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| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Partidos de oposição ao governo Jair Bolsonaro estão articulando blocos independentes para isolar o PT tanto na Câmara quanto no Senado. A pretensão dos petistas de liderar a oposição vem causando desconforto em outras siglas de centro-esquerda. Nos últimos dois dias, líderes do PSB, PDT e PC do B se reuniram para discutir a atuação na Câmara sem a legenda de Lula. “Não seremos um puxadinho do PT”, afirmou o líder do PDT, André Figueiredo (CE). “O PT tem um modus operandi próprio dele, que nós respeitamos”, disse. Juntos, os três partidos têm 69 deputados.

“Em momentos de embates aqui nós provavelmente estaremos juntos, mas o que nós não podemos aceitar de forma alguma é o hegemonismo que o partido quer impor.” O PSOL também não foi convidado para a reunião. “Nós temos um outro modelo de oposição que seja construtivo para o Brasil”, disse Figueiredo.

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De acordo com o líder do PDT, o bloco não deve “obstruir por obstruir”. “Podemos até obstruir alguns projetos que não tenham nenhuma condição de serem discutidos, mas onde pudermos discutir vamos discutir”, disse. “Estamos discutindo um procedimento de ações dentro do Congresso tanto na atual legislatura tanto com as futuras bancadas para termos um modelo de oposição que seja propositiva dentro do cenário que nós vamos encontrar”, afirmou.

O líder do PCdoB, deputado Orlando Silva (SP), classificou o PT como um partido importantíssimo e disse que o grupo terá “muitas pontes” com o partido. “Pretendemos aqui fazer uma oposição firme a Bolsonaro. O Brasil precisa ter alternativas para sair dessa crise”, disse.

No Senado, o movimento para escantear o PT tem sido articulado pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro Gomes, e pelo senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A ideia é formar uma “bancada” de oposição com Rede, PDT, PSB, PPS e PSB.

Juntos esses partidos terão ao menos 13 senadores – um número de parlamentares maior do que o próprio MDB, o maior partido da Casa, com 12 senadores a partir da próxima legislatura.

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Além disso, a ideia do grupo é se diferenciar do PT, que teria uma bancada menor, de seis senadores a partir de 2019. O cálculo leva em conta os cincos senadores eleitos pela Rede, os quatro do PDT, e mais quatro de PSB e PPS, que contam com dois parlamentares cada. Há ainda a possibilidade de o bloco ganhar um 14º integrante, caso o senador Reguffe (sem partido-DF) aceite convite para atuar em conjunto.

Chega de ‘quanto pior, melhor’

A intenção dos partidos ao articular um bloco é se diferenciar dos petistas na oposição a Bolsonaro, como estratégia para quebrar a hegemonia que o PT sempre teve no campo progressista. A ideia vai ao encontro do discurso que o pedetista Ciro Gomes tem adotado desde que ficou em terceiro na disputa presidencial.

Cid e Randolfe se reuniram nesta quarta-feira (31), no Senado, para discutir os detalhes da formação do grupo. Durante o encontro, o pedetista brincou ao dizer que Randolfe é o “mestre” e ele, o “aprendiz”. Uma das possibilidades é de que o senador da Rede seja o líder da bancada. Para Cid, os partidos terão conduta de um “bloco progressista”, mas sem apostar no “quanto pior, melhor”, em crítica indireta ao PT.

Randolfe exaltou a união nas redes sociais. “Oposição responsável e unida pelo Brasil e pelos trabalhadores! Muito obrigado pela visita, amigo. Que nos próximos anos possamos buscar juntos o melhor para o nosso povo”, escreveu ao publicar foto da reunião.

Ciro Gomes encabeça movimento

Terceiro colocado na disputa presidencial, Ciro Gomes é um dos articuladores dos blocos independentes no Congresso Nacional. Pelos cálculos dele, o governo Jair Bolsonaro deve contar com o apoio de cerca de 175 deputados federais da próxima legislatura. O campo oposicionista formado por partidos de esquerda soma em torno de 90. A estratégia é tentar elevar o último número para pelo menos 120.

“O objetivo é ampliar a centro-esquerda. Eu imagino que o PSDB não vai querer se associar ao PT e, pelo menos a parte mais sadia da sigla, não vai querer se associar ao Bolsonaro. E por antipetismo vamos ficar longe deles”, disse Ciro.

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O pedetista não exclui a participação de petistas no movimento, mas critica a formação de uma frente de esquerda articulada pelo partido. Segundo ele, ela seria uma “mentira da burocracia petista” para enganar “abestados”. “Francamente, não excluo o PT. Apenas não podemos permitir que o PT venha exercitar a sua fraude em cima desse momento tão crítico do país”, disse.

Para ele, além de fazer oposição ao governo, a ideia é que o movimento de centro-esquerda funcione como uma “guarda da institucionalidade democrática”, protegendo o interesse nacional e e o direitos das classes mais pobres.

A ideia é que, na próxima semana, Ciro visite Brasília para intensificar conversas para a formação do movimento. Os partidos do chamado centrão, como PP e PSD, também devem ser procurados.

Petistas fazem vista grossa

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) evitou criticar a formação do bloco, mas ironizou o viés ideológico da bancada. “É um movimento mais de centro. A gente é de esquerda”, disse.

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, também minimizou o isolamento do partido, mas seguiu o mesmo tom de Lindbergh. “Nós não temos problema de autoestima, somos de esquerda. Nós vamos fazer resistência. E nos momentos que pudermos estar juntos, vamos estar”, afirmou ela, que será deputada federal na próxima legislatura.

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