• Carregando...
As venezuelanas vieram de Caracas para tentar a sorte em Curitiba | Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
As venezuelanas vieram de Caracas para tentar a sorte em Curitiba| Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Naileth Camacaro e Joyce Sierra chegaram a Curitiba há pouco mais de um mês. Venezuelanas, saíram de Caracas e entraram no Brasil por Roraima – estado onde, no dia 18 de agosto, imigrantes do país foram agredidos e expulsos. Para elas, porém, a passagem na região foi rápida. Primas, elas foram até Manaus e pegaram um avião para Curitiba, achando que, com menos imigrantes chegando, teriam mais oportunidades na capital paranaense.

NOSSA OPINIÃO: Os refugiados venezuelanos e o acolhimento humanitário

A realidade, porém, logo se mostrou muito mais difícil do que o previsto. O dinheiro que trouxeram – fruto de um empréstimo que conseguiram na Venezuela, em reais – acabou nos primeiros dias. Foi então que Naileth conseguiu um emprego em um salão de beleza, como cabeleireira, onde poderia também dormir temporariamente. A alegria durou pouco. “O meu patrão achava que eu não fazia as coisas direito e, além disso, proibiu a minha prima de ficar comigo. Eu disse que não a deixaria sozinha, na rua”, conta a venezuelana, que luta para aprender o português.

Foi então que as duas procuraram a Cáritas, entidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que atua, entre outras áreas, no acolhimento de refugiados. Com a ajuda da organização, garantiram um mês de estadia na região central de Curitiba e o acesso a um curso de português para que possam conseguir trabalho.

“Não sabemos se vamos ficar aqui. Viemos em busca de mais qualidade de vida. Sabemos que a Venezuela vai demorar muito tempo para melhorar”, diz Joyce que, por ter trabalhado na Petróleos de Venezuela S/A, aprendeu português na embaixada brasileira no país e consegue se comunicar melhor.

Apoio nas dificuldades

Como elas, a Cáritas já atendeu, no primeiro semestre, em torno de cem venezuelanos que vieram para a capital por conta própria. A maioria são pessoas que vieram sozinhas para tentar a sorte e, depois, enviar dinheiro às famílias no país natal ou trazer os parentes para cá. Naileth, por exemplo, deixou o marido e dois filhos, um de sete anos e outro de nove meses, para tentar conseguir dinheiro por aqui.

“O contato está difícil, porque não temos celular, mas outro dia soube que o mais novo ficou um mês com diarreia porque o leite disponível no país é de má qualidade. Fiquei desesperada, mas estou fazendo o que posso para melhorar a vida dele”, diz a venezuelana, de 26 anos, que se casou aos 16.

A Cáritas ajuda os imigrantes não só a conseguir abrigo. A entidade orienta os recém-chegados para a regularização de documentos, identifica as necessidades mais emergenciais (como alimentação, por exemplo) e encaminha os imigrantes para atendimento nos equipamentos governamentais. “Procuramos dialogar com o poder público para que essas pessoas tenham acesso à integração de fato”, diz Márcia Ponce, coordenadora e assessora da Cáritas nos projetos voltados ao tema da migração.

ELEIÇÕES 2018: acompanhe notícias do Paraná

Nada oficial

Além da vinda espontânea, há previsão para que venezuelanos cheguem ao Paraná por intermédio do Governo Federal. Na semana passada, a subchefe da Casa Civil, Viviane Ese, anunciou que mil imigrantes devem ser realocados em outros estados na chamada interiorização. De acordo com ela, no final de agosto e começo de setembro a prioridade é enviar os venezuelanos para a região Sul.

A reportagem apurou que, nesta semana, 60 venezuelanos devem chegar a Goioerê, no Noroeste do estado, até o final de agosto. O governo do Paraná, por meio da Secretaria de Justiça, Trabalho e Direitos Humanos (Seju), porém, disse que não há nada oficial em relação ao assunto.

A pasta informou, ainda, que existe a tratativa para a vinda dos imigrantes, mas que ainda estão sendo discutidas questões como as cidades nas quais ocorrerá a interiorização, como será o financiamento da iniciativa e quais serão as contrapartidas do estado. Um projeto para abrigar os imigrantes está sendo discutido com a própria Cáritas, em um modelo no qual casas mobiliadas seriam fornecidas para grupos de até seis pessoas.

A prefeitura de Curitiba, por sua vez, também afirmou que não possui comunicado oficial sobre o tema.

JUDICIÁRIO: Provas do esquema Diários Secretos vão além de operação anulada

Como funciona o atendimento

Já existem equipamentos públicos voltados ao atendimento da população que chega ao Paraná vinda de outros países. O governo do estado possui o Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Estado do Paraná (CEIM), ligado à Seju. Lá os imigrantes têm acesso à orientação sobre regularização de documentos; a informações sobre direitos fundamentais e a respeito da legislação trabalhista; à orientação sobre matrícula e revalidação de estudos realizados no exterior; e a serviços e benefícios da Política de Assistência Social. O equipamento fica na rua Desembargador Westphalen, n º15, no 13º andar.

De acordo com a Seju, entre outubro de 2016 e maio deste ano 68 venezuelanos foram cadastrados no CEIM. No total, 1.391 pessoas de 41 nacionalidades tiveram o cadastro realizado. A maioria, 985, é de haitianos.

Já a prefeitura de Curitiba atende os que chegam de outros países na Casa da Acolhida e do Regresso, que fica na Rodoferroviária e é gerida pela Fundação de Ação Social (FAS). Até maio deste ano 176 estrangeiros foram atendidos no local. Além disso, eles podem realizar cursos, gratuitamente, nos Liceus de Ofícios. De acordo com o Executivo municipal, atualmente oito estrangeiros fazem cursos no local, sendo três venezuelanos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]