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| Foto: Mauro Calove/Instituto Lula

Jair Bolsonaro venceu as eleições presidenciais, seus aliados conquistaram governos estaduais em diferentes partes do país e o PSL passou de nanico a um gigante dentro do jogo político nacional.

No entanto, as forças contrárias a Bolsonaro saíram vivas da eleição. O PT foi ao segundo turno na disputa presidencial e formou a maior bancada da Câmara. A Rede, apesar do mau desempenho de sua presidenciável Marina Silva, fez cinco senadores. Já o PDT promete manter ativo um discurso contrário a Bolsonaro para que o projeto “Ciro Gomes 2022”, lançado pelo presidente pedetista Carlos Lupi, continue em destaque nos próximos anos.

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Há ainda a possibilidade de que Bolsonaro enfrente contestações das forças de centro e mesmo de integrantes da direita, seguindo a ingrata tradição do “fogo amigo” que atingiu todos os seus antecessores. Afinal, Bolsonaro precisa ter medo da oposição?

Do “Fora Temer” ao “Fora Bolsonaro”

As principais lideranças contrárias a Bolsonaro devem vir das correntes políticas que têm se posicionado no grupo opositor desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Aí se encontram legendas à esquerda como PT, PSOL e PCdoB, e também outras vinculadas à centro-esquerda, como PDT, PSB e Rede.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), anunciou que ao final de janeiro será lançado o “Observatório da Democracia”, projeto capitaneado pelo seu partido e também por PSB, PDT, PCdoB, PSOL e PCB. A instituição terá, segundo a parlamentar, o objetivo de monitorar possíveis violações de direitos humanos por parte do governo Bolsonaro e outras questões controversas do Palácio do Planalto para, assim, municiar a atividade parlamentar dos oposicionistas.

Mas não há consenso entre a esquerda sobre como combater o governo Bolsonaro. A decisão de PDT, PCdoB e PSB de formarem um bloco na Câmara gerou contrariedade, em razão de o grupo não considerar PT e PSOL para o colegiado. Embora a justificativa oficial para a exclusão do PT seja o fato de que o partido de Lula e Dilma já ser muito grande e, portanto, não necessitar de uniões para mostrar força na Câmara, houve também o discurso extraoficial de que a esquerda já não queria mais ser tutelada pelo partido. As críticas de Ciro Gomes e de seu irmão, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), que têm se avolumado desde a eleição, ajudaram a fomentar a contrariedade.

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A meta apresentada pelo bloco, a de fazer “oposição propositiva” ao governo Bolsonaro, também despertou reações. O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, contestou a diretriz: “Não sei que tipo de propostas que eles [integrantes do bloco] podem apresentar que poderiam ser incorporadas por um governo de extrema-direita. Nós não vamos fazer uma oposição propositiva, vamos fazer uma oposição de defesa dos direitos do povo. Não vamos propor nada para o governo Bolsonaro, pelo contrário”. Já um dos deputados mais experientes do PSB, Júlio Delgado (MG), aponta os objetivos do partido: “haverá uma oposição mais raivosa, que vai ser mais ‘contra tudo e contra todos’. Mas a gente vai fazer uma oposição muito clara, e uma oposição muito programática, em cima de pontos que forem apresentados”. Delgado disse ser favorável à reforma da previdência e contrário à expansão das facilidades para acesso às armas, e identificou o posicionamento como exemplo do que considera como “oposição programática”.

Fora da política partidária, o campo sindical também promete se esforçar para trazer dificuldades a Bolsonaro. Oito centrais sindicais - CUT, CSB, CTB,Força Sindical, Nova Central, CSP - Conlutas, Intersindical e CGTB - anunciaram na terça-feira (15) uma pauta de mobilizações contra a reforma da previdência. O grupo agendou para 20 de fevereiro uma plenária “em defesa da Previdência e contra o fim da aposentadoria” e divulgou que greves e paralisações podem ser deflagradas ao longo do ano.

