Nova editora de Curitiba resgata autores brasileiros “esquecidos”

Flávia Schiochet, especial para a Pinó
31/03/2022 17:16
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Telaranha, nova editora de Curitiba, publica literatura, humanidades e artes visuais | Divulgação

Bárbara Tanaka carrega um livro consigo desde 2018 – metaforicamente falando. Na noite de terça, 5 de abril, esse livro se concretizará em cópias físicas, e todo mundo poderá folheá-lo no Wonka Bar. "Instruções para morder a palavra pássaro", de Assionara Souza, é o primeiro título lançado pela Telaranha, editora que Bárbara abriu com o companheiro e sócio Guilherme Conde Moura Pereira no início de 2022.
O livro está à venda pelo site da Telaranha a partir de sexta, 1º de abril, por R$ 48, e pelo mesmo preço no evento do dia 5, a partir das 20h. O lançamento é também o primeiro evento da Telaranha, e terá leitura de poemas da autora como homenagem póstuma. Assionara Souza nasceu no Rio Grande do Norte, mas radicou-se em Curitiba, onde faleceu em 2018, aos 48 anos. Assionara foi professora de Bárbara no ensino médio e, alguns anos depois, teve seu livro de poemas "Alquimista na Chuva" editado pela jovem jornalista na Editora Kotter, em 2017.
"O Wonka era um lugar especial para ela. Vamos fazer uma leitura de poemas com pessoas que eram próximas à Assionara", conta Bárbara. "Alguns meses antes de a Nara falecer, uma amiga em comum, a [socióloga, escritora e editora] Silvana Guimarães, me escreveu dizendo que ela deixava um livro para eu editar. Na época eu estava saindo da faculdade e ainda não tinha o know-how e experiência para editar sozinha", relembra Bárbara, referindo-se à autora pelo apelido.
A capa do livro póstumo de Assionara Souza, com fotografia de Karime Xavier
A capa do livro póstumo de Assionara Souza, com fotografia de Karime Xavier
Até abrir a caixa com os primeiros exemplares de "Instruções para morder a palavra pássaro" editados por ela mesma, cinco anos se passaram, e Bárbara havia oferecido a edição a algumas editoras; com nenhuma o acordo foi adiante. "Era para eu fazer mesmo, o livro veio para que a gente tirasse a ideia da editora do papel", disse. Desde 2016, Bárbara e Guilherme idealizavam ter uma pequena editora, e "Instruções para morder a palavra pássaro" aguardou pacientemente.
Enquanto tentava emplacar a obra no catálogo de editoras nacionais, Bárbara e Guilherme acumularam experiência em edição de livros trabalhando para editoras literárias e de educação. Os cinco anos de trabalho em diferentes áreas deu a eles o domínio de toda a cadeia de produção do livro, do primeiro contato com os autores ou representantes até a ponta final da produção. "Foi importante para nós, porque nesse período aprendemos muito da produção não só artística, mas também do fluxo de trabalho editorial", diz Bárbara.
Cada exemplar de "Instruções para morder a palavra pássaro" vem com um cartão-postal com uma das dez fotografias de Karime Xavier estampada e um poema do livro no verso. A distribuição do título será focada em livrarias independentes e de nicho nas capitais Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.
Guilherme Conde Moura Pereira e Bárbara Tanaka, sócios da editora Telaranha
Guilherme Conde Moura Pereira e Bárbara Tanaka, sócios da editora Telaranha
A Telaranha
Nomeada com um termo aportuguesado de "telaraña" (teia de aranha, em espanhol), a palavra foi encontrada no livro "Mar Paraguayo" de Wilson Bueno, escritor e jornalista paranaense, editor do jornal "O Nicolau". O livro, escrito em "portunhol", foi objeto de pesquisa do mestrado em Letras de Guilherme, e o jornal cultural, é o que Bárbara pesquisa atualmente em seu mestrado. "Wilson Bueno influenciou muito a literatura paranaense. Telaranha evoca o processo de produção do livro, o tecer da linguagem e também do processo de feitura do próprio papel".
A editora é focada em literatura, humanidades e artes visuais, com edições de escritores menos famosos, mas de importância para a cena literária brasileira. Para o segundo semestre, será publicado um livro póstumo do poeta paranaense Rollo de Resende e, para o futuro, uma edição de "Mármores" da poeta parnasiana Francisca Júlia (1871-1920), de São Paulo. "Nosso projeto é resgatar autores que estão em domínio público e não estão mais sendo editados, e trazer esses livros novamente à circulação sendo ressignificados com textos críticos de pesquisadores dos dias atuais", explica Bárbara.
Serviço
Lançamento do livro póstumo "Instruções para morder a palavra pássaro" (R$ 48, Editora Telanha), de Assionara Souza. No Wonka Bar (R. Trajano Reis, 326, São Francisco), dia 5 de abril, a partir das 20h. Leitura de trechos por convidados. Compras pelo site: https://telaranha.com.br