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Candidatos devem adequar estratégia | Kelly Fuzaro/Band
Candidatos devem adequar estratégia| Foto: Kelly Fuzaro/Band

O ataque contra o deputado Jair Bolsonaro (PSL) impactou a estratégia de campanha de todos os candidatos à Presidência — inclusive a do próprio capitão da reserva. A comoção pública favorável ao militar preocupa comitês que apostavam em tecer críticas pesadas contra ele, que já suavizam as críticas — em especial Geraldo Alckmin (PSDB). No lado do PSL, a tendência é enquadrar o deputado como vítima da intolerância, e que seus aliados mais próximos assumam a campanha de rua, em especial seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), e seu filho Flavio Bolsonaro (PSL), candidato ao Senado. Há disputa política, no entanto, sobre qual vai ser o tom da campanha daqui para frente.

Entre os adversários, a tendência é suavizar. Geraldo Alckmin (PSDB) retirou do ar anúncios em que subia o tom nas críticas ao candidato do PSL e, no sábado, veiculou mensagem de apoio a Bolsonaro em seu programa eleitoral.

A avaliação geral é de que ataques ao capitão reformado neste momento de debilidade podem ser mal recebidos pelo eleitorado. Os partidos farão pesquisas qualitativas, com grupos de eleitores, para aferir o impacto do atentado na disputa presidencial.

Marina Silva (Rede) aproveitou o momento para conclamar pela paz. A candidata colocou o ataque contra Bolsonaro ao lado de outras ações violentas ligadas à política — o ataque a tiros à caravana de Lula (PT) e o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol).

A campanha de Fernando Haddad (PT) adota tom ameno em relação a Bolsonaro. Os petistas, neste momento, devem focar em uma possível transferência de votos de Lula para Haddad. A expectativa é de que o futuro da campanha seja definido este ano.

Confira a adequação de estratégia dos candidatos à presidência após o ataque sofrido por Jair Bolsonaro:

Jair Bolsonaro (PSL)

A campanha do próprio Bolsonaro é a mais afetada com o ataque contra o candidato, inclusive porque sua recuperação clínica implica na impossibilidade de manter a campanha na rua. A campanha deve se dividir em um núcleo virtual (protagonizado pelo próprio candidato) e outro de campanha de rua (tarefa que deve caber a seus aliados). Em paralelo, a cúpula bolsonarista discute qual deve ser o tom do discurso neste momento.

Menos de 24 horas depois de ter sofrido o atentado, Bolsonaro utilizou o Twitter para escrever uma primeira mensagem para seus seguidores. Outros assumirão a dianteira nos atos de rua. Já foram escalados para a função dois de seus filhos, o candidato ao Senado Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disputa reeleição. O vice da chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), também deve assumir algumas das agendas.

A escolha de um único representante ou de múltiplos deve enfrentar nova disputa interna de poder. O PRTB se apressou em soltar uma nota na tarde de sexta (7) para dizer que a tendência era que Mourão assumisse os compromissos de Bolsonaro. Ao pousar no Rio, o vice amenizou o tom e disse que ainda teria conversas em São Paulo e em Brasília.

Uma ala de apoiadores formada por militares defende que Mourão assuma alguns dos compromissos do candidato. Esse grupo pode sofrer resistência de um núcleo mais político, ligado ao presidente do PSL, Gustavo Bebianno, que vinha comandando as ações de campanha.

Flavio Bolsonaro deve se encontrar com o pai na noite deste sábado (8) para definir novas linhas de campanha.

Geraldo Alckmin (PSDB)

A campanha correu para tirar do ar inserções da propaganda política que criticavam o candidato Jair Bolsonaro (PSL). Neste sábado (8), inclusive, o ex-governador paulista pediu a recuperação do adversário. “Estamos juntos em orações”, declarou.

Nas últimas semanas o tucano subiu o tom de críticas contra Bolsonaro, numa tentativa de fazer sua campanha decolar. Apesar de ter amarrado a aliança política mais ampla das eleições, Geraldo amarga um quarto lugar nas pesquisas eleitorais. Mas o tom precisou ser amenizado no momento de comoção.

A expectativa na campanha tucana é de que Bolsonaro cresça nas pesquisas da próxima semana, mas não o suficiente para garanti-lo como nome certo no segundo turno da disputa. Os tucanos também estão de olho na possível oficialização de Fernando Haddad como candidato do PT, o que também deve trazer novidades para o jogo político.

