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| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A técnica de enfermagem Claudirene Amaral Wolff, de 30 anos, foi obrigada a pedir demissão de seu antigo emprego para assumir uma vaga no Hospital de Clínicas (HC) da UFPR, de Curitiba. Grávida de três meses, ela foi aprovada no concurso público do HC e a demissão era uma exigência para o novo trabalho. O caso, no entanto, teve uma reviravolta: Claudirene e outros 350 aprovados só devem assumir seus respectivos cargos no ano que vem. Agora, ela se vê desempregada e sem quaisquer direitos que lhe garantam uma gestação segura.

“A gente está numa situação desesperadora. Eu tive que pedir exoneração do meu antigo emprego, que me daria essa segurança. Agora eu não sei nem como vou pagar as contas. Não consigo nem emprego temporário, até assumir [a vaga] no HC. Ninguém dá emprego a uma grávida”, disse.

Claudirene e os outros 350 aprovados no concurso foram convocados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) em 23 de agosto. Eles deveriam se desfazer de eventuais vínculos empregatícios e começariam a trabalhar em 2 de outubro. Entretanto, em 8 de setembro, a própria Ebserh publicou a retificação da convocação, protelando para o ano que vem a data em que os convocados assumiriam os postos de trabalho.

“Eu nem sei o que dizer. A gente sente uma angústia, uma sensação de que foi passado pra trás. As nossas expectativas foram por água abaixo e a gente não sabe o que vai acontecer. A sensação é de total insegurança”, definiu Claudirene.

Para a família, não há outra saída: o marido de Claudirene, que trabalha como metalúrgico, terá que arcar com todas as contas da casa. Além dos gastos inerentes à gestação, o casal tem uma filha de 12 anos. Eles ainda têm que bancar o financiamento da casa em que moram, em Fazenda Rio Grande. A reforma do quartinho do bebê foi cancelada. “Eu tenho dinheiro para pagar algumas contas até o fim deste mês. Depois, não sei. Não sei o que fazer”, lamentou.

De servidora pública a desempregada

Até o mês passado, Vanessa dos Reis Silva, de 32 anos, trabalhava como técnica de enfermagem concursada do município de Colombo. Após a convocação da Ebserh, ela pediu exoneração. Chegou a fazer um empréstimo bancário para pagar as contas até outubro, quando assumiria sua vaga no HC. Até que veio a retificação da convocação, que a deixou sem saber o que fazer.

“Eu passei de funcionária pública a desempregada, do dia para a noite”, disse. “[Quando foi publicada a retificação], eu perdi o chão. Eu tinha me programado, fiz o que pediam. Tive que fazer o empréstimo. Saí com uma mão na frente, outra atrás”, completou.

A técnica de enfermagem não tem ideia de como vai fazer para se manter em Curitiba. Os pais dela são do interior do Paraná – de Santo Antônio da Platina – e não têm condições de ajudá-la financeiramente. Além disse, ela tem que pagar a faculdade de enfermagem, que frequenta já no último ano.

“Não se consegue emprego do dia pra noite. Talvez eu consiga um subemprego ou algum bico. Vai ser só para ganhar miséria e não morrer de fome. É uma falta de respeito do HC e da Ebserh”, apontou.

A festa virou decepção

O assistente administrativo Renato Koth também se preparou para assumir o novo cargo no HC. Desde que o resultado do concurso foi homologado, em 2015, ele esperava pela convocação – que ocorreu no dia do aniversário da mulher dele. O casal aproveitou a festa e comemorou também o novo emprego de Koth.

“A gente ficou muito feliz, porque estávamos esperando [a convocação] há muito tempo. Depois, quando houve a retificação, foi uma decepção”, lamentou.

Koth diz que deixou de aceitar propostas de emprego ao longo do último mês, porque havia a convocação da Ebserh. Por ora, o casal terá que “se virar” com o salário da esposa do assistente administrativo. “São 351 famílias que estão em risco, sem dinheiro e sem garantias. Essas famílias vão fazer o quê? Vão dar entrada no Bolsa Família? Como essas pessoas vão ficar? É um completo desrespeito ao estado democrático de direito”, disse.

O caso

O concurso venceria em 11 de setembro. Além dos 361 convocados em agosto, outros 604 aprovados no certame foram chamados em 8 de setembro. Todos, no entanto, só tomarão posse no ano que vem. Segundo a Ebserh – que compartilha a gestão do HC com a UFPR e é responsável pelas contratações –, a decisão de postergar o ingresso dos novos empregados públicos foi motivada por questões orçamentárias e para garantir que houvesse condições de que todos os profissionais fossem contratados.

O HC contava com os novos profissionais para cumprir seu plano estratégico de voltar a operar em capacidade máxima, conforme novo contrato firmado com a prefeitura. A direção, no entanto, disse que o maior prazo para que os novos empregados cheguem ao hospital não vai afetar o atendimento. O sindicato, por sua vez, aponta que a protelação vai causar impacto direto em quem já trabalha no HC.

Enxurrada de ações

Os candidatos que já foram convocados e que tiveram o início das atividades adiado pela Ebserh vão à Justiça, para tentar reverter a decisão da empresa pública. Pelo menos três convocados que ingressaram individualmente com mandados de segurança conseguiram liminares que lhes garante o direito de começar a trabalhar no HC imediatamente. A intenção dos aprovados no concurso é ajuizar uma enxurrada de ações individuais similares. Além disso, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sinditest) anunciou que vai ingressar com uma ação coletiva, com vistas a estender os efeitos da liminar a todos os convocados.

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