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 | Foto: Elza Fiúza/ABr
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Nestas eleições, algo é certo: o bordão “chega dos mesmos” não vai ser aplicado – pelo menos no que se refere à ocupação dos candidatos. Em 2018, 28% das 24.597 solicitações de candidaturas à Justiça Eleitoral pertencem a uma das quatro seguintes profissões: empresários (2.491), advogados (1.556), servidores públicos (1.465) e professores (1.384).

A porcentagem é praticamente a mesma das últimas eleições nacionais. Em 2014, 29% das 26.642 candidaturas a um dos cargos eram desse “quarteto profissional”. “São ocupações com características comuns, como prestígio social e flexibilidade de carreira”, comenta Bruno Bolognesi, professor doutor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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O número poderia ser ainda maior, já que esse registro refere-se apenas àqueles que se identificaram como servidores municipais, estaduais ou federais – sem contar outras carreiras públicas como os militares. Já os professores são do ensino fundamental, médio ou superior.

Além disso, dos quase 25 mil registros em 2018, 49,55% são de pessoas com ensino superior completo. Em 2014, eram 45,28%.

Licença para campanha

Determinadas profissões têm quase incentivos legais para a candidatura. Servidores públicos, por exemplo, são obrigados a se afastar por até três meses antes do pleito, na maioria das vezes sem prejuízo no salário, conforme a Lei 64/1990. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou uma lista de compatibilidade por cargo e tempo de afastamento necessário para disputar as eleições.

“Muitos professores se enquadram nessa regra. É uma licença para que o funcionário público fique impedido de fazer uso da máquina pública na campanha. Esse é o motivo”, explica Bolognesi, que é especialista em pesquisas sobre partidos, organização partidária e seleção de candidatos.

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A polêmica fica por conta daqueles que podem utilizar a candidatura como “desculpa” para não trabalhar. Essa é uma questão difícil de provar, segundo o especialista. “Existem sim candidatos fantasmas que entram, muitas vezes, para preencher cota de gênero, rachar voto da mesma base eleitoral, manter o nome do partido em determinado pleito”, exemplifica.

O fundo partidário e o empresariado

Outro fator de influência é a capacidade financeira. Campeões em candidaturas neste ano, os empresários ampliaram as próprias chances de serem eleitos desde que o Supremo proibiu doações de empresas para campanhas políticas. Há ainda a questão do fundo eleitoral, que acaba privilegiando políticos conhecidos.

“Quando o STF proibiu, eu sustentei com colegas que iriam se eleger os que têm muito dinheiro. Eles são cada vez mais estimulados a se lançarem. E como o fundo eleitoral deve patrocinar quase inteiramente as [candidaturas] majoritárias, o fundo eleitoral [posteriormente distribuído por partidos] vai para quem já tem cadeiras ou chances reais de se eleger”, explica o professor da UFPR.

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Para o especialista, “o fundo está a léguas de distância de ser uma proposta que renove a classe política, muito pelo contrário: estimula a manutenção do estado e dessas profissões, porque são esses que conseguem se eleger”.

Poder de influência

Outra profissão que “sai na frente” em uma corrida eleitoral é a carreira jurídica, que vai além do mero conhecimento da legislação.

“Advogados podem até não ter uma profissão exatamente estável, mas geralmente fornece uma estabilidade para trabalhar com menos afinco em um período [eleitoral] do que um office boy. Essa flexibilidade de mudar compromissos não tem o mesmo prejuízo que um metalúrgico ou secretária, por exemplo, ou outras profissões de ensino superior com algum prestígio social”, diz Bolognesi.

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Neste sentido, o professor destaca outras ocupações que são obrigadas a se licenciar, como radialistas e comunicadores, que precisaram “largar os microfones” dia 29 de junho.

Os próprios políticos

Por fim, há ainda os próprios políticos. Deputados e vereadores estão entre as sete ocupações que dominam as candidaturas, atrás somente de empresários, advogados, servidores públicos e professores (veja o gráfico abaixo).

Mas, na opinião de Bolognesi, deputados saem nitidamente em vantagem nesta eleição quando comparados aos vereadores. “Ser vereador só funciona [para conseguir uma cadeira como deputado] se for alguém muito conhecido em uma cidade grande. É muito mais fácil ser primeiro prefeito para depois deputado.”

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