Os partidos contrários a Bolsonaro emplacaram o “Fora Temer” como um dos principais jargões da política nos últimos anos. A frase estampou cartazes, muros e foi tema de manifestações pelo país. Apesar das mobilizações, Michel Temer conseguiu concluir o seu mandato - e sobreviveu à maior crise de sua gestão, a que foi detonada após a divulgação da delação premiada do empresário Joesley Batista. O ex-presidente mobilizou a sua base aliada e fez com que a Câmara dos Deputados rejeitasse, por duas vezes, denúncias contra ele.

E o que esperar do centro?

Além das forças políticas que estão do lado oposto de Bolsonaro desde que ele era apenas mais um deputado da Câmara, o Palácio do Planalto terá que lidar com o chamado “Centrão” para que o mandato do presidente seja bem-sucedido.

No Centrão estão parlamentares que não costumam se identificar nem com a direita e nem com a esquerda. Suas votações são, geralmente, pautadas por interesses particulares ou por conveniências de momento, como a adesão a governantes que desfrutam de alta popularidade. O Centrão deu sustentação ao ex-presidente Lula em seus dois primeiros mandatos e também a Dilma Rousseff em sua primeira gestão - e, quando a rejeição à petista ganhou a sociedade, esses líderes também mudaram de lado, em um movimento decisivo para o impeachment de 2016.

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A deputada Renata Abreu (SP), presidente do Podemos, partido que terá 11 deputados federais a partir de fevereiro, diz que a relação de sua sigla com o governo de Bolsonaro será de “independência”. “Vamos auxiliar o governo em tudo o que for importante para o país. O que a gente entender que é bom, a gente apoia”, disse.

Postura semelhante é a do PRB, segundo o deputado Jhonatan de Jesus (RR), que liderará a bancada do partido a partir de fevereiro. “O PRB vai votar as propostas que levem ao crescimento do país. Se as propostas de governo forem de acordo com o crescimento, o PRB estará apoiando”, afirmou. O deputado relatou que “90% dos deputados” do seu partido esteve ao lado de Bolsonaro, mas que essa adesão não continuará de forma inabalável durante a gestão do presidente.

Novo Congresso repleto de caras (realmente) novas

Além da vitória de Bolsonaro, a eleição de 2018 marcou a ascensão de um grupo de políticos que não pertence ao habitual cenário de Brasília. Principalmente no PSL, o partido do presidente da República, cuja bancada a partir de fevereiro será formada majoritariamente por estreantes em cargos eletivos.

O novo quadro faz com que o Congresso passe a ter, na opinião do deputado Júlio Delgado, um cenário em que os deputados atuarão de forma mais individual. “Esses novos deputados têm uma tendência a atuarem muito mais de acordo com os discursos que os elegeram do que com determinações de líderes. Isso representará uma nova etapa para o parlamento, o que trará também consequências na relação entre o Congresso e o governo”, disse.

E se o opositor estiver em casa, ou seja, no PSL?

O próprio PSL tem proporcionado episódios de falta de sintonia. A disputa pela liderança da bancada do partido rendeu vazamentos de mensagens à imprensa e trocas de ofensas públicas entre medalhões da legenda, como os deputados eleitos Joice Hasselmann (SP) e Eduardo Bolsonaro (SP) e o senador eleito Major Olímpio (SP). Mais recentemente, a descoberta das movimentações financeiras controversas por parte do motorista Fabrício Queiroz, ex-auxiliar do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), também causaram fissuras no bolsonarismo.

O Movimento Brasil Livre, força política de direita que apoiou Bolsonaro na corrida presidencial, tem pedido esclarecimentos sobre o caso. E a deputada estadual eleita Janaína Paschoal (PSL-SP) disse nesta quinta-feira (17) que discordou da decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), de interromper as investigações no caso Queiroz. São possíveis focos de divergência entre seus apoiadores que Bolsonaro precisará administrar.

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