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Senadora, líder do PT no Senado, foi eleita para presidir o partido pelos próximos dois anos. | EVARISTO SAAFP
Senadora, líder do PT no Senado, foi eleita para presidir o partido pelos próximos dois anos.| Foto: EVARISTO SAAFP

A líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann, vai presidir o partido pelos próximos dois anos e pouca mudança deve ser vista na condução da sigla. Isto porque a senadora já faz parte do grupo majoritário que governava a sigla. Ré na Lava Jato, a senadora deve continuar a tendência da legenda se colocar como vítima de perseguição política após a deflagração da operação da Polícia Federal. Gleisi deve renovar o discurso petista por ser mulher e ser mais próxima da população, que seu antecessor, Rui Falcão. E ela deve continuar garantindo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva grande poder influência sobre as decisões do partido, pois são muito próximos. Esta é a análise de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. 

“Não enxergo nenhuma mudança. O PT ainda tem dificuldade de fazer a autocrítica. Ainda é um partido mais voltado a se colocar como vítima. Ainda se coloca apenas como um partido que precisa resgatar o país do que chamou de golpe”, avalia o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

Couto reconhece que o fato de uma mulher chefiar o partido é um ato “simbolicamente relevante” da sigla. O professor também diz acreditar que um ponto positivo é o fato de Gleisi se apresentar como um perfil mais flexível ao diálogo do que seu antecessor. “Rui Falcão era alguém de seguidas mostras de incapacidade de autocrítica”, opina o cientista político. 

“O PT muda porque ela é uma pessoa totalmente diferente do Rui Falcão. Ela tem uma dinâmica diferente, tem um gás novo. Uma disposição nova. É uma pessoa que tem uma relação mais próxima com as pessoas e com os petistas. Por ter mais exposição, ela se comunica melhor. O fato de ser mulher também dá uma cara nova para o PT”, defende o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP).

O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), também afirma que nada mudará na direção do PT, já que Gleisi integra o Construindo Novo Brasil (CNB), grupo majoritário, que já estava no comando nas mãos de Falcão. 

Para o professor da UnB, Gleisi é uma “pessoa facilmente manobrável por Lula”, diferente de Rui Falcão que, na avaliação de Fleischer, era um quadro antigo, ideológico e com ideias independentes. 

Zarattini rebate essa tese de que Lula dominaria o partido por meio de Gleisi. “Um líder como Lula tem influência sobre o partido e sempre teve, seja quem for o presidente. Não acho que ela seja manipulável, essa hipótese não existe.” 

Ao analisar o PT, Fleischer traça um prognóstico ainda pior. Para ele, o partido “vai perder feio nas eleições do ano que vem. A situação do PT é preocupante”. O professor da UnB explica que um bom medidor sobre como o partido conquistará mais cadeiras na Câmara dos Deputados é observar seu desempenho inferior nas eleições municipais. Ele não vê possibilidades de melhora nesse cenário apenas com a mudança no comando da sigla.

“Em 2016, o PT elegeu menos da metade do número de prefeitos de 2012. Ano que vem deve eleger cerca de 30 deputados”. Hoje, a bancada petista tem 58 parlamentares. “O PT tem de tentar se recuperar. Desse jeito, não vai eleger mais governadores e senadores. O ideal era que fosse alguém ficha limpa. O PT ainda tem petistas ficha limpa”, comenta o acadêmico ao mencionar que Gleisi responde a processos na Lava Jato. 

Sem autocrítica

Recém-eleita, Gleisi já declarou que o partido não vai fazer autocrítica porque não quer fortalecer o discurso de seus adversários. O PT sofre cobranças para reconhecer supostos erros, inclusive pelo envolvimento em escândalos de corrupção. 

“Não somos organização religiosa, não fazemos profissão de culpa, tampouco nos açoitamos. Não vamos ficar enumerando os erros que achamos para que a burguesia e a direita explorem nossa imagem”, discursou Gleisi no congresso petista em que foi eleita. Ela, no entanto, reconheceu que o partido se afastou dos movimentos sociais enquanto estava no comando do governo federal: “É certo que ficamos com relação mais institucional do que política”.

Gleisi conquistou a presidência do PT com 60% dos votos dos delegados no congresso petista concluído no domingo (4), contra 38% do senador Lindbergh Farias (RJ), seu principal concorrente. A senadora foi ministra do governo Dilma Rousseff e virou ré na Operação Lava Jato por suspeita de ter recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras.

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