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“O Fernando Segóvia é um homem de time.” A definição do perito Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, sobre o novo diretor-geral da Polícia Federal pode ser amplificada nos sentidos ou mesmo levada ao pé da letra. O delegado é o centroavante do time dos veteranos da PF e nas peladas dos finais de semana veste a mesma camisa que os jogadores peritos, papiloscopistas, escrivães e agentes.

Fora do campo Segóvia é considerado de perfil agregador, adjetivo comum usado pelos policiais ouvidos pela reportagem. Ele frequenta os eventos das diferentes associações e cultiva amizades também fora do círculo dos delegados. “Ele é muito participativo, é simples, se relaciona facilmente com todas as categorias”, diz Sandro Avelar, presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia (Fenadepol).

Segóvia vai assumir a entidade num momento de animosidade entre delegados e os funcionários das outras carreiras da Polícia Federal. Nos últimos anos não foram raros os protestos em que agentes colocavam pianos de papelão e isopor em frente às delegacias para passar o recado de que carregavam o instrumento para que os delegados tocassem, mas não eram valorizados por isso.

O conflito ganhou evidência nas recentes trocas de farpas entre dirigentes da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) e da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que agrupa os interesses de todas as carreiras da PF. A pauta das entidades é sempre oposta.

Quando a ADPF reclamou o direito de participar das negociações das delações premiadas, a Fenapef apressou-se a lançar uma nota em sentido contrário. Atualmente, enquanto a associação quer a aprovação da PEC 412, que prega a autonomia da Polícia Federal, a federação luta para que ela seja rejeitada, com argumento de que traria insegurança à carreira do policial federal.

No ano passado, a ADPF fez uma consulta interna que resultou numa lista tríplice para o cargo de diretor-geral. O documento com o nome dos mais votados foi entregue ao presidente Michel Temer. Nele não constava o nome de Segóvia. Os outros sindicatos de policiais federais protestaram e não reconheceram o resultado.

No mês passado as cinco entidades que representam as outras carreiras da Polícia Federal apoiaram uma outra lista tríplice onde constavam os nomes dos delegados Rogério Galloro, Luiz Pontel de Souza e Fernando Segóvia.

“O Ministro da Justiça viu o nome do policial federal escolhido pelo governo ser apoiado publicamente por várias entidades da PF. Isso trouxe conforto à escolha e, em paralelo, minou a tentativa da associação de delegados de impor um nome escolhido apenas por seus pares, que somam menos de 10% do efetivo da polícia”, afirmou Luiz Antônio Boudens, presidente da Fenapef. “Temos um bom sentimento em relação a ele. O Segóvia pode ajudar a apaziguar as categorias”, diz Marcos Camargo.

Leia também: Escolha de novo diretor-geral ignora delegada da Lava Jato preferida pela PF

Não é só aos policiais que Segóvia agrada. Ultimamente ele vinha angariando simpatia em vários gabinetes do Congresso. Como comandou a Superintendência da Polícia Federal no Maranhão, seus pares o associam ao ex-presidente José Sarney (PMDB-MA). Ele também tem a simpatia da maçonaria, segundo um grupo de delegados.

O nome de Segóvia já vem circulando há pelo menos quatro anos como substituto do diretor Leandro Daiello. A troca de governo e a desconfiança de que uma mudança fosse refletir na Lava Jato, porém, fizeram essa nomeação se arrastar. “Os policiais federais foram pegos de surpresa com a mudança. Embora a categoria mantenha as críticas da reserva de mercado da direção do órgão para os delegados federais, a escolha de Segóvia é adequada”, disse Flávio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (Sindipol-DF).

Sem ”legitimidade”

O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, foi procurado pela reportagem para comentar a nomeação de Segóvia para a direção da Polícia Federal, mas não retornou as mensagens. Segundo a delegada Tânia Prado, a entidade vai se posicionar nesta quinta-feira (9), durante o Simpósio Nacional de Combate à Corrupção, em São Paulo.

Na véspera desse anúncio, em nota oficial, a ADPF afirmou não reconhecer a “legitimidade” da lista tríplice que estava sendo considerada pelo governo e da qual o nome de Segóvia foi extraída. “Os delegados da Polícia Federal, representados pela ADPF, tornam público que não reconhecem a legitimidade desta suposta Lista Tríplice uma vez que a Lista Tríplice oficial, votada e aprovada por mais de 1.300 Delegados, consta com os nomes de Erika Marena, Rodrigo Teixeira e Marcelo Freitas, todos Delegados de Polícia Federal de Classe Especial que receberam os votos de confiança de seus pares para dirigir a Instituição Polícia Federal. A Lista Tríplice oficial já foi encaminhada à Presidência da República em meados de 2016.”

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