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 | Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Os trabalhadores da Petrobras iniciaram nesta quarta-feira (30) uma greve de 72 horas, apesar de decisão judicial contrária. Pegando carona na greve dos caminhoneiros, o ato é considerado uma “advertência” ao presidente da empresa, Pedro Parente. Mas o momento do país, ainda sob efeitos da greve nas estadas, não poderia ser pior para os petroleiros. Para a população, a paralisação deve ter pouco ou nenhum reflexo.

Com a greve dos caminhoneiros, os reservatórios das distribuidoras estão cheios. O próprio movimento grevista admite que não deve ocorrer desabastecimento com a paralisação de 72 horas. O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Range, afirmou que os tanques das refinarias estão ”abarrotados de derivados de petróleo”, em função dos protestos dos caminhoneiros e que não deve faltar combustível.

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Outra medida que pode enfraquecer ainda mais a greve foi anunciada ontem pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Para acelerar a normalização da distribuição de combustíveis pós-greve dos caminhoneiros, o órgão autorizou que as três maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil compartilhem bases e equipamentos durante 15 dias. Ou seja, nesse período, caminhões da Ipiranga Produtos de Petróleo e da Raízen Combustíveis (que representa a Shell) poderão acessar refinarias da Petrobras e levar combustíveis para os postos. Mesmo se os distribuidores da Petrobras resolverem parar, outros poderão escoar a reserva de combustíveis para as cidades.

Há ainda outro ponto que enfraquece o risco de a greve afetar substancialmente a rotina do brasileiro – já alterada pela greve dos caminhoneiros. A demanda de combustíveis no Brasil vem sendo suprida parcialmente por importações e está em baixa, segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME). No caso da gasolina, o consumo aparente (inclui importados) médio anual recuou 0,7% quando comparado o período de 12 meses até março de 2018 com o mesmo período anterior.

Houve um aumento de 7,2% na importação e redução de 2,9% na produção. Nos últimos 12 meses, as importações responderam por 15,5% do consumo nacional de gasolina. No caso do diesel, houve um acréscimo de 49,5% na importação e uma queda de 8,4% na produção. Nos últimos 12 meses, as importações responderam por 26,3% do consumo interno de diesel.

Greve tem pouca adesão nas plataformas de petróleo

Segundo a Petrobras, “foram registradas paralisações pontuais em algumas unidades operacionais”. A companhia diz que equipes de contingência estão atuando onde necessário e que não há impacto na produção.

A greve se concentra nas refinarias da Petrobras, com pouca adesão nas plataformas de petróleo. Segundo a FUP, na madrugada de quarta-feira os trabalhadores não entraram para trabalhar nas refinarias de Manaus (Reman), Abreu e Lima (Pernambuco), Regap (Minas Gerais), Duque de Caxias (Reduc), Paulínia (Replan), Capuava (Recap), Araucária (Repar), Refap (RS), além da Fábrica de Lubrificantes do Ceará (Lubnor), da Araucária Nitrogenados (Fafen-PR) e da unidade de xisto do Paraná (SIX). São 16 as refinarias em operação no país.

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Também não houve troca dos turnos da zero hora nos terminais de Suape (PE) e de Paranaguá (PR). A FUP ainda divulgou no começo da paralisação que na Bacia de Campos (onde estão as plataformas de exploração petrolífera) “as informações iniciais eram de que os trabalhadores também aderiram à greve”, sem detalhar em quais plataformas e quantidade de adesões.

Para angariar apoio da população, os petroleiros assumiram como pautas do movimento a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Mas os petroleiros querem chamar atenção para a política de preços e privatizações empreendida na Petrobras, que estaria substituindo parte substancial da produção de refinados no Brasil por importados, e pedem a demissão de Pedro Parente.

A pauta do movimento, que usa o mote “Fora Parente”, pede a “manutenção dos empregos e retomada da produção das refinarias a plena carga; fim das importações de derivados de petróleo; e não às privatizações e ao desmonte do Sistema Petrobrás”.

Governo diz que não vai rever política de preços

Em nota, o Planalto avisou que o governo “tem compromisso com a saúde financeira da Petrobras, empresa que foi recuperada de grave crise nos últimos dois anos pela gestão Pedro Parente”, e que as medidas anunciadas pelo governo para garantir a redução e a previsibilidade do preço do óleo diesel “preservaram, como continuaremos a preservar, a política de preços da Petrobras”.

Federação é ligada à CUT

Na manhã desta quarta, em manifestações nas refinarias promovidas pelos sindicatos, os trabalhadores ostentam bandeiras com os dizeres “Lula Livre”. A FUP é ligada à CUT. Nas falas de militantes grevistas no começo da manifestação na manhã de hoje, há pedidos por controle de preços no Brasil, não só entre os combustíveis. “Se deixar na mão do livre mercado a batata vai custar R$ 15 o quilo”, afirmou um dos militantes em manifestação do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (MG).

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As refinarias brasileiras operam atualmente utilizando 68,1% de sua capacidade instalada. Em 2014, esse nível chegou a ser de 95%. A Petrobras, sob a gestão de Parente, abriu o mercado e permitiu que a empresa focasse na produção e exploração de petróleo, reduzindo participação e até mesmo saindo de atividades como distribuição, transporte e refino. Ao menos quatro refinarias estão em processo inicial de privatização e outras duas já foram vendidas na gestão Temer.

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