Marina Silva (Rede)

A equipe de Marina Silva aposta em marcar uma posição pacifista diante do radicalismo da eleição. O ato foi em critica ao armamento civil. A ideia é interromper as críticas a Jair Bolsonaro, culpar a polarização política pela violência e apenas reagir a manifestações polêmicas que o candidato venha a fazer mesmo internado.

Marina participou de uma passeata “pela paz”, na manhã deste sábado (8), na rua 25 de Março, em São Paulo. Seu primeiro compromisso público desde a facada contra Bolsonaro. Ela rechaçou a violência física das eleições, citando também o ataque a tiros contra um ônibus da caravana do ex-presidente Lula e o assassinato de Marielle Franco, e o que chamou de “violência política”, lembrando as eleições de 2014, quando sua campanha sofreu duras críticas, em especial da equipe de Dilma Rousseff.

“Essas eleições nos dão a possibilidade de por um ponto final na polarização, no ódio e na violência”, declarou. Marina também evitou cravar Bolsonaro como presença certa no 2.º turno, já que a eleição está cheia de “imprevisibilidades”.

Fernando Haddad (PT)

Para analistas, o fato de Fernando Haddad não ter apostado em um antagonismo com Bolsonaro pode trazer benefícios para a campanha petista, na avaliação de especialistas. O comportamento do candidato (por ora a vice) confirma a expectativa. Questionado se iria mudar de estratégia após o ataque contra o adversário, Haddad disse a jornalistas que “meu discurso não vai mudar por uma circunstância”.

Haddad pondou, ainda, que a campanha petista não tinha como foco os ataques a Bolsonaro. A tendência petista é se concentrar em garantir a transferência de votos de Lula, cuja candidatura foi barrada pelo TSE, para seu herdeiro político.

A expectativa é de que Haddad seja oficializado como candidato petista ainda esta semana. Ele deve se encontrar com Lula em Curitiba nesta segunda-feira (10). No sábado, ao ser questionado por uma moradora de Vargem Grande, na periferia paulista, se assumirá a vaga de Lula como cabeça de chapa, Haddad respondeu “provavelmente”.

Ciro Gomes (PDT)

Assim como Marina, Ciro não interrompeu a agenda e seguiu périplo pelo Nordeste, na tentativa de herdar os votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impedido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de disputar a eleição.

Ao menos no curto prazo, o ex-governador do Ceará irá cessar os ataques a Bolsonaro, a quem já comparou ao ditador alemão Adolf Hitler, e adotará um discurso de que violência gera mais violência, referindo-se sutilmente às práticas do adversário.

“Repudio a violência como linguagem política e solidarizo-me com meu opositor”, disse Ciro Gomes em rede social após o ataque a Bolsonaro.

Henrique Meirelles (PMDB)

Henrique Meirelles, candidato pelo MDB, também tem provocado Bolsonaro nas inserções a que tem direito de veicular no rádio e na TV. Mas, diferentemente da estratégia tucana, o emedebista tem atacado não o discurso violento do deputado, mas seu suposto desconhecimento sobre temas de economia. Com a agressão sofrida ontem por Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora, a expectativa é que tanto Alckmin quanto Meirelles possam repensar suas ações.

Guilherme Boulos (Psol)

O candidato Guilherme Boulos (Psol)também se solidarizou com o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Relembrando o assassinato de Marielle Franco (Psol), do seu partido, Boulos disse ser contrário a todo tipo de violência política, “de todos os lados, não só quando é contra nós”.

O candidato também rechaçou a postura de parte da esquerda de supor que Bolsonaro teria forjado um ataque contra si próprio. Declarou, ainda, que sua campanha não deve ser “pautada pelo ódio”.

Sobre o fato do autor do atentado, Adelio Bispo de Oliveira, ter sido filiado ao Psol, Boulos disse que “isso é página virada”.

Cabo Daciolo

O presidenciável Cabo Daciolo (Patriota) decidiu entrar em novo jejum, como desagravo à “nação e a Jair Bolsonaro”, segundo nota enviada por sua esposa, Cristiane. “Nesse período estarei nos montes, em razão da natureza singular da causa. Agradeço a compreensão da imprensa e voltaremos a conceder entrevistas e entrar nos debates a partir do término dos 21 dias de jejum e oração pela nossa nação e por Jair Bolsonaro, a quem desejo pronta recuperação, lembrando mais uma vez que a nossa luta não é contra pessoas, mas contra potestades.”

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