Não é a primeira vez que medicamentos desenvolvidos com um propósito específico são utilizados de maneiras diferentes e o destaque da vez é o Ozempic. Também apelidado de “caneta emagrecedora”, o medicamento ganhou popularidade entre influenciadores e rapidamente se tornou um desejo entre pessoas que desejam emagrecer de forma rápida e fácil. Mas afinal, o que é o Ozempic?

Ozempic é o nome comercial dado à semaglutida, peptídeo com semelhança de 94% ao glucagon 1, que atua como um agonista do receptor GLP-1, um hormônio fisiológico que desempenha diversas funções na regulação da glicose, apetite e sistema cardiovascular. Seu principal objetivo é estabilizar os níveis de glicemia, por isso a medicação é usada no tratamento da diabetes Tipo 2. “No entanto, percebeu-se que além do controle da glicemia, a semaglutida também tem efeitos nos vasos sanguíneos, no coração e em diversos locais do cérebro”, explica médica especialista em Endocrinologia, Ana Cristina Ravazzani, professora adjunta do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Um desses locais, é o hipotálamo, o local do cérebro responsável por regular a fome, saciedade, gás e a energia. Por esse efeito colateral, a medicação ficou conhecida por diminuir o peso.

“Ele causa um retardo no esvaziamento do estômago, deixando-o mais lento. Também manda algumas mensagens para neurotransmissores cerebrais, diminuindo a vontade de comer e, claro, libera informações para o pâncreas para liberar a insulina conforme a necessidade”, complementa a Endocrinologista Cláudia Montemor, docente de medicina da PUCPR - Câmpus Londrina.

A principal utilização do Ozempic é no tratamento do diabetes, conforme indicado na bula. Ainda que não seja comercializada para o tratamento da obesidade atualmente, já se sabe que esse medicamento pode auxiliar na perda de peso.

“No Brasil, embora tenha recebido aprovação da ANVISA para o tratamento da obesidade, a medicação ainda não está disponível comercialmente para esse objetivo. Qualquer uso deste medicamento para tal propósito é considerado off-label, ou seja, fora das indicações da bula. Mas em outros países, o uso sob supervisão médica para auxiliar na perda de peso já é recomendado”, afirma Ana Cristina.

Segundo ela, o Ozempic ainda oferece benefícios relacionados à mortalidade cardiovascular e renal, ou seja, ele desempenha um papel protetor tanto para os rins quanto para o coração, órgãos frequentemente afetados pelas complicações decorrentes da diabetes.

Apesar das orientações para o controle do diabetes e o tratamento da obesidade, nos últimos meses a medicação ganhou popularidade nas redes sociais devido ao seu uso recreativo por pessoas que não se encaixam em nenhuma dessas condições, mas ainda assim buscam a perda de peso. Um dos principais motivos para popularização é o fácil acesso, já que a medicação pode ser adquirida em todas as farmácias, sem necessidade de receituário médico.

“É importante compreender que esses medicamentos não foram desenvolvidos com fins estéticos, mas sim para uso médico”, explica Ana Cristina. “Os estudos sobre eficácia do medicamento não se fundamentam no índice de massa corporal (IMC), ou seja, o impacto da medicação não é determinado pelo restabelecimento do IMC dentro da faixa considerada normal mas sim, pela porcentagem de peso.”

A despeito da popularidade, é importante ter em mente contraindicações e os possíveis efeitos colaterais do Ozempic, mesmo sob supervisão médica. “Algumas contraindicações incluem, principalmente, indivíduos alérgicos ou com disfunção renal, além de possíveis interações adversas com outros medicamentos, sobretudo aqueles para o tratamento do diabetes. Portanto, é necessário ter cautela em relação a esses aspectos.”, explica Cláudia.

Por ser uma medicação administrada por meio de injeção, os cuidados de higiene e uso também são fundamentais para a aplicação e todas as orientações de utilização são fornecidas durante a consulta com o médico.

Existem ainda outros sinais de alerta para aqueles que utilizam ou vão começar a utilizar o Ozempic. Cláudia explica que “embora raro, pode ocorrer hipoglicemia, caracterizada por uma diminuição nos níveis de glicose, sendo que em alguns pacientes pode haver um risco ampliado de hipoglicemia se houver associação com outros medicamentos ou se o paciente tiver carcinoma medular de tireoide.”

Por isso, para quem deseja perder peso de forma saudável, sem fazer o uso do Ozempic, Cláudia dá dicas. “É importante ter uma alimentação equilibrada, reduzindo o consumo de alimentos processados e açúcares, limitando a ingestão de bebidas alcoólicas e eliminando o tabagismo. Também é fundamental incorporar atividade física regular à rotina, cuidar da qualidade do sono e gerenciar o estresse de maneira eficaz”, sugere.