Dor ciática

Dor ciática: da infância à melhor idade

Nathalie Oda, especial para Pinó
26/05/2023 10:00
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Em 70% dos casos, hérnia de disco é causada por fatores genéticos. | Bigstock

Como um fio de luz que transporta a energia, mas que, na verdade, conduz sensações, dores e até mesmo comandos, o nervo ciático é o principal membro dos nervos inferiores. “A nossa lombar tem raízes nervosas que saem da medula. Essas raízes se fundem para o lado direito e para o lado esquerdo e formam o nervo ciático na altura da região glútea”, explica o Dr. Antônio Krieger, médico ortopedista do Hospital Marcelino Champagnat, especialista em cirurgia da coluna.
Esse nervo de grande extensão permite a movimentação das pernas, dos pés, dos dedos dos pés e de todas as articulações que se encontram nesse trajeto. Por isso, os cuidados com a sua manutenção devem partir desde a infância, na cadeira da escola, até o home office, nas longas jornadas de trabalho.
“As principais causas de dores são alterações degenerativas que ocorrem desde a infância ou desde a adolescência. Quando a postura da criança, do adolescente ou do adulto jovem é inadequada e força muito a coluna. Essa postura pode iniciar já no banco escolar”, observa Dr. Ricardo Ramina, chefe do departamento de neurocirurgia do Hospital INC.
Uma vez que as principais causas da dor ciática são lesões degenerativas, a doença é muito associada a pacientes idosos. Existem quadros, no entanto, que podem gerar essa degeneração de forma precoce. “Temos visto que hoje com o modo de vida sedentário, falta da prática de exercícios e uma postura inadequada, os jovens podem ter essas dores de forma mais frequente”, esclarece Ramina.
De acordo com Krieger, a principal causa de lesão no nervo ciático é a hérnia de disco na coluna lombar: “cerca de 70% dos casos envolvem componentes genéticos e não traumáticos. O disco desidrata e acaba rasgando.” A segunda causa mais comum é chamada estenose, quando o canal do nervo fica estreito. Na maioria das vezes, esse cenário está relacionado ao envelhecimento natural da coluna. Já a terceira causa abrange inflamações, ou irritações no nervo. “Podem ser por problemas metabólicos, compressão do músculo, encurtamento ou alteração reumatológica”, detalha.
“A nossa lombar tem raízes nervosas que saem da medula. Essas raízes se fundem para o lado direito e para o lado esquerdo e formam o nervo ciático na altura
da região glútea.”
Dr. Antônio Krieger, médico ortopedista do Hospital Marcelino Champagnat, especialista em cirurgias da coluna.

Causas comportamentais

Sedentarismo e posições ergonômicas erradas no trabalho podem levar a dores no ciático.
Sedentarismo e posições ergonômicas erradas no trabalho podem levar a dores no ciático.
O corpo humano se desenvolveu e se adaptou com o tempo para atender às necessidades do homem, na sua realidade. Séculos atrás, o trabalho exigia esforço físico e a prática de exercícios era comum tanto profissionalmente quanto nas horas vagas. Hoje, as pessoas passam oito horas praticamente seguidas em frente a um computador, em uma cadeira no escritório. O restante das horas é gasto na horizontal, em cima de um sofá em frente à televisão. Um cenário diferente que, consequentemente, exigiria inúmeras adaptações do corpo para realizar sua função da mesma forma.
Segundo Krieger, as dores no nervo ciático têm uma relação direta com a postura do paciente e com o nível de sedentarismo. Além disso, a pandemia teve grande papel na mudança dessa realidade, pois aumentou a incidência de dores em forma geral. “As pessoas ficaram mais sedentárias e passaram a fazer um home office de forma ergonomicamente inadequada, sentados de forma incorreta”, especifica.
Uma vez que toda a estrutura óssea e nervosa é sustentada por músculos, condições como a obesidade também podem acarretar problemas no ciático. “O que dá sustentação para a coluna no ser humano é a musculatura. Então, uma boa musculatura abdominal, paravertebral, de nádegas, de coxas faz com que a pessoa tenha uma boa postura na coluna lombar”, aponta Ramina. De forma contrária, o enfraquecimento dos tecidos também pode ser causado pelo tabagismo e causar uma hérnia de disco, por exemplo.

Corrigindo a rota

O corpo humano, em comparação a uma máquina, teria suas peças, seus fluidos e suas engrenagens. Se um item se encontra fora do lugar ou está danificado, a máquina não cumpre seu papel. No organismo humano, a lógica é a mesma. Se uma luz vermelha acende, é preciso atenção para corrigir o problema e evitar consequências mais graves.
De acordo com Ramina, se a dor se inicia na lombar e irradia para a parte posterior das pernas, chegando até os pés, pode ter causa no nervo ciático. “A dor começa na coluna lombar, passa pela coxa e vai até o pé. Se acompanha muitas vezes de alteração da sensibilidade e da força do pé e das pernas”, detalha. Formigamentos, amortecimentos e dores devem ligar o alerta para uma visita ao médico.

Tratamento conservador

A análise clínica sempre dá início à investigação dos sintomas e, majoritariamente, resulta em medidas cautelosas. “O tratamento inicial é sempre conservador. Não é cirúrgico. Se inicia com medicações, fisioterapia e alongamentos para o reequilíbrio muscular”, conta Krieger. A cirurgia se torna uma opção de tratamento apenas em casos específicos.
A intervenção cirúrgica é tida como última opção, após o descarte de todos os tratamentos possíveis. “Pacientes com hérnia de disco que não apresentam melhora com tratamento conservador, que não têm uma melhora em semanas ou meses podem ter indicação para cirurgia”, ressalta Ramina.
Todos os prós e contras devem ser analisados entre o médico e o paciente. “Em casos de dor recorrente, dor constante ou quando o paciente tem sintomas importantes de compressão do nervo, com perda de força ou alteração da sensibilidade, são indicações mais claras para cirurgia”, complementa.
Uma vez que a cirurgia envolve raízes nervosas, os riscos são consideráveis. “Uma má indicação cirúrgica, em casos de problemas de coluna, pode significar uma tragédia para o paciente, do ponto de vista funcional. Por isso, a cirurgia deve ser feita apenas em casos extremos e precisos, com uma avaliação cautelosa do histórico clínico”, alerta o neurocirurgião.