédito no Brasil. Nenhuma orquestra faz essa world music", diz Fabiola.
Fabiola Bach Akel, violista e idealizadora da orquestra Ladies Ensemble
Fabiola Bach Akel, violista e idealizadora da orquestra Ladies Ensemble
A Ladies Ensemble entra em nova fase em 2022, com uma sede e programação mensal inédita. O debute será com o espetáculo "Carmen Encontra Butterfly", em cartaz nos dias 17, 18 e 19 de março no Auditório Regina Casillo, no Centro de Curitiba (R$ 30, inteira). Com roteiro original, a ópera entrelaça duas histórias: a narrada em Madama Butterfly, de Giacomo Puccini, e a contada em Carmen, de Georges Bizet, ambas protagonistas que sofrem violência de gênero. "Ao final do espetáculo, a música vai ficar mais suave e terá uma mensagem de mudança de comportamento, que a gente espera que a liberdade da mulher não incomode mais, que a gente corra menos riscos. A gente precisa ter esperança", diz Fabiola.
Mulheres no centro da pauta e do palco
A Ladies Ensemble constantemente abre audições para novas integrantes. Há uma certa rotatividade na composição do grupo, uma vez que muitas das estudantes e musicistas mudam-se de país ou de cidade para continuar seus estudos ou para novas oportunidades. Como princípios e diretrizes, a orquestra tem a formação de plateia, com apresentações em escolas municipais e espaços públicos, a democratização do valor dos ingressos a partir patrocínio de empresas privadas via leis de incentivo à cultura, além de estágios e capacitação para jovens instrumentistas.
Focar em pautas do universo das mulheres é uma constante nos projetos propostos pela orquestra, como no Concerto das Rosas, montado como homenagem às vítimas de câncer de mama. O espetáculo foi apresentado para mais de 25 mil pessoas entre 2017 e 2018. "Virou uma campanha permanente nossa, assim como a questão da violência contra a mulher", pontua Fabiola.
Com a itinerância pelo interior do Paraná antes da pandemia, a orquestra teve solistas convidadas para se apresentarem junto das ladies, como Fabiola se refere às integrantes. À época, o maestro era Alessandro Sangiorgi, mas nos últimos anos as instrumentistas têm se apresentado sob a batuta das regentes Ingrid Stein e Priscila Bomfim, formando um palco inteiramente feminino. Até o figurino ousa sair da combinação de calças e camisas pretas, e o palco ganha cores com vestidos longos e ornamentos nas roupas das instrumentistas, costurados pelas mulheres da Cia. da Roupa, de Curitiba.
Homenagens às pioneiras
Antes de Chiquinha Gonzaga, as mulheres não eram reconhecidas ou levadas a sério como compositoras musicais. "Elas aprendiam a tocar acordeon, por exemplo, mas pra com a família, dentro de casa", ensina Fabiola. "Foi Chiquinha, talvez sem saber que estava prestes a mudar tudo, que proporcionou que mulheres tocassem profissionalmente".
Como forma de homenagear mulheres contemporâneas de diversas áreas que acabam por abrir caminho para as futuras gerações, a Ladies Ensemble realiza a primeira edição do prêmio Encontro de Mulheres que Inspiram. As indicadas de 2022 são a idealizadora, fundadora e presidente do Solar do Rosário Regina Casillo; a diretora da unidade jornais da Gazeta do Povo  Ana Amélia Pereira Filizola; a promotora de justiça no Ministério Público do Estado do Paraná Mariana Bazzo; e a médica especializada em radiologia mamária Maria Helena Louveira. "São mulheres que estão à frente das iniciativas em sua área. Temos que reunir o protagonismo de cada uma em sua área, fazer um círculo de união. E aí ninguém nos segura", diverte-se Fabiola. O resultado será apresentado no dia 16 de março, um dia antes da estreia do espetáculo "Carmen encontra Butterfly".