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Vereador Boca Aberta se defende em sessão plenária na tarde desta quinta-feira (6), na Câmara de Londrina. | Fernando Cremonez/Divulgação CML
Vereador Boca Aberta se defende em sessão plenária na tarde desta quinta-feira (6), na Câmara de Londrina.| Foto: Fernando Cremonez/Divulgação CML

“Quando cheguei a este Parlamento, com a expressiva votação conferida a mim pelo povo de Londrina, demorei a me adaptar, apanhei, me perdi, porém aprendi muito. Assim sendo, com esta carta quero enfatizar aos nobres pares que estes meses de convívio me causaram profundo arrependimento.”

As palavras são assinadas pelo vereador de Londrina Emerson Petriv (PR), conhecido como Boca Aberta, em carta endereçada aos demais parlamentares. Em menos de um semestre, o status dele mudou de vereador mais votado do Paraná, com 11.480 votos, para político problemático, que monopolizou o noticiário da Câmara da cidade, sendo alvo de quatro representações analisadas pela Comissão de Ética.

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Em uma delas, a Mesa Executiva da Câmara, acolhendo parecer jurídico, abriu nesta quarta-feira (6) uma denúncia por quebra de decoro parlamentar. De acordo com a acusação, Boca Aberta violou o Código de Ética, por abuso de prerrogativa de função, ao pedir dinheiro pela internet para pagar uma multa eleitoral, que não foi especificada na campanha. Ele diz que foi multado “por defender os direitos do povo” e que é “perseguido por juízes”.

O procedimento chegou ao plenário da Câmara, que em sessão ordinária aprovou a admissibilidade de uma Comissão Processante para investigar a conduta de Boca Aberta. Com 16 votos favoráveis e três contrários, a comissão foi autorizada. Depois de notificar oficialmente o vereador, os parlamentares terão até 90 dias para decidir se rejeitam a denúncia, com arquivamento do processo, ou se a julgam procedente. Neste último caso, o vereador terá o mandato cassado, como estabelece o artigo 9.º do Código de Ética Parlamentar.

Homem armado

Durante confusão após a sessão, homem chegou a sacar uma arma na Câmara. Reprodução/RPCTV

Confusão

Logo após a votação, uma confusão generalizada tomou as galerias da Câmara, onde estavam concentrados simpatizantes do vereador Boca Aberta. Dois ônibus foram contratados para buscar cerca de 100 pessoas, em regiões periféricas da cidade, especialmente na Zona Norte, um importante reduto eleitoral do parlamentar. Nas galerias do plenário, também estava a enfermeira Regina Amâncio, autora da denúncia por estelionato que resultou na Comissão Processante. Ela foi identificada pelos populares, que afirmaram que, em reação, a enfermeira teria lançado spray de pimenta em direção a eles. A isso, seguiu-se uma correria, que não foi contida pela segurança da Casa. No meio do tumulto, um homem, identificado como policial civil, chegou a sacar uma arma de fogo.

As galerias foram evacuadas, e dezenas de pessoas protestaram do lado de fora da Câmara. Viaturas da Polícia Militar e da Guarda Municipal foram acionadas. O SAMU também foi chamado, para atender uma criança que passou mal e que foi carregada nos braços do vereador Boca Aberta.

A direção da Câmara Municipal de Londrina declarou que as imagens divulgadas na mídia e capturadas pelo circuito interno de TV do Legislativo serão analisadas, antes de serem tomadas providências.

Seis meses de mandato marcados por polêmicas

Boca Aberta ganhou fama em Londrina rodando a região com uma bicicleta e um sistema de som acoplado, com os quais criava jingles e discursos denunciando políticos e autoridades, além de se intitular como defensor do povo.

Nos primeiros dias como vereador, em janeiro, Boca Aberta protagonizou a primeira polêmica, no episódio que ele chamou de “blitz da saúde”. Ele visitou duas Unidades de Pronto Atendimento de Londrina pela madrugada para fiscalizar se os profissionais estavam cumprindo expediente. As visitas foram filmadas pelo próprio vereador, que postou o material nas redes sociais. Ele acusou os médicos de formarem uma “máfia branca”, entrou em ambientes com acesso restrito e a Guarda Municipal foi acionada para conter o tumulto.

Já em maio, Boca Aberta se desentendeu em plenário com o vereador e antigo algoz Jamil Janene (PP), durante reunião da Comissão de Justiça. Os dois quase foram às vias de fato, e Boca Aberta teve de ser contido pelos seguranças.

Na semana passada, ele foi retirado da liderança do Partido da República na Câmara, após ler em plenário uma carta de repúdio à possível cassação que ele apresentou como oficial, mas que foi desmentida pelo Diretório Estadual do partido.

Boca Aberta apresentou 18 projetos de Lei, dos quais apenas um, que garante título de utilidade pública a uma entidade missionária, foi aprovado.

Ele afirma que é alvo de “um tapetão, um golpe” armado pelos parlamentares. Questionado sobre a possibilidade de renúncia, para evitar uma cassação e a perda dos direitos políticos, Boca Aberta respondeu com um de seus bordões: “Soldado de Deus, emissário do povo que vai para a guerra e tem medo de morrer é covarde. E se tem uma coisa que na minha vida eu não sou é covarde, eu tenho vergonha na cara. Pelo povo, eu vou para cima, o resto é bijuteria e perfume”.